Carreira

Juros baixos complicaram a vida do investidor. O que fazer?

Com os juros mais baixos e as novas regras da poupança, o investidor terá de se tornar um empreendedor do próprio dinheiro e correr mais riscos mesmo em aplicações conservadoras

Ilustração - Finanças pessoais (Fernando Volken Togni/EXAME.com)

Ilustração - Finanças pessoais (Fernando Volken Togni/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de março de 2013 às 13h49.

São Paulo - A receita de dinheiro fácil com investimentos seguros e certos não existe mais. Como o custo do dinheiro no Brasil está mais barato, você paga menos para comprar crédito, mas também recebe menos ao investir sua grana.

Se você quiser manter a rentabilidade de suas aplicações no nível similar ao que mantinha antes dos cortes expressivos nas taxas de juros — ocorridos nos últimos meses —, terá de mudar de hábito e conhecer melhor o mercado, tomar decisões mais estratégicas e, principalmente, assumir mais risco.

O fermento tradicional — a taxa de juros básicos, a Selic — que multiplicava a massa de seu bolo financeiro não tem mais o mesmo poder, e será preciso buscar alternativas e novas fórmulas para chegar a bons resultados. Com os juros a 8,5% ao ano, os investimentos não serão mais os mesmos, principalmente os atrelados à Selic, o que ocorre com a maioria das aplicações em renda fixa.

Nada aconteceu de repente. Na década de 1990, em um prazo de cinco anos era possível conseguir 20 000 reais a partir de uma aplicação de 10 000 reais, usando apenas os juros básicos, como em fundos de investimentos de renda fixa, pois seu poder multiplicador era de 14,86% ao ano. Na década seguinte, já era necessário aguardar 11 anos para conseguir o mesmo bolo, pois a Selic real (descontada a inflação) passou para 6,76% ao ano. 

Hoje, para a sua receita chegar ao mesmo resultado, seria preciso um prazo de 19 anos, se o fermento utilizado continuar a ser apenas os juros básicos, de acordo com Mauro Calil, consultor e professor de finanças pessoais do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio. Isso porque o poder multiplicador da Selic é de 3,76% ao ano — e deve continuar caindo.

Como os investimentos em ações andam assustando o investidor, devido à gangorra da bolsa, os mais conservadores devem buscar ativos menos voláteis, porém com algum risco, para embutir em sua aplicação. Veja a seguir o que muda no perfil do investidor e como você poderá ganhar mesmo com os juros baixos.

Investidor empreendedor

O efeito colateral da queda dos juros na economia é que o fermento ficou mais fraco no lado dos investimentos também. A mesma Selic que baliza os juros do crediário é a que dá referência para o cálculo da rentabilidade de boa parte dos investimentos em renda fixa. Com os juros mais baixos, aplicações tradicionais como os famosos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) têm a valorização reduzida.

Ao chegar aos 8% ao ano (aposta da maioria dos especialistas para o fim de 2012), esses investimentos perdem o apelo. Os impostos pagos ao governo e as taxas de administração cobradas pelos bancos reduzem os ganhos da aplicação a algo inferior aos da poupança. A saída foi mudar a remuneração da caderneta, que passa a render só 70% da Selic quando esta estiver em 8,5% ou menos.

Exatamente por isso, quem quiser manter a rentabilidade de suas aplicações vai ter de conhecer mais profundamente os produtos financeiros e, principalmente, aprender a investir com diversos prazos e objetivos em vista.

“Esse investidor não vai mais poder ficar repousado em berço esplêndido com a generosidade do governo remunerando seus investimentos”, afirma Stephen Kanitz, mestre em administração de empresas pela Universidade Harvard. “Todo investidor terá de se tornar um empreendedor (do próprio dinheiro).” 

Mudança de perfil e prazo serão fundamentais

Desde 2008, com a crise financeira internacional, Cláudia Lopes, consultora certificada pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF), tem visto um aumento do interesse pelos assuntos relacionados aos investimentos e acredita que, em dez anos, o brasileiro terá um outro perfil de investidor. “A escolha passará por perfil, prazo de resgate e capacidade de exposição a risco”, diz Cláudia.


