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Mercado fértil: Grupo Fleury investe mais de R$ 18 milhões em fertilidade. CEO explica a aposta

Empresa vai além do diagnóstico e cresce 50% em 2024 com o segmento de fertilidade in vitro e congelamento de óvulos. Procedimento promete movimentar globalmente US$ 47,9 bilhões até 2030

Jeane Tsutsui, CEO do Grupo Fleury: “Oferecer acesso à fertilidade é também uma forma de apoiar as escolhas da mulher e promover inclusão no ambiente corporativo” (Leandro Fonseca/Exame)

Jeane Tsutsui, CEO do Grupo Fleury: “Oferecer acesso à fertilidade é também uma forma de apoiar as escolhas da mulher e promover inclusão no ambiente corporativo” (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 11 de maio de 2025 às 07h07.

Última atualização em 11 de maio de 2025 às 11h35.

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Uma em cada seis pessoas no mundo enfrenta dificuldades para conceber um filho. A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) escancara um problema de saúde global — e um mercado em expansão, ou melhor, fértil para os negócios.

No Brasil, o setor de reprodução assistida já movimenta R$ 2,3 bilhões e deve chegar a R$ 3 bilhões em 2026, segundo levantamento da Redirection International. No mercado global, o estudo mostra que o valor pode atingir US$ 47,9 bilhões até 2030.

Diante desse cenário, o Grupo Fleury vem consolidando sua atuação no segmento com uma aposta de longo prazo: o Fleury Fertilidade, unidade especializada em reprodução humana, inaugurada em 2021 na Vila Mariana, em São Paulo.

“Nós criamos um centro completo, com infraestrutura cirúrgica, laboratório de embriologia e equipe especializada para oferecer uma jornada integral de cuidado à mulher e ao casal que busca a maternidade ou paternidade”, diz Jeane Tsutsui, CEO do Grupo Fleury.

A operação já apresenta resultados expressivos: só em 2024, a receita da unidade cresceu 50% frente ao mesmo período do ano anterior.

"Desde a abertura, os investimentos no centro especializado do Grupo ultrapassam R$ 18 milhões", afirma a CEO com exclusividade à EXAME.

Um negócio ‘fértil’ - com demanda crescente

O crescimento do Fleury Fertilidade não é um caso isolado. O mercado global de reprodução assistida deve atingir US$ 47,9 bilhões até 2030, com taxa média de expansão anual de 4,7%, de acordo com a consultoria Precedence Research. No Brasil, a taxa de crescimento é ainda mais acelerada, com estimativa de 23% ao ano até 2026.

Além da demanda espontânea, o avanço de fusões e aquisições também aquece o setor. Fundos de private equity e grandes grupos hospitalares, como o Sírio-Libanês e o próprio Fleury, têm ampliado a presença em clínicas de fertilidade. Globalmente, o movimento também é notável: a fusão entre a espanhola IVI e a americana RMA criou a maior rede de reprodução humana do mundo.

Para o Fleury, o crescimento da unidade de fertilidade reflete não apenas a força do segmento, mas também uma estratégia corporativa de diversificação.

“Os chamados ‘Novos Elos’ - frente de negócios que vai além da medicina diagnóstica - já respondem por 9% da receita total da companhia. Fechamos 2024 com receita bruta de R$ 8,3 bilhões, com alta de 19,5% em relação ao ano anterior”, diz a CEO.

Perfil das pacientes e avanço da preservação da fertilidade

Mais de 60% dos procedimentos realizados no Fleury Fertilidade são de fertilização in vitro (FIV). O congelamento de óvulos representa 23% da demanda, e vem crescendo com o adiamento da maternidade. O recorte etário, segundo a CEO, mostra essa tendência:

  • 37% das pacientes que buscam a FIV têm entre 36 e 39 anos,
  • enquanto 43% das que optam pelo congelamento de óvulos têm entre 30 e 35 anos.

“Cada vez mais mulheres querem ter autonomia sobre quando serão mães. O papel do Fleury é garantir que essa escolha seja possível, com qualidade, segurança e acolhimento”, afirma a CEO.

A empresa também atua com oncofertilidade — preservação da fertilidade de pacientes que passarão por tratamentos contra o câncer — e mantém um centro aberto para médicos externos, que realizam os procedimentos utilizando a infraestrutura do Fleury.

“Muitos especialistas em reprodução não têm uma clínica própria. Por isso, oferecemos nossa estrutura completa, equipe técnica e laboratório de embriologia para que possam realizar os procedimentos com suas pacientes”, conta Tsutsui, que afirma que a proposta tem tido alta adesão.

Longevidade e transformação demográfica no Brasil

O envelhecimento acelerado da população brasileira também pressiona o setor de saúde a se adaptar. Segundo o IBGE, cerca de 15% dos brasileiros têm hoje 60 anos ou mais, e esse percentual deve dobrar nas próximas décadas.

“O aumento da expectativa de vida traz uma nova realidade: as pessoas vivem mais e querem viver com qualidade. Isso inclui também a liberdade de escolher quando e como formar uma família”, afirma Jeane.

O contexto reforça a importância de serviços como o de fertilidade, que oferecem suporte para mulheres e casais em momentos distintos da vida.

O desafio da democratização e a busca por acesso

No Brasil, o acesso ainda é restrito. A taxa de fertilização in vitro por milhão de habitantes gira em torno de 111 — bem abaixo da média de países como Israel, onde o número ultrapassa 1.500 por milhão, diz a CEO. O custo dos procedimentos, que ainda não fazem parte do rol obrigatório da ANS, segue como um dos principais obstáculos. O congelamento de óvulos, por exemplo, exigem das mulheres um investimento que pode chegar a R$ 30 mil, além de uma taxa anual para manter o material armazenado.

Para ampliar o acesso, o Fleury oferece até 40% de desconto em tratamentos para seus funcionários e firmou parcerias com empresas que passaram a incluir o apoio à fertilidade nos pacotes de benefícios. Essa é uma tendência crescente: segundo a consultoria Mercer, 22% das grandes empresas brasileiras devem adotar esse tipo de iniciativa até 2027. A Mastercard e a Pepsico, por exemplo, já estão investindo no benefício de congelamento de óvulos.

“Oferecer acesso à fertilidade é também uma forma de apoiar as escolhas da mulher e promover inclusão no ambiente corporativo”, diz a CEO do Grupo Fleury.

Inovação, novos serviços e futuro

Tsutsui assumiu a presidência do Fleury em abril de 2021, em meio à pandemia. Desde então, liderou a digitalização dos serviços, o lançamento de novas frentes de negócio e uma expansão que diversificou o portfólio da companhia.

Em 2024, o grupo investiu R$ 488 milhões — quase metade em tecnologia e soluções digitais, como sistemas de inteligência artificial já aplicados em mais de 50 frentes, incluindo radiologia e atendimento ao cliente. A telemedicina, lançada durante a pandemia, realiza atualmente mais de 2 mil consultas por dia. O atendimento móvel também cresceu: representa 7,6% da receita total.

Sobre o segmento de fertilidade, a CEO afirma que não há planos imediatos de expandir fisicamente o negócio para outras regiões, além de São Paulo. Segundo ela, o foco está no amadurecimento da operação, que foi lançada como um projeto greenfield (construído do zero) em 2021, e em oferecer uma jornada que atenda todas as fases da vida, em um modelo de saúde mais integrado.

“A longevidade da população exige soluções em diferentes momentos da vida — da fertilidade à prevenção, do diagnóstico ao tratamento”, diz Tsutsui. "Nosso compromisso é com a qualidade de vida ao longo de toda a jornada."

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