Carreira

Mentiras sinceras não interessam

As empresas estão fortalecendo o departamento de recursos humanos para detectar possíveis irregularidades nas informações fornecidas pelos candidatos nos currículos

Homem mente no currículo (Raul Junior/EXAME.com)

Homem mente no currículo (Raul Junior/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2013 às 14h09.

São Paulo - E m tempos de mercado aquecido, com empresas em busca de bons profissionais, estar com o currículo em dia é importante: nunca se sabe quando alguém vai lhe pedir uma cópia. Mas, na hora de colocar no papel a formação escolar e a experiência, muita gente cai na tentação de dar uma turbinada nas realizações ou nas próprias qualificações — afinal, um diplominha de língua estrangeira ou um leve aumento no tempo de permanência num emprego não vai despertar a atenção de ninguém. Será? Essa atitude tem dois problemas: 1) Fazer isso é mentir; 2) Não vale a pena camuflar ou sobrevalorizar suas informações porque as companhias e os recrutadores conferem esses dados e pegam os mentirosos. 

O departamento de recursos humanos das empresas tem investido em profissionais especializados em desvendar informações duvidosas. Enfeitar o currículo, aumentar ou omitir informações pode acabar causando problemas para os candidatos — e até tirá-los da seleção. Em muitos casos, a verdade aparece durante o processo, na checagem dos fatos feita pelos responsáveis pela seleção ou, pior, na hora da entrevista, o que causa um constrangimento ainda maior para o entrevistado.

Na Unilever, as etapas são conduzidas em parceria firmada entre a companhia e as consultorias especializadas em recrutamento e seleção. “Um dos pontos-chave é a análise da coerência do currículo. As informações registradas são checadas sob essa condição”, explica Eliana Ponzio, gerente de desenvolvimento de talentos da Unilever. “Embora não seja uma prática comum, eventualmente, equívocos são cometidos.”

As empresas não têm a prática de informar umas às outras sobre possíveis “mentirosos”, mas isso não significa que o recrutador não irá ao mercado para buscar referências sobre o candidato. Pelo contrário. Causas de demissão e tempo de permanência no cargo podem ser confirmados, assim como dados sobre a formação acadêmica, a proficiência em língua estrangeira e os títulos de mestrado e doutorado acrescentados inadvertidamente no currículo. Os recrutadores chegam a ligar para as universidades para checar se o candidato tem mesmo a formação que ostenta. Portanto, evite mentir ou exagerar. 

Top Five

As cinco mentiras mais comuns de currículo, segundo Rodrigo Vianna, gerente de marketing da Hays, consultoria de seleção de executivos de São Paulo, são formação acadêmica, idioma, tempo de empresa, motivo de demissão e endereço de moradia. O idioma e o tempo de empresa são as piores. “Algumas pessoas insistem em atestar domínio da língua inglesa quando a realidade não é bem essa”, diz Rodrigo. Outros profissionais temem evidenciar o pouco tempo de casa, com medo de ser vistos como alguém sem comprometimento.

“Por exemplo, colocam que atuaram na empresa de 2008 a 2009, mas eles entraram em dezembro de 2008 e saíram em fevereiro de 2009”, conta Rodrigo. Outro ponto muito comum é o motivo do desligamento da companhia anterior. “Na maioria dos casos, o empregado tem uma visão e o empregador, outra.”

Vale dizer que o processo de entrevista muitas vezes acaba por detectar espontaneamente as mentiras do currículo. Na farmacêutica Boehringer Ingelheim, na qual há muitos cargos para profissionais de farmácia e medicina, a própria documentação exigida já diminui as possibilidades de fraude. Além disso, dependendo do nível do cargo, as conversas são em inglês ou em outro idioma exigido. “Se a pessoa mentiu sob fluência em língua estrangeira, ela se sentirá constrangida”, afirma Fernanda Coutinho, gerente de recursos humanos.

Os profissionais habituados a inventar informações e a enfeitar demais o currículo podem estar com os dias contados. O Congresso Nacional estuda a aprovação de uma lei, de autoria do deputado Carlos Bezerra, que prevê cadeia para quem mentir sobre qualificações e experiências profissionais. Os especialistas apostam que o projeto não será aprovado, mas todo cuidado é pouco.

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