Saúde mental: apesar de apontarem o estigma como barreira, profissionais querem aprender mais sobre o tema (Klaus Vedfelt/Getty Images)
Janeiro está chegando ao fim e com ele a campanha "Janeiro Branco", movimento criado para conscientizar a sociedade sobre a importândia da saúde mental.
E tirar o estigma do tema nunca foi tão importante. Isso porque, apesar de cada mais empresas falarem abertamente sobre saúde mental e criarem iniciativas sobre o assunto, 73% dos trabalhadores afirmam que o medo do julgamento e da discriminação é a principal barreira para não procurar ajuda profissional.
Pelo menos é isso que aponta uma nova pesquisa da Caliandra Saúde Mental, empresa especializada em criar programas corporativos de saúde mental, que ouviu 333 pessoas.
O tabu em torno da saúde mental e o sentimento de vergonha ou insegurança foi apontado por outros 70% dos profissionais como entrave para que pessoas com transtornos mentais busquem ajuda.
"Muitos profissionais têm medo de falar sobre um sofrimento emocional com seu líder, com receio de que pensem que está fazendo corpo mole ou apenas justificar uma possível queda na produtividade. É preciso romper essa barreira e isso deve começar com o apoio dos líderes”, diz Arthur Guerra, médico psiquiatra e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
Entre os desafios relacionados ao campo da saúde mental que mais impactam no trabalho estão o desgaste, cansaço e estresse, representando 49% das respostas, sendo que as alterações de humor e falta de comunicação assertiva vêm logo na sequência com 22% e 10%, respectivamente.
As descobertas estão em linha com outros estudos que mostram o papel que o trabalho desempenha na piora ou mesmo estímulo de doenças mentais nos trabalhadores.
Não à toa, há exatamente um ano a Organização Mundial de Saúde (OMS) mudou a classificação do burnout, definindo-a como uma doença ocupacional.
"O trabalho ao mesmo tempo que pode ser fonte de estresse e tensão, em alguns casos também auxilia alguns indivíduos a manter a saúde mental. Há quem, quando fica ocioso, fica mais vulnerável. Mas, para isso é preciso ter as condições adequadas, sem cobranças exageradas ou líderes tóxicos", afirma Guerra.
O especialista comenta que fornecer um ambiente de trabalho saudável é importante também para aquelas empresas que estão preocupadas com ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa).
"Não cabe às empresas diagnosticar ou tratar os funcionários, mas, além de fornecer um ambiente que não contribua com o desenvolvimento de questões emocionais, é preciso possuir uma estrutura para apoiar os funcionários e orientá-los a buscar ajuda. Tudo isso está muito conectado com a responsabilidade social do ESG", diz.
E, apesar dos pontos de atenção, a pesquisa também apontou que mais pessoas estão interessadas em saber mais sobre saúde mental. Isso porque 39% dos entrevistados disseram que esperam aprofundar seu conhecimento sobre saúde mental e outros 13% querem aprender a identificar o sofrimento emocional.
Desde 2014, no primeiro mês do ano acontece o Janeiro Branco, movimento criado para conscientizar a sociedade sobre a importândia da saúde mental.
Coordenada pelo Instituto Janeiro Branco, a campanha de 2023 tem como tema "A vida pele equilíbrio", alertando a importância de encontrar harmonia entre todas as facetas da vida.