Larry Summers: universidades precisam ser lugar de livre pensamento (Simon Dawson/Getty Images)
Repórter de Carreira
Publicado em 10 de maio de 2023 às 10h03.
Última atualização em 13 de maio de 2023 às 13h09.
De Valência, Espanha*
Em tempos de polarização e movimentos de grupos para banir quem pensa diferente, a ideia de que as Universidades precisam estimular os estudantes e tirá-los de suas zonas de conforto é algo defendido pelo economista Larry Summers, ex-secretário do Tesouro americano. Summers, que foi reitor da Universidade de Harvard durante cinco anos e, atualmente, é presidente emérito da instituição, encerrou o V Encontro Internacional de Reitores, evento para debater tendências de educação e sociedade organizado pela Universia, empresa de educação do Banco Santander.
O americano lembrou o período em que esteve à frente de Harvard, quando muitos estudantes se queixavam com ele sobre coisas que havia ouvido em sala de aula. “Eu dizia que se eles não se sentissem incomodados em Harvard, então, havia sido um fracasso. A educação precisa ser algo que desafia, que incomoda. A universidade precisa fazer você pensar em coisas que não tinha pensado antes. Se você não quer se sentir desconfortável é melhor ficar no quarto na casa dos seus pais”, afirmou.
Em um contexto no qual tem aumentado a censura a livros em escolas americanas, quando só em 2022 a American Library Association (ALA) recebeu 1269 solicitações de banimento de livros no país, Summers advogou pela importância do livre pensamento dentro da academia. “Muitas das piores coisas é quando governos metem a mão e decidem o que deve ser ensinado ou não. O controle intelectual não pode acontecer”, disse.
A urgência de as Universidades se reinventarem e estarem mais conectadas com as profissões do futuro e o mercado de trabalho também foi uma preocupação expressa por Summers, que foi entrevistado por Ana Botín, presidente do Banco Santander.
“As Universidades não podem ter sucesso se elas não preparam os alunos para os trabalhos que as empresas estão dispostas a pagar. E você não vai conseguir isso se as instituições não se associarem de forma eficaz com as empresas. Precisamos da teoria, mas precisamos também que o conhecimento tenha um impacto no mundo real. Minha esperança é que, nos próximos anos, a brecha entre as empresas e universidades diminua”, disse.
A importância de o conhecimento acadêmico não ficar restrito apenas às instituições foi a tônica da fala de Summers. O americano, que também é presidente do conselho consultivo internacional do banco Santander, relembrou o protagonismo da pesquisa acadêmica em descobertas que impactaram a sociedade nos últimos anos, como a vacina contra o vírus da covid-19.
“Quando o século XXI for escrito, as Universidades mais bem-sucedidas serão aquelas que deram oportunidades para descobertas de coisas exponenciais (...) Que foram além das fronteiras da própria instituição”, declarou.
O ex-secretário do Tesouro também defendeu a ideia de que as universidades, assim como as companhias privadas, precisam encontrar mecanismos para prestar contas para a sociedade. “Todas as empresas, ano a ano, são analisadas. E, a partir disso, entendemos se elas irão por um bom o mau caminho. Também precisamos disso nas universidades, em termos de feedback”, declarou. Esse tipo de feedback, segundo Summers, é o que vai contribuir para as universidades progredirem e não ficarem acomodadas.
Mas ele também admitiu que as universidades são diferentes de outras instituições. E que, por isso, as métricas de desempenho para a academia precisam ser pensadas de maneira diferentes daquelas utilizadas pelas empresas. “Um dos livros mais importantes para o curso de Direito, em Harvard, foi escrito por um autor que, antes disso, não havia publicado nada. Então, sim, há várias nuances e precisamos ter cautela quando pensamos sobre como podemos exigir esse prestar contas. Mas, ao mesmo tempo, a sociedade tem o direito saber o que a universidade produz”, disse.
Por fim, o americano alertou para a necessidade dos reitores e líderes das universidades encontrarem um equilíbrio entre a experimentação e a busca por estratégias sólidas. “Se não houver erros, se não tivermos insucessos nos anos vindouros, então, quer dizer que não assumimos desafios. Isso é um perigo maior do que inovar e dar errado. Há 20 anos eu proferi esse discurso para estudantes em Harvard e isso continua sendo uma realidade".
*a jornalista viajou a convite do Santander