Um dos pontos fundamentais é o prazo previsto de resgate. Isso porque no longo prazo é possível se beneficiar da redução tributária. A partir de dois anos, o Imposto de Renda (IR) de boa parte dos investimentos cai de 22,5% para 15% sobre os rendimentos da aplicação. Pensar no objetivo de seus recursos é mais importante do que nunca. 

Poupança vale para prazos curtos

A tradicional caderneta de poupança ainda é válida, principalmente para os antigos poupadores, mas também para os novos que querem apenas uma reserva financeira, que esteja à mão a qualquer momento sem perda do poder de compra. Apesar da redução na remuneração, o “cofre” brasileiro mais popular tem lugar garantido na carteira de muitos poupadores.

Isso porque as mudanças divulgadas pelo governo no dia 3 de maio estabelecem que as contas abertas até essa data continuarão a render 0,5% ao mês (6,17% ao ano) mais a Taxa de Referência (TR).

Mas, para quem resolveu ir para a poupança depois das modificações, é preciso avaliar caso a caso. A remuneração pode ser vantajosa, porque, diferentemente de outras aplicações em renda fixa, não há incidência de IR. “Se a taxa de juros ficar em 8% ao ano, a poupança dentro das novas normas renderia 5,6% no ano, superando a inflação projetada entre 4,5% e 5% no ano”, afirma o planejador financeiro Mailson Hykavei, certificado pelo IBCPF. 

Reduzindo custos

Para garantir um pouco mais de rentabilidade em investimentos conservadores também foi preciso reduzir as taxas de administração dos fundos de investimento DI (Depósito Interbancário) e de renda fixa, um custo relevante nesse tipo de aplicação. Especialmente quando o investimento não é alto, esse gasto cobrado por bancos e gestores pode ser significativo e tirar mais de seus ganhos. 

Por isso, Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos, de São Paulo, ressalta a importância de uma boa dose de paciência para pesquisar e para barganhar nesse tipo de negociação. “Faça criteriosamente uma avaliação de todas as taxas que irá pagar e da incidência do Imposto de Renda”, diz.

Fundos a partir de 1 real

Para incentivar os investidores a ter acesso a mais fundos de investimentos DI e de renda fixa, os bancos estão reduzindo os valores para ingresso nessas aplicações, como foi o caso de Banco do Brasil, Santander, Bradesco, Itaú Unibanco e Caixa Econômica Federal.

Antes, se você quisesse investir no fundo TOP RF do Santander, precisaria desembolsar 100 reais. Agora, com 1 real já é possível. No caso do Banco do Brasil, segundo Carlos Takahashi, presidente da BBDTVM, 18 fundos tiveram o tíquete de entrada reduzido. 

O menor valor é de 1 real, no caso dos fundos DI e de curto prazo — neles a taxa de administração também caiu, para 1%. “Com um cenário de taxas de juros em queda, o objetivo do banco é oferecer mais produtos para que o investidor conservador possa ganhar mais, diversificando as aplicações, mas sem sair de seu perfil de risco”, afirma Marco Daré, diretor do departamento de investimentos do Bradesco. 

Rendendo mais do que a Selic

Ao investir nesses tipos de fundos, o cliente está colocando seu dinheiro em papéis que renderão um pouco mais do que a Selic — os CDIs (Certificados de Depósitos Interbancários) —, sem margem para surpresas. Para rentabilizar os ganhos, os gestores também incluem nos fundos de renda fixa outros títulos — públicos e privados — que preestabelecem a taxa que irão pagar futuramente. Dentro de uma expectativa de Selic abaixo de 8%, contar com ganhos combinados, prefixado em 12% ao ano, em parte do dinheiro investido, já faz diferença. 


Renegocie as taxas

De acordo com os últimos dados da Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima), para quem fazia um investimento inicial inferior a 1 000 reais, a média da taxa de administração cobrada em fundos DI era de 3,46% ao ano. Em maio, porém, vários bancos anunciaram cortes em até 1%. E sempre é possível renegociar ainda mais. 

