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Da Redação
Publicado em 6 de dezembro de 2010 às 11h16.
A educação corporativa está em alta. A estratégia de oferecer ensino e treinamento aos executivos para melhorar o desempenho dos negócios está cada vez mais sistematizada nas empresas. Ao lado de treinamentos técnicos, curtos e específicos, ganham destaque cursos mais abrangentes, longos e voltados para negócios. De olho nessa demanda, faculdades e escolas de negócios de São Paulo ampliam turmas e oferecem programas sob medida para os clientes.
Os MBAs executivos são a grande vedete dessa tendência. "As empresas procuram cada vez mais cursos longos, como mestrados e MBAs, e investem mais em seus gerentes", diz Marcos Vasconcelos, vice-coordenador do Programa de Educação Continuada da Escola de Administração de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. Pioneira em treinamento de executivos, a instituição começou há três anos a oferecer MBAs personalizados, uma modalidade ascendente no mercado de educação corporativa. O produto alia currículo talhado especialmente para a empresa -- às vezes, com matérias exclusivas -- ao perfil de mestrado mais generalista do MBA. A FGV tem hoje 20 turmas personalizadas e está ampliando seu espaço. Em breve ocupará dez andares de um prédio próximo à sede, no bairro paulistano de Cerqueira César, para comportar as aulas de pós-graduação -- boa parte destinada a programas corporativos. Há seis meses, a Johnson & Johnson adotou um programa personalizado da FGV para dar o diploma a 31 de seus executivos. Até mesmo companhias com universidades corporativas próprias fazem parcerias para manter esse perfil de curso. Desde maio, um grupo de 50 funcionários da AmBev "interna-se" uma vez por mês para um MBA exclusivo ministrado em uma unidade do Ibmec. A Universidade do Hambúrguer, fundada pelo McDonalds em Barueri, na região metropolitana de São Paulo, também recorreu a uma parceria com a FGV para lançar em abril seu primeiro MBA, como parte de um programa de desenvolvimento de líderes. Os 35 executivos freqüentam aulas voltadas para os problemas da cadeia de restaurantes e devem atualizar-se em conceitos de administração durante as 360 horas do curso. "Antes enviávamos os nossos executivos para estudar em Chicago", diz Célia Teizen, diretora de treinamento da Universidade do Hambúrguer. "Agora eles só sairão do país para cursos muito específicos." O McDonalds já investiu 7 milhões de reais em sua universidade.
Capacitação contínua
O conceito de educação corporativa chegou ao Brasil há uma década, trazido pelas multinacionais. Nasceu como parte da estratégia de treinamento de funcionários e, em alguns casos, evoluiu para a construção das universidades corporativas, com prédio, professores e material de treinamento próprios. A Accor, a Xerox, a Tigre e o McDonalds são exemplos de companhias que encamparam a idéia. "O espaço para a educação corporativa não precisa ser necessariamente físico", diz Vasconcelos, da FGV. "O que importa é a adoção de uma prática permanente de treinamento ligada à estratégia da empresa." Para o consultor Oliver Mizne, da Ideal Invest, especializada em empreendimentos em educação, o conceito de capacitação e treinamento constante é irreversível. "Isso faz da educação corporativa um negócio bastante promissor para faculdades e escolas", afirma Mizne.
De olho no potencial desse segmento em São Paulo, o consultor John Schulz e cinco sócios abriram há dois anos a Brazilian Business School. "O mercado está cada vez mais competitivo e necessitando de uma melhor preparação dos executivos", diz Schulz. Especializada em MBAs, a BBS acaba de abrir a terceira turma e alugou um novo prédio nos Jardins para atender a clientela. Começa a negociar com empresas para oferecer cursos customizados. Até agora, investiu 100 000 dólares -- pouco para esse tipo de negócio. A economia é possível porque os próprios sócios lecionam. "Nossa primeira turma foi um sucesso: praticamente todos os alunos receberam promoções", afirma Schulz.
