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Na Cacique Pneus, lugar de mulher é na borracharia

A presença constante das jovens da família Carvalho deu à Cacique Pneus, empresa de serviços automotivos do Piauí, uma gestão diferenciada

Marina Carvalho (à esq.) e a irmã Patrícia Rodrigues: desde quando assumiram, em 2008, a Cacique quase triplicou de tamanho, passando de 150 para 432 funcionários  (Marcio Anderson)

Marina Carvalho (à esq.) e a irmã Patrícia Rodrigues: desde quando assumiram, em 2008, a Cacique quase triplicou de tamanho, passando de 150 para 432 funcionários (Marcio Anderson)

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Da Redação

Publicado em 28 de novembro de 2013 às 14h53.

São Paulo - Pneus. Graxa. Troca de óleo. Posto de gasolina. Essas palavras lembram um universo tipicamente masculino. À frente de um negócio que agrega todas essas características, no entanto, está um time bem feminino: as três netas de dona Maria Inês Carvalho, fundadora da Cacique Pneus, empresa familiar de Teresina, capital do Piauí, que atua na prestação de serviços para carros e caminhões.

A própria Maria Inês administrou o negócio ao lado do marido, Audir Lages Carvalho, desde sua fundação, em 1968, quando abriram um posto de gasolina na capital. “Minha avó administrava um comércio junto com o marido, numa época em que as esposas ficavam em casa e cuidavam das crianças”, conta a neta Patrícia Carvalho Freitas Rodrigues, de 33 anos, que hoje lidera o negócio ao lado das irmãs Luciana, de 30, e Marina, de 24. As netas assumiram a empresa há três anos, quando sua mãe, Lourdes Amélia, filha de Maria Inês, se afastou por problemas de saúde.

Embora Patrícia tenha se interado cedo dos negócios da família (aos 18 anos ela já comandava uma loja de serviços em Teresina que hoje conta com 35 funcionários), ela se preparou para a função. Fez administração de empresas, estudou inglês em Michigan, nos Estados Unidos, por um ano, passou pelo cargo de diretora comercial e de recursos humanos até assumir parte das funções que a mãe exercia. Aos 30 anos, quando passou a comandar a companhia, a Cacique tinha 150 funcionários, duas lojas de serviços automotivos (que fazem alinhamento, balanceamento e troca de óleo), uma renovadora de pneus, duas bases de combustível de atacado e um posto em Uruçuí, no sul do Piauí. 

Coisas de mulher

Ao assumir o comando da empresa, uma das primeiras iniciativas de Patrícia foi contratar uma psicóloga para criar uma área estratégica de recursos humanos. “Ter um RH pode ser comum na região Sudeste, mas é algo inovador no Piauí”, diz ela. Com a contratação da profissional, a Cacique também inovou ao dar aos colaboradores vale-refeição, plano de saúde e odontológico.

O próximo passo foi avançar na esfera de desenvolvimento, formalizando seus treinamentos. Em um deles, os gerentes das filiais discutem com suas equipes, mensalmente, temas como orçamento doméstico, identidade organizacional, inovação e criatividade. O modelo ajuda a disseminar as práticas e as estratégias, além de integrar os colaboradores. Além disso, os funcionários recebem treinamentos técnicos e todos, ao ingressar na empresa, têm uma visão geral dos negócios. “É preciso entender que nem sempre o empregado sabe o que vai fazer quando entra na companhia”, diz Patrícia. “Por isso, ele precisa de treinamento para conhecer suas funções e o que a organização espera dele.”  

A Cacique também fez ações simples e pontuais, como dar ao colaborador um valor em dinheiro pelo dia do aniversário e fechar todas as lojas no dia 31 de dezembro, quando as metas são alcançadas. Esse tipo de ação são as preferidas da família, pois demonstram o reconhecimento às pessoas. “Amar e servir”, lema repetido pela fundadora, passou de mãe para filhas. “Isso é uma coisa de mulher”, diz Patrícia. Os benefícios simples, agregados a uma gestão profissional, são facilmente assimilados pelos funcionários, que reconhecem a preocupação da empresa com a equipe. No ano passado, a Cacique Pneus se inscreveu pela primeira vez no Guia Você S/A-Exame – As Melhores Empresas para Você Trabalhar e conseguiu entrar para o seleto time. 

