Pandemia: 64% das mulheres disseram ter aumentado o tempo que gastam cuidando de outros membros da família (Maskot/Getty Images)
Carolina Ingizza
Publicado em 29 de outubro de 2020 às 14h25.
Última atualização em 29 de outubro de 2020 às 15h27.
A desigualdade de gênero ainda é uma realidade no Brasil e no mundo. As dificuldades que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho e no meio acadêmico são reflexos, muitas vezes, das desigualdades existentes no ambiente familiar. Esse problema cultural, que já era enorme antes de 2020, se intensificou com a pandemia do novo coronavírus, como mostra uma nova pesquisa realizada pelo Facebook.
A empresa americana fez um estudo global para coletar dados sobre igualdade de gênero. Foram ouvidas 461.748 pessoas em todo o mundo, sendo 6.280 no Brasil, entre os dias 16 e 25 de junho deste ano. As perguntas olham para o tema de forma ampla, mas acabam refletindo o impacto que a covid-19 teve na vida das mulheres.
No Brasil, o estudo descobriu que 97% das mulheres e 95% dos homens acreditam que os dois gêneros devam ter oportunidades iguais em relação a temas como educação, emprego e tomadas de decisão dentro de casa. Apesar dessa crença, o desejo por igualdade não se reflete em outros indicativos.
Em relação ao acesso ao dinheiro doméstico, 40% das mulheres relataram ter pouco ou nenhum acesso ao capital da família. Em comparação, 35% dos homens relataram o mesmo. A pesquisa também perguntou se, nos últimos 30 dias, as pessoas estavam preocupadas com a possibilidade de não ter comida suficiente por falta de recursos. Metade das entrevistadas no Brasil relatou essa preocupação, ante 39% dos homens.
Como consequência direta da pandemia, 64% das mulheres disseram ter aumentado o tempo que gastam cuidando de outros membros da família. Cerca de 60% delas também relatou estar passando mais tempo executando tarefas domésticas. Em comparação, 59% dos homens responderam que passam mais tempo cuidando da família e outros 44%, fazendo tarefas da casa.
O modo como o trabalho doméstico é dividido entre homens e mulheres parece impactar apenas o universo familiar, mas, como mostrou reportagem de capa da EXAME, o Fundo Monetário Internacional estima que o produto interno bruto global cresceria pelo menos 4% se o trabalho não remunerado fosse mais bem distribuído.
Isso aconteceria porque elas teriam maior participação no mercado de trabalho e, consequentemente, maior movimentação econômica, gerando ganhos para todos. Assim como na divisão de tarefas domésticas, o que acontece dentro de casa passa a impactar toda a sociedade.
Os dados completos da pesquisa do Facebook podem ser acessados pelo site da empresa.