A abertura da Business School São Paulo (BSP), em 1995, exigiu um investimento bem maior: 10 milhões de reais. Está valendo a pena? Os cursos personalizados foram inaugurados no ano passado, mas o faturamento com eles dobrou em 2002, atingindo 512 000 reais até junho. "Já estamos contratando funcionários e nos preparando para um aumento de até 40% na procura", diz o empresário Heitor Peixoto, um dos sócios da BSP. Há nove anos, quando fazia seu próprio MBA em Lausanne, na Suíça, Peixoto previu que o interesse estrangeiro se voltaria para o Brasil tão logo o país conquistasse a estabilidade econômica. "Como precisariam de mão-de-obra qualificada, comecei a pensar em abrir uma escola. Acho que entramos na hora certa."
A tarefa de formatar um projeto pode levar até um mês de negociação, entre visitas à empresa contratante e reuniões para definição do currículo. Há empresas que sabem exatamente o que querem. Outras conhecem o problema, mas não sabem como resolvê-lo. Quem busca esses modelos personalizados geralmente já tem uma rotina de treinamento e até alguma estrutura física, como salas e equipamentos. Quando o cliente pede matérias muito específicas, as escolas saem em busca de profissionais no mercado.
No Ibmec, a participação de alguns professores tem de ser agendada com até seis meses de antecedência. A maioria vem de grandes empresas ou do mercado financeiro e raramente trabalha só com educação. Quando o fazem, recebem salários entre 15 000 e 25 000 reais por mês. "São nosso maior ativo, ao lado do projeto pedagógico", diz Walter Alba, coordenador do MBA Executivo em finanças do Ibmec.
Os cursos personalizados custam, em média, 20% menos por aluno que um curso aberto. "Só a contribuição na resolução de problemas específicos da empresa já paga um curso personalizado", diz Alba. Ele se refere à prática de estudar casos da própria empresa. Em alguns contratos, fica estabelecido que os alunos vão se dedicar a estudar problemas reais da empresa e a apresentar projetos com soluções no final do programa.
Os projetos sob medida compensam quando a empresa tem objetivos específicos e um grupo mínimo de pessoas. Além dos cursos personalizados, é crescente a procura por cursos abertos, em geral custeados pelas empresas. Para as escolas, trabalhar com esse público é uma grande vantagem, porque o risco de inadimplência é menor. Para as empresas, empenhar tanto dinheiro na educação de um profissional às vezes gera problemas. Com um diploma validado por uma dessas escolas de negócios de "grife", o passe do executivo fica muito valorizado. Muitas vezes, antes mesmo de concluir o curso já surgem propostas de emprego que podem mandar o investimento para o ralo. "Não adianta pagar durante os dois anos como se fosse um salário indireto ou prêmio e não acenar com uma promoção para retribuir o comprometimento do funcionário", diz Schulz, da BBS.
A maioria das empresas prefere assinar um contrato para que o empregado reembolse a quantia investida caso venha a aceitar uma proposta externa. "Fazemos uma espécie de acordo de cavalheiros, segundo o qual o funcionário devolve 50% do valor aplicado nele", diz a executiva Cláudia Meirelles, gerente de desenvolvimento organizacional da farmacêutica Merck Sharp Dohme. O laboratório seleciona funcionários para receber financiamento de 75% de MBAs e demais cursos de pós-graduação.
As boas escolas recorrem à tecnologia para incrementar os cursos. Usam softwares de simulação para ver como os alunos se saem, por exemplo, ao tomar decisões de investimento. Na BBS, os alunos estão conectados à intranet da Universidade de Richmond. Na FGV, os alunos participam de bate-papos para discutir questões que surgem nas aulas. A Unisa, outra que ingressou recentemente na educação corporativa em São Paulo, promove um MBA virtual em liderança com 15 dias de aulas presenciais por ano. "Estamos ligados via satélite e internet com três universidades americanas e usamos a comunicação virtual para distribuir tarefas", diz o reitor Sidney Storch Dutra. A FGV também oferece cursos à distância para executivos, mas de especialização. Para mestrado ou MBA, as escolas de maior prestígio não abrem mão da presença do aluno.