Home office com crianças: Paula Rothman, Gerente de Conteúdo do blog do Nubank, com sua filha, Malu, de 2 anos (Arquivo pessoal/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 10 de maio de 2020 às 08h30.
Última atualização em 11 de maio de 2020 às 18h01.
“Home office com criança não é bem home office. É escola, desenho, tarefas... é tudo office”, fala Paula Rothman, gerente de conteúdo do blog do Nubank, e mãe da Malu, de 2 anos.
Ela, o marido e a filha estão em casa há quase dois meses, em São Paulo, seguindo as recomendações de quarentena por causa da pandemia do coronavírus.
Assim como muitas mães brasileiras, Paula teve o desafio de reestruturar sua rotina para se adequar ao novo contexto de isolamento social e equilibrar seu papel como mãe e como profissional.
Neste Dia das Mães, Paula e outras três mães trabalhando remotamente com a companhia dos seus filhos vão compartilhar dicas que aprenderam com essa experiência.
No entanto, Denise Door, diretora de marketing da Amaro e mãe do Luca, 5 anos, e do Daniel, de 3 anos, avisa que não existe uma solução única que funcione para todas as mães.
“Sinceramente, não sei quem tem a melhor forma de fazer funcionar, depende muito de cada família e cada rotina. Com certeza, o privilégio de poder fazer home office ajuda. Há mulheres que precisam estar fora de casa para trabalhar, aí é muito mais complicado”, fala ela.
E em tempos cheios de insegurança e temor pela saúde da família, Juliana Lima, analista de Trade Marketing da Royal Canin, marca da Mars, e mãe da Alice, de 4 anos, pede que as mulheres não esquecem de cuidar de si mesmas.
“Nesse momento, cuidar do nosso psicológico e emocional é importante também. Estamos todos confusos e muito inseguros. Tenho sorte de trabalhar em um lugar que possibilita que eu me proteja e à minha filha”, diz ela.
Segundo levantamento da Catho, site de classificados de empregos, 60% das mães afirmaram sentir impactos do isolamento social na sua saúde emocional. Entre as maiores dificuldades apontadas na pesquisa, aparece lidar com o isolamento e sua saúde mental (42,5%) e conciliar tarefas domésticas, trabalho e filhos (40,5%).
Para as três e também para Rubia Cardoso, gerente de Operações da PicPay, mãe do Heitor, de 5 anos, a maior dica e a mensagem que deixam para todas as mães nesse momento é: tente se cobrar menos durante esse período para ser perfeita.
“Tenham paciência e lembrem que não está difícil só para as mães, mas para as crianças também. No começo, perdia muito a paciência para fazer meu filho estudar. No final do dia, ele também está cansado e sem poder sair. Na semana passada, por dois dias não consegui fazê-lo assistir às aulas. Tudo bem, tirei o domingo para fazer as atividades da escola. Tente adequar seu tempo, não se cobrar e não estressar a criança”, recomenda Rubia.
Confira o que as quatro contaram para a EXAME:
Bem no começo da quarentena, em março, Paula conversou com seu marido para estabelecer o que era prioridade para eles naquele momento. Eles decidiram que deveria ser a saúde e que não fariam nada que colocasse em risco isso.
“Já tira um pouco o peso. Ficava pensando se não poderia pedir ajuda para um parente, mas não é recomendado. Então, sabendo que não existe outra coisa que poderia fazer, definimos o que seria possível”, conta ela.
Para ela, isso significou estabelecer uma rotina junto com o marido em que suas agendas de trabalho girassem em torno das necessidades da filha.
“No meio da ‘não-rotina’ combinamos nossos compromissos pensando no horário que ela acorda, quando tira soneca e das refeições. Nós revezamos horários de manhã e de tarde quando um dois precisa estar 100% com ela, sem chamadas ou reuniões”, conta.
Na outra ponta, com sua equipe, Paula fez melhorias na comunicação e passou a delegar mais tarefas. Ela organiza sua lista de responsabilidades de acordo com a prioridade de entrega, para não atrasar ou segurar decisões que dependem dela.
“Temos receio de dividir as coisas e não queremos ser vistas pedindo ajuda. No Nubank, temos uma cultura de fazer muito juntos, mas é um desafio para mães e mulheres pedirem ajuda. Acho que uma dica é para que todas tentem conversar com outras pessoas, outras mães, pais, colegas na empresa e amigos, sobre o que está passando. O mundo inteiro está passando pela pandemia, são poucas vezes que podemos dizer isso. E não precisa se desculpar por ser mãe”, diz.
Para Rubia, é muito desafiador conciliar as aulas online do filho com seus horários de trabalho, mas ela logo estabeleceu uma rotina para si e colocou horários “sagrados” que reserva para o Heitor, em especial o almoço.
Ela aproveita a paixão dele por arte, dando todos os materiais para ele soltar a criatividade, para ter momentos de calma e se dedicar ao serviço da empresa.
