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Microshifting: a nova tendência do trabalho flexível que acaba com o horário fixo das 8h às 18h

Modelo rompe o expediente tradicional e propõe jornadas em ondas, com blocos de trabalho mais curtos e flexíveis

Transporte público mais vazio e poder levar o filho na escola são alguns dos benefícios que os funcionários buscam com a flexibilidade do horário (Sanja Radin/Getty Images)

Transporte público mais vazio e poder levar o filho na escola são alguns dos benefícios que os funcionários buscam com a flexibilidade do horário (Sanja Radin/Getty Images)

Publicado em 17 de outubro de 2025 às 09h46.

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O expediente das nove às seis, símbolo da era industrial, está ficando para trás. No novo mundo do trabalho remoto e híbrido, a rigidez dos horários cede espaço à autonomia. Surge, então, o microshifting (micro mudança) — um modelo que propõe dividir a jornada em blocos curtos, distribuídos em diferentes momentos do dia, respeitando o ritmo e as necessidades individuais. como pegar um transporte público mais vazio ou levar o filho na escola.

Felxibilidade é um dos benefícios mais desejados desta nova era: 65% dos trabalhadores de escritório desejam mais flexibilidade de horário, segundo o relatório State of Hybrid Work 2025, da Owl Labs. A tendência já ultrapassa as fronteiras corporativas e conquista força entre profissionais da Geração Z, que alternam entre estudos, múltiplos empregos e responsabilidades familiares.

“Os pacotes de benefícios são um fator decisivo para os profissionais ao escolherem permanecer em uma empresa ou aceitarem novas propostas. Oferecer algo alinhado às expectativas do mercado não é apenas um diferencial competitivo, mas uma estratégia essencial para fortalecer a relação entre organização e funcionário”, afirma Andre Purri, CEO da Alymente.

O trabalho em "ondas"

O microshifting propõe um modelo em que o trabalho flui em “ondas”, e não em blocos contínuos. Um pai ou mãe pode começar o dia cedo, pausar para levar os filhos à escola, retomar as atividades à tarde e concluir as tarefas após o jantar. É uma forma de conciliar produtividade com bem-estar, respeitando os picos de energia e concentração de cada pessoa.

A Vivo, por exemplo, tem horário flexível para a entrada do funcionário, que pode começar a jornada entre 8h e 11h, além de trabalhar de forma híbrida.

“Antes mesmo da pandemia já tínhamos o regime de trabalho híbrido e hoje com a IA identificamos rapidamente o fit cultural e aceleramos as contratações com base em dados”, afirma Fernando Luciano, vice-presidente de RH da Vivo.

A cultura centralizadora x modelo de trabalho flexível

Essa mudança, porém, vai além da simples reorganização de horários: redefine o pacto de confiança entre líderes e equipes. Ainda há resistência de gestores que associam presença física à produtividade.

Por outro lado, quase metade das empresas ainda investe em softwares de monitoramento para trabalhos remotos, uma prática que pode corroer a autonomia e alimentar o estresse. Segundo o estudo, 90% dos profissionais afirmam que o nível de pressão se manteve igual ou pior em relação ao ano anterior, e parte desse esgotamento vem da cultura de vigilância e da chamada meeting tax — o tempo perdido em reuniões híbridas mal coordenadas.

Da vigilância ao resultado

Para evitar o ciclo de controle e desgaste, especialistas defendem que os líderes aprendam a gerenciar resultados, e não tempo. Isso significa estabelecer regras claras de comunicação e disponibilidade, aplicar a flexibilidade também em funções presenciais e usar a tecnologia como aliada — e não como ferramenta de fiscalização.

Soluções com inteligência artificial, como assistentes de reunião e agendas inteligentes, já permitem sincronizar microturnos e otimizar a colaboração entre diferentes fusos e rotinas.

Com cerca de 200 funcionários, a Next Shipping, empresa de comércio internacional, possui 33% do time atuando em home office e espalhados pelo Brasil, e é com a cultura da flexibilidade que a empresa segue expandindo. O modelo híbrido e remoto, segundo Evandro Turatto, fundador e diretor executivo, é um dos pontos de conexão com as novas gerações.

“A meta da companhia é chegar a um equilíbrio de 50% da equipe remota e 50% na matriz, para termos mais talentos de outros estados”.

Um novo contrato social

Mais do que uma moda passageira, o microshifting simboliza um amadurecimento coletivo. Depois de décadas moldando a vida em torno do trabalho, os profissionais exigem o inverso: que o trabalho se adapte à vida.

“As empresas que compreenderem essa inversão tendem a reter talentos e construir culturas mais humanas, criativas e sustentáveis. O expediente fixo pode ter cumprido seu papel histórico, mas o futuro — com suas ondas de produtividade e pausas intencionais — já começou a ser escrito, um microturno por vez”, diz Purri.

O “microshifting” pode levar ao “blended work”

O chamado “blended work” representa a próxima evolução dos modelos híbridos e remotos. “Não se trata apenas de onde o profissional trabalha, mas de como e sob quais vínculos ele se conecta à empresa”, afirma Sofia Esteves, especialista em cultura corporativa e fundadora da Cia de Talentos.

Enquanto o híbrido combina dias presenciais e remotos, Esteves explica que o “blended work” mistura diferentes formatos de relação profissional como: CLT, PJ, freelancers, consultores e projetos temporários — dentro da mesma organização.

“O ‘blended work’ não é sobre presença física, é sobre novos vínculos de trabalho. Cada vez mais veremos times formados por pessoas fixas e por profissionais sob demanda, conectados por propósito e entregas”, diz Esteves que afirma que esse movimento já está em curso no Brasil, impulsionado pela transformação digital e pela busca de flexibilidade.

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