Carreira

Lisa Lilley, a energia feminina da Ferrari

Engenheira responsável pelo combustível da escuderia conta como desbravou um dos últimos ambientes ainda sob domínio masculino

Lisa Lilley, engenheira química da Shell: "O maior choque foi para as pessoas que trabalham comigo" (Divulgação/Shell/Shell)

Lisa Lilley, engenheira química da Shell: "O maior choque foi para as pessoas que trabalham comigo" (Divulgação/Shell/Shell)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 7 de novembro de 2010 às 15h06.

São Paulo - Neste domingo (7), o piloto espanhol Fernando Alonso vai acelerar seu carro da Ferrari nos 4.309 metros do circuito de Interlagos com grandes chances de arrematar seu terceiro troféu no campeonato de Fórmula 1.

Como muitos amantes da escuderia italiana, Lisa Lilley acompanhará cada minuto do trajeto com o coração a sair pela boca. “Depois do último GP Brasil, minha pressão jamais se recuperou”, diz.

Mas ela não é uma torcedora comum. Há cinco temporadas, essa engenheira química inglesa de 36 anos acompanha a equipe italiana ao redor do mundo. Como gerente de tecnologia da Shell, empresa parceira da Ferrari, é ela quem lidera a equipe responsável por produzir e monitorar o combustível que abastece os carros pilotados por Fernando Alonso e Felipe Massa nesta temporada.

Lisa é uma das poucas mulheres a desbravar o mercado de trabalho que se forma em volta dos circuitos de Fórmula 1. O domínio masculino, contudo, não intimida a inglesa de 1,70 m que é obrigada a usar uniformes feitos para homens – a Ferrari só tem uniformes femininos para recepcionistas.

“Acho que o maior choque foi para as pessoas que trabalham comigo. Afinal, quando eu entrei, eram apenas homens na equipe”, afirma. “Eu falo muito, faço compras e como muito chocolate. No começo, eles estranharam”.

Após cinco anos convivendo com uma colega de trabalho, a equipe da Ferrari parece pronta para lidar com o sexo feminino no ambiente profissional. No próximo ano, outra mulher irá assumir a função de supervisionar a parceria entre Shell e Ferrari.

Carreira
Lisa nunca fez o tipo de torcedora fanática por Fórmula 1. “Eu sabia como funcionava porque meu pai gosta, mas não fui aquela criança que acompanhava a temporada durante todos os fins de semana”, diz.


(Divulgação/Shell)

Engenheira química com experiência em gestão projetos e desenvolvimento de produtos, ela afirma que foi a carreira que a escolheu. “Eu nunca imaginei que teria esse tipo de oportunidade. Mas sabe quando tudo se encaixa?”.

Trabalha no departamento de pesquisas da Shell há 15 anos. “A princípio, a companhia me rejeitou. Mas criei uma outra maneira para tentar emprego na Shell e me inscrevi para o processo de seleção do centro de pesquisas”.

Durante as entrevista de emprego, a engenheira, então recém-formada, era, em média, cinco anos mais jovem do que os outros candidatos. “Na segunda fase, tínhamos 45 minutos para apresentar nossa pesquisa do doutorado. Mas eu tinha acabado de terminar a graduação e não tinha uma pesquisa”, diz.

Desde 2005, Lisa dedica-se à missão de garantir o casamento mais eficiente entre os motores da escuderia e o combustível. Por isso, suas atividades não estão restritas aos circuitos. Mesmo à distância, ela atua junto a um time de outros 50 técnicos cujo objetivo é desenvolver novos produtos para a escuderia.

Na temporada, suas energias dividem-se entre gerenciar a cadeia logística de abastecimento dos carros e o monitoramento do combustível durante as corridas.

Junto com outros dois analistas, ela passa as horas anteriores à largada em um pequeno laboratório montado no circuito para verificar se os produtos estão dentro das especificações determinadas pela Federação Internacional de Automobilismo.

Quando a corrida termina, sua tarefa é pegar amostras do lubrificante para avaliar as condições do motor. Ao fim do campeonato, Lisa corre para os laboratórios da Shell no Reino Unido com a missão de adaptar os conhecimentos adquiridos na Fórmula 1 para a vida real.

Em um vídeo publicado no site da Shell, a engenheira química afirma que seu emprego é o melhor da companhia. Afinal, quem não adoraria viajar ao redor do mundo junto a uma das principais equipes de Fórmula 1?

“Mas esse é o lado glamuroso. Por ano, fico 200 noites longe de casa. Minha vida se são aeroportos, pistas de corrida e hotéis”, diz. Para o ano que vem, quando deixar as pistas e assumir um outro cargo na Shell, Lisa só planeja se mudar para uma cidade um pouco mais agitada. O objetivo, agora, é resgatar um pouco da vida social deixada para trás a cada temporada. 

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