Mentorias podem aumentar a retenção de profissionais em uma empresa (Rawpixel Ltd/Thinkstock/Thinkstock)
Publicado em 30 de novembro de 2024 às 08h00.
Sabemos que toda pessoa profissional deve continuar sua jornada de aprendizado e isso inclui, é claro, quem ocupa uma posição de gestão. Quando falamos em lifelong learning, upskilling e reskilling, normalmente associamos esses processos a práticas como treinamentos formais, cursos de especialização e palestras. Contudo, existem algumas atividades que ocorrem fora de sala de aula que ajudam muito a ampliar nosso campo de visão — e, para mim, a mentoria é uma delas.
Esse tema me veio à mente porque, há algumas semanas, participei do projeto CEOX1dia, que conecta pessoas executivas com jovens. Assim, ao longo de um dia, tive a companhia de uma universitária, que participou de reuniões internas e externas, alinhamentos com o time da Cia de Talentos no Brasil e na América Latina, entre outras rotinas de trabalho.
Nos intervalos, conversamos sobre questões diversas como a experiência de ser uma mulher C-level, propósito na carreira, dicas sobre como dar feedback e a importância da jornada contínua de aprendizado.
Quem lê este artigo agora pode pensar que o objetivo de um programa como esse é ajudar na formação de talentos, como se a liderança estivesse ali apenas para ensinar. Porém, acredito que encontros assim são fundamentais para que nós, que desempenhamos um papel de gestão, também possamos reciclar o nosso conhecimento.
Da minha parte, posso dizer que é sempre muito inspirador ver o futuro do mercado de trabalho pelos olhos de quem vai transformá-lo. É de momentos assim que surgem insights – aquele estalo que vem na nossa mente quando nos abrimos humildemente para escutar novos pontos de vista.
Sei que formatos mais tradicionais de ensino também contribuem com esse "momento Eureka", mas essa experiência recente só reforça uma crença antiga que carrego comigo: temos muito o que aprender com essas mentes que trazem o frescor da juventude para o mercado de trabalho. Por trabalhar com o público jovem, eu sempre valorizei essas trocas e vi, na prática, como elas impactaram positivamente o meu desenvolvimento como líder.
É por isso, aliás, que Jack Welch desenvolveu o conceito de mentoria reversa na década de 1990. Na época, ele era CEO da General Electric (GE) e introduziu a prática na sua empresa como forma de colocar pessoas mais novas para ensinar líderes sêniores sobre a internet.
A tática deu tão certo que, ao longo dos anos, diferentes estudos comprovaram os benefícios dessa atividade. Um deles é do International Institute for Management Development (IMD), segundo o qual a mentoria reversa ajuda a:
Para quem deseja colocar a ideia em prática, minha recomendação é estruturar um programa com objetivos claros e compartilhar com quem for participar desse piloto. Assim, todo mundo fica com as expectativas alinhadas e, mais tarde, será possível fazer uma análise do resultado alcançado.
Outra etapa importante é fazer um bom match entre as pessoas mentoras e mentoradas. Isso significa que é preciso saber quais são os interesses e pontos fortes de cada profissional, além de buscar indivíduos que tenham experiências complementares. A ideia é que esse estudo de perfil colabore com a promoção de discussões mais ricas, aumentando a oportunidade de descobertas valiosas e aprendizados para todas as pessoas envolvidas.
Também vale orientar a equipe sobre como documentar essas trocas. Não precisa ser nada muito complexo, uma ata simples ou uma reunião de acompanhamento ajuda a consolidar o conhecimento adquirido e, melhor do que isso, a compartilhar os insights com as demais pessoas da organização. Esse, aliás, é um ótimo jeito de multiplicar o impacto dessa iniciativa.
E, para quem não consegue implantar um programa desse na empresa hoje, minha recomendação é encontrar outras formas de investir uma parte da sua agenda em conversas com o público jovem. Às vezes, ações simples como tomar café com pessoas no início de carreira irão gerar algumas boas ideias .
No fim, tanto a mentoria quanto essas conversas mais espontâneas servem, dentre outros objetivos, para aproximar profissionais com trajetórias diferentes e ampliar seu campo de visão. É uma troca que beneficia todo mundo envolvido, trazendo novos olhares sobre o futuro.