Antes da quarentena, Heitor já conhecia bem o trabalho da mãe, que o levou para visitar o escritório da PicPay em Vitória algumas vezes. Agora, ele sempre marca presença nas reuniões da empresa.
“Vira e mexe ele vem atrás da câmera e participa da reunião. Ele naturalmente foi aparecendo. Ele entende o momento que estamos passando, que não pode sair na rua e que estou trabalhando. Ainda assim, ele é criança e às vezes pede atenção. Ele fala: ‘mamãe, chega, essa é última reunião por hoje’. Na hora que eu paro, minha atenção é total para ele. Já fizemos festa do pijama e piquenique na sala”, conta ela.
Ao incluir o filho e ser transparente com sua equipe sobre os horários que são exclusivos dele, ela abre o caminho para que seu time e colegas na empresa também compartilhem suas dificuldades pessoais.
“No começo, até me incomodava se ele ia atrapalhar a reunião, mas todo mundo foi muito receptivo. Na primeira reunião da semana, começamos com 10 minutos para as pessoas falarem do final de semana, fica um espaço aberto para a galera se posicionar e compartilharem seus sentimentos”, disse ela.
Desde março, a rotina da Juliana mudou completamente: na área de trade marketing, ela era responsável por organizar eventos internos e externos da Royal Canin e estava sempre viajando a trabalho. Se sua motivação era o contato constante com pessoas novas, foi difícil para se adaptar ao isolamento. Mas ela não reclama do tempo a mais que ganhou com a filha Alice.
“Ela estava acostumada com as viagens. Eu nunca menti para ela, acho importante dar essa visão do trabalho para ela. Na escola, explicaram que as aulas iam parar por causa da pandemia e eu falei que ia começar a trabalhar em casa. Ainda assim, os primeiros dias foram confusos. Ela entendia que a mãe em casa significava a folga de final de semana, quando estou disponível para brincar com ela. Demorou uma semana para ela entender que estar em casa também poderia significar trabalho”, conta Juliana.
Para ela, o horário para o almoço e para as atividades de escola são inteiramente da Alice. E ela tenta envolver a filha dentro da rotina de responsabilidades. “Eu a chamo para cozinhar comigo e lavar a louça. Ela faz uma bagunça enorme, mas se diverte e gosta de estar junto”.
Juliana conta que o posicionamento da empresa durante a pandemia ajudou muito a tirar um grande peso das costas. Segundo ela, foi comunicado com clareza a todos que o momento era atípico e que não estariam medindo a performance de cada um.
“A diretoria deixou muito claro. Meu gestor tem filhos grandes já e nunca sinto nenhum julgamento quando uma reunião é interrompida pela minha filha. Eles nos falaram que o principal é a nossa segurança. Eu me sinto vista, sinto que meu primeiro papel é como ser humano e como mãe. Nesse momento, não temos condições para perfeição. Não precisa ser a melhor mãe, a melhor profissional e a melhor dona de casa”.
“Entrei na Amaro há dois anos e sempre trabalhei no escritório, adoro o home office, mas... fazer home office, com o marido e duas crianças, isso é diferente do home office real. Mudou tudo. Os meninos deixaram de ir à escola. E obviamente também não pedimos para a babá vir, todos tem direito de se cuidar”, conta Denise.
Ela acredita que não existe melhor forma para fazer tudo funcionar, mas encontrou um equilíbrio com sua família. No começo da semana, ela fecha sua agenda, de trabalho e das crianças, com as reuniões e tarefas mais importantes do serviço e os horários bloqueados para o Luca e o Daniel.
O Luca, de 5 anos, está no processo de alfabetização, então ela e o marido dividem as aulas que precisam acompanhá-lo para garantir que esteja fazendo as atividades. Com o mais novo, que ainda está no ensino infantil, eles são mais flexíveis. “Se ele não quer entrar na aula, não tem problema. Se ele estiver aprendendo cores, nós ensinamos com uma brincadeira”.
Eles tentam normalizar a vida com pequenas coisas, como horário de dormir e das refeições. Com a divisão do tempo entre o casal, a porta fechada do escritório virou um sinal: se um dos dois está ali dentro, está trabalhando; se está fora, é só deles.
“Claro, às vezes algum deles abre a porta e fala: ‘acabou o horário, hora de brincar”, diz Denise.
Ela também acredita que nada precisa ser perfeito agora. E que o momento difícil pode se tornar mais leve quando se foca nas coisas positivas: eles estão passando mais tempo com os filhos, acompanhando a escola e ensinando a ter responsabilidades em casa.
“Mas está longe de ser perfeito. E tudo bem. Eles estão vendo mais televisão do que eu gostaria, comendo mais da mesma comida. Tudo bem se comem mais nuggets. Você tem que abrir mão de algumas coisas e ficar bem com isso. Essa é uma das coisas principais: entender que está tudo diferente no momento e tudo bem fazer as coisas como consegue”.