Carreira

Longe dos rankings internacionais

Abrir as portas para a comunidade acadêmica internacional e trazer pesquisadores e estudantes estrangeiros pode não ter o efeito que as universidades desejam, alerta o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)

Presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Almeida Guimarães (Ruy Baron / VOCÊ S/A)

Presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Almeida Guimarães (Ruy Baron / VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2013 às 16h24.

São Paulo - Em entrevista a VOCÊ S/A Jorge Almeida Guimarães, o presidente da maior agência financiadora de pesquisas do país diz considerar salutar o aumento das relações internacionais na academia, mas desacredita os rankings internacionais elaborados pelos países ricos, acusando-os de usar as avaliações para atrair estudantes da América Latina, da Ásia e da África para suas universidades. 

VOCÊ S/A - Como o senhor avalia esse movimento de algumas universidades brasileiras de se internacionalizar como uma das maneiras de melhorar suas posições nos rankings internacionais de avaliação?

Jorge Almeida Guimarães - De uns poucos anos para cá, começaram a aparecer rankings da qualidade das universidades no mundo todo, que partiram principalmente da Inglaterra, da Austrália, dos Estados Unidos e da Nova Zelândia. Essas iniciativas escondem algumas intenções. Uma delas é que a educação virou um comércio e o objetivo é dizer para países que têm fragilidade educacional, como os da América Latina e os de quase toda a Ásia e África, que “mandem seus estudantes para nós”.

Estamos falando de um público-alvo de 50 milhões de alunos só na América Latina. A Ásia descobriu isso e já criou os seus próprios rankings. Todos eles têm de ser vistos com muito cuidado. 

VOCÊ S/A - Qual o motivo para isso? 

Jorge Almeida Guimarães -  A Europa não tem jovens. Já há países, como Itália e Espanha, fechando escolas primárias por falta de crianças. Haverá uma enorme crise mundial em universidades de bom padrão por falta de jovens. Isso é perceptível nos centros de pesquisas espetaculares que existem na Alemanha, na França, na Inglaterra e em outros países.


Eles estão vazios e, quando tem gente, são estrangeiros. Na Inglaterra, por exemplo, é exorbitante o que eles cobram dos estudantes que não são britânicos e a qualidade está muito precária. A Inglaterra era o segundo na recepção dos nossos bolsistas e passou para o sexto lugar. Estamos restringindo a ida para lá porque o orientador só aparece a cada três ou quatro semanas. Muitos não concluem os cursos porque brigam com o orientador, que não aparece. Isso não interessa para nós. 

VOCÊ S/A - Então, o senhor não coloca muita fé na internacionalização de algumas universidades brasileiras? 

 Jorge Almeida Guimarães - Temos um país com apenas 10% da população com nível universitário e um déficit imenso de alfabetização. Temos boas universidades, reconhecidas internacionalmente, como a USP. É óbvio que sabemos quais são as melhores universidades do mundo. Mas esses rankings têm outros interesses, e mesmo universidades boas para os nossos padrões no Brasil não vão aparecer nunca no topo dos rankings internacionais porque não interessa aos países que realizam esses levantamentos.

Existem artigos, como o de um ex-assessor do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, publicado na revista científica Nature, que concluem mais ou menos o seguinte: China, Brasil e Índia estão fora. Nunca vão poder ter um padrão educacional como uma universidade inglesa. Diante deste raciocínio, é válido aumentarmos o intercâmbio com pesquisadores e estudantes de outros países, mas não é isso que fará o Brasil entrar no topo dos rankings internacionais.

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