Carreira

McDonald’s virou Méqui. E o que isso me ensinou sobre liderança?

A história por trás da mudança de nome e os aprendizados que moldaram uma filosofia baseada em gestão, autoliderança e propósito

O executivo Paulo Camargo, que lançou recentemente "Seja o líder que você gostaria de ter como chefe". (Divulgação)

O executivo Paulo Camargo, que lançou recentemente "Seja o líder que você gostaria de ter como chefe". (Divulgação)

Publicado em 27 de julho de 2025 às 07h30.

* Por Paulo Camargo

Em uma manhã chuvosa em Chicago, entrei na sede global do McDonald’s ao lado de João Branco, então CMO no Brasil, para apresentar uma decisão que já havíamos colocado de pé: trocar o nome da marca para “Méqui”.

A campanha já estava no ar, os resultados começavam a aparecer, mas sabíamos que o movimento causaria resistência interna. Aquele voo Guarulhos–Chicago foi um dos mais tensos da minha vida.

Ele levava todos os gráficos, pesquisas e dados que comprovavam nossa decisão. Ainda assim, o clima na matriz era de contrariedade. A diretora de marketing da América Latina estava visivelmente incomodada.

Foi quando percebi que, às vezes, liderar não é só defender com números, é conectar com significado.

Antes da apresentação, chamei o head global Kevin para uma conversa informal e disse: “Quando minha esposa está brava, me chama de ‘Paulo Sérgio de Camargo’. Quando está tudo bem, é só ‘Gordinho’. Para os brasileiros, ‘McDonald’s’ é o nome formal. Já ‘Méqui’ é o apelido carinhoso, que aproxima a marca das pessoas.”

Kevin ficou alguns segundos em silêncio, estático por alguns segundos, que pareceram minutos. De repente, sorriu e disse que ele também tinha um apelido, usado apenas por quem tinha muito carinho por ele. E então nos parabenizou pela ousadia e sensibilidade.

A decisão foi reconhecida e celebrada como um dos movimentos de marca mais bem-sucedidos do país. Naquele momento, ficou claro para mim que liderança não é apenas sobre performance: é sobre sensibilidade, contexto e coragem para bancar escolhas com significado.

Esse aprendizado foi se consolidando ao longo de mais de três décadas como executivo. Com o tempo, percebi que os líderes que realmente transformam organizações não se apoiam apenas na estratégia, em metas e métricas, mas especialmente em três pilares: gestão, autoliderança e liderança.

Gestão: direção com consistência

Liderar exige capacidade de definir metas, delegar com clareza, resolver conflitos e desenvolver talentos. Gestão sem visão estratégica esgota a equipe e compromete os resultados.

Autoliderança: antes de liderar alguém, você precisa liderar a si mesmo

Quem não está bem consigo mesmo não consegue liderar ninguém. Autoliderança é o compromisso diário com o autoconhecimento, o equilíbrio emocional e o autocuidado.

É entender o impacto que se causa no time, agir com responsabilidade e manter a coerência entre o que se diz e o que se faz. Envolve presença, escuta genuína e a coragem de olhar para dentro antes de apontar para fora.

Liderança e propósito: o porquê que engaja.

Gente engajada não precisa de vigilância. Quando o trabalho tem significado, as pessoas se comprometem de verdade. Propósito não precisa ser grandioso, basta gerar impacto real na vida de alguém.

Esses três eixos não competem, se sustentam. A gestão sem propósito vira cobrança fria. O propósito sem gestão vira devaneio. E sem autoliderança, tudo isso desmorona diante da primeira crise.

Depois de liderar marcas como McDonald’s, Burger King, Subway e Starbucks no Brasil, decidi me dedicar a apoiar líderes e empresas que querem dar esse salto.

Acredito que o Brasil não precisa de mais chefes, precisa de líderes inteiros: técnicos, humanos e inspiradores.

A liderança que transforma empresas se constrói com consistência, escuta e coragem. Não nasce pronta, mas pode, e deve, ser desenvolvida.

Liderar é um hábito. E quanto antes começarmos, melhor será o futuro das nossas organizações.

Todas essas reflexões ao longo da carreira me fizeram escrever o livro “Seja o líder que você gostaria de ter como chefe”, em que convido a todos a se tornarem um líder que valoriza as pessoas, desafia o status quo e transforma o ambiente ao seu redor.

Liderar é hábito: comece hoje a ser a mudança que quer ver.

* Paulo Camargo é mentor de CEOs, palestrante, autor de Seja o líder que você gostaria de ter como chefe e ex-CEO de organizações como McDonald’s Brasil, Zamp, Espaçolaser e Iron Mountain

Acompanhe tudo sobre:LiderançaDicas de carreiraGestão

Mais de Carreira

Como ser mais produtivo com o ChatGPT? Use esses comandos e ative o modo ‘planner’ da ferramenta

EXAME abre vagas para pré-MBA em Inteligência Artificial com desconto de 90%

Raro e bem pago: veja quem é o profissional mais cobiçado do mercado; salários chegam a R$ 35 mil

Entrevista de emprego para cargos de liderança: veja perguntas mais frequentes – e como respondê-las