Do simples ao sofisticado

A novidade trouxe um desafio para a empresa, que passou a receber 80% mais currículos, cartas de congratulações dos concorrentes, placas de fornecedores, visitas de professores e até convites de palestras. A gestão simples, portanto, está começando a se sofisticar. Para dar conta da demanda externa, Patrícia comprou um sistema de recursos humanos, intregou-o à folha de pagamento, e criou uma pesquisa de clima e avaliação de desempenho eletrônica. O próximo passo é estruturar um plano de cargos e salários, ainda neste ano.

A forte presença feminina na Cacique também estimula uma gestão participativa e compartilhada. Hoje, a diretoria da empresa é composta pelos membros da família, quatro mulheres e dois homens: Patrícia, suas duas irmãs, seu marido, o tio Audir Filho (irmão de sua mãe) e sua esposa. E todos eles têm uma linha direta com os funcionários, literalmente. Os 432 colaboradores — dos frentistas aos herdeiros — estão conectados por uma ferramenta que permite bate-papo online com qualquer pessoa do grupo. Se alguém tiver dúvida de algum benefício ou quiser dar uma sugestão, pode chamar um diretor na hora, assim como os diretores aproveitam a ferramenta para dar os parabéns no dia do aniversário de cada um.

Em cima desse bom relacionamento, Patrícia já prepara um plano de sucessão. Ela tem dois filhos, Eduardo, de 9 anos, e Rafael, de 2, mas “eles vão ser médicos”, brinca a executiva. Portanto, para garantir a continuidade dos negócios, ela pediu para cada diretor e gerente indicar três pessoas fora do vínculo familiar com capacidade para assumir a liderança no futuro. Hoje, a empresa já tem 15 colaboradores no programa sendo preparados para ocupar as funções da família. “Se não nos prepararmos, teremos um blecaute de líderes”, alerta a executiva. Entre os 15, dez são homens e apenas cinco são mulheres. Apesar de esses números revelarem uma tendência de a Cacique se tornar mais masculina no futuro, Patrícia acredita que, no funil, as mulheres se sobressaem. Pela natureza do setor, hoje já ingressam mais homens do que mulheres na empresa, mas elas passam à frente nas promoções. Atualmente, dos 19 gerentes, assessores de direção e diretores, 42% são homens e 58% são mulheres. 

Mulheres e negócios

Num momento em que companhias globais de grande porte se desdobram para ter mais mulheres em cargos de liderança, o exemplo simples da Cacique Pneus mostra que uma gestão feminina traz, sim, resultados para o negócio.

Desde 2008, a Cacique praticamente triplicou de tamanho. Dos 150 colaboradores, hoje são 432 — mais 28 vagas em aberto. Além das lojas de serviços automotivos (cada vez mais e maiores), agora a família também administra lojas de conveniência das bandeiras Shell e Ipiranga. De um pequeno posto em Uruçuí, hoje existem dez espalhados pelo Piauí. O comércio expandiu para fora do estado: até o fim do ano serão quatro postos de combustíveis e duas lojas de conveniência em São Luis, no Maranhão. E o faturamento subiu de 123 milhões para 168 milhões de reias em 2010

Os fornecedores e parceiros, como Goodyear e Ipiranga, insistem para a família abrir lojas em outras capitais do Nordeste, para aumentar sua atuação. Por causa disso, a família criou no ano passado uma área de inteligência, a qual, por meio de indicadores, o responsável avalia as propostas, estuda as normas, mapeia o mercado, observa as possibilidades de ganhos e perdas e depois sugere as ações —  abrir uma loja, um posto, aumentar alguma já existente ou incrementar os serviços.

A expansão dos negócios é um desafio, diz Patrícia, que, seguindo os passos da mãe, é hoje presidente do Sindicato das Indústrias de Recauchutagem, Prestação de Serviços e Reforma de Pneus (SindPneus) e diretora da Federação das Indústrias do Estado do Piauí (Fiepi). “Ela demanda planejamento de pessoas e capitação de recursos, além de dar um frio na barriga.” O frio na barriga também faz parte da gestão feminina que tem dado certo. 

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