O ideal, segundo especialistas, é que a taxa de administração fique em até 1,5%, para que não comprometa o retorno do investimento. “Caso não consiga renegociar, cuide você de seu bolso: acumule primeiro na poupança, saque na data de aniversário da aplicação e, depois, com um valor maior, busque um fundo com taxas menores”, aconselha o consultor financeiro Mauro Calil. 

Os números não mentem

Agora, é inevitável fazer contas antes de mexer nas aplicações (veja quadro Carteira Recomendada, com simulações que podem ajudar na escolha dos investimentos).

Títulos do governo

Se você tem disposição e iniciativa, pode buscar ganhos seguros e sem taxas de administração com a compra de papéis da dívida do governo pela internet, via Tesouro Direto. No site, dá até mesmo para pesquisar quais os títulos mais adequados a seu perfil de risco. 

Olhe os fundos de dividendos

A diversificação ajuda muito nessa hora. Entre os fundos de investimentos que ainda contam com uma boa dose de segurança estão os de dividendos, apontados por Paulo Korshaki, diretor de gestão de recursos do Itaú Unibanco, como uma boa alternativa no mercado de ações. “Eles têm desempenho melhor que o Índice Bovespa e as empresas pagadoras de dividendos ainda têm um potencial de valorização pela frente”, diz Paulo.

Crédito privado é boa opção

Para manter a segurança, os títulos de crédito privado (atrelado a empresas) têm sinalizado como uma boa opção. Sem escapar da mordida do Leão, mas deixando de lado as taxas de administração, o CDB — títulos de dívidas dos bancos — é boa opção. O ideal é buscar CDBs que paguem pelo menos 100% do CDI.

“Esse percentual é dado apenas para investimentos acima de 30 000 reais”, afirma o consultor Mauro Calil. De acordo com a Caixa Econômica Federal, para CDBs que pagam menos de 92% do CDI, a poupança continua a bater em rentabilidade para prazos de seis meses. 


Produtos imobiliários

No campo de produtos mais sofisticados e agora acessíveis nos bancos, há os Fundos Imobiliários e as Letras de Crédito Imobiliários (LCIs), que Eduardo Glitz, sócio e diretor de varejo da XP Investimentos, considera um “produtaço”. Vale a pena pesquisar para diversificar a carteira: são produtos com maior rentabilidade, risco moderado e isentos de IR. 

A LCI, como o CDB, paga parte do CDI, mas, como também é isenta de imposto e não tem taxas, oferece chances de retorno maior. “Para quem vai ficar mais de 180 dias investindo, é uma opção sem risco e com bons ganhos”, diz Daniel Garcia, gerente de broker da corretora Souza Barros. 

Já nos fundos imobiliários, as aplicações podem ser feitas com valores a partir de 5 reais, segundo o consultor Mauro Calil, que sugere o investimento. Vinculados à variação do mercado de imóveis, a rentabilidade tem superado os ganhos com CDI, mas carrega o risco do setor, considerado moderado. Uma aplicação desse tipo é equivalente a adquirir parte de um imóvel e ganhar com a sua valorização e seu aluguel. 

Mas, como o mercado imobiliário está bem valorizado, a cota do fundo pode ser alta e só vale a pena se o retorno superar 0,5% do valor da cota: para quem investe 100 reais, o ganho mínimo deve ser de 50 centavos.

Acompanhe tudo sobre:aplicacoes-financeirasCDBCDIEdição 168Fundos de investimentofundos-de-renda-fixaFundos-imobiliariosImigraçãoJurosMercado financeiroPoupançaTesouro Direto

Mais de Carreira

Klabin abre 50 vagas para estagiários de diferentes regiões do Brasil

Agulha no palheiro? Este é o líder que toda empresa procura, mas poucos estão prontos para o desafio

Como usar a técnica de repetição espaçada para aprender novas línguas

Quer ser influente no trabalho? Saiba como fazer as perguntas certas, segundo especialista