Detetive Pikachu: profissional que trabalhou no filme dá dicas para a entrevista de emprego e portfólio (Warner Bros/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 12 de setembro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 13 de setembro de 2019 às 16h15.
São Paulo - Não foi do dia para a noite que Fellipe Beckman se tornou líder da equipe de cenário do live-action Detetive Pikachu.
Em 2004, quando teve o primeiro contato com a produção de arte em 3D, ele ainda morava em sua cidade natal, em São Luís do Maranhão, e não tinha acesso a internet em casa. Mesmo assim, ele buscava recursos onde podia, estudando sozinho ou fazendo cursos em São Paulo e em Belém.
Começando como freelancer nas áreas de arquitetura e marketing, ele foi desenvolvendo suas habilidades através dos anos e, do Brasil, foi para a Rússia.
“Depois de cinco anos morando fora, percebi que não tinha mais para onde evoluir na carreira. Foi quando senti a necessidade de voltar para o sonho antigo de trabalhar no cinema”, conta ele.
Assim, ele aceitou um emprego fixo em Dubai no marketing, mas investiu seus esforços para preparar seu portfólio para a transição de carreira. Em 2018, ele conseguiu ser contratado para a equipe de arte do filme Alita: Anjo de Combate, na Double Negative, em Vancouver, no Canadá.
“Não foi fácil. Eu apliquei cinco vezes para a empresa. Fui insistindo muito até conseguir. Após nove meses, acabou meu contrato e surgiu a oportunidade na empresa que trabalho hoje. Foi uma mudança grande, fui de artista para líder da equipe”, fala ele.
Hoje, ele trabalha na MPC, em Montreal, mas estará no Brasil para a Unhide Conference, no dias 27, 28 e 29 de setembro, para contar a todos os detalhes da sua jornada no mercado de entretenimento e arte.
A conferência é o maior festival de arte digital da América Latina para o público de estudantes e profissionais independentes de áreas como 3D, Ilustração 2D, Animação, Publicidade e Fotografia.
Além de Beckman, o evento terá a presença de palestrantes e profissionais que trabalharem em grandes produções, como Vingadores, Spiderverse, Predador, Star Wars, Transformers e A Bela e a Fera. Também acontecerão workshops e exposições de grande agências e produtoras, como a O2 e a Vetor Zero.
Para quem sonha em trabalhar na área, um grande destaque será a presença inédita no Brasil da agência de recrutamento internacional The Focus. A empresa terá um espaço no evento para buscar talentos na área de efeitos visuais e de animação.
Eles terão vagas abertas em Montreal, Vancouver, Londres, Los Angeles, Toronto, Adelaide e Bangalore. As principais contratações serão de animadores para trabalhar no live-action Call of the Wild, estrelado por Harrison Ford e com previsão de estreia para 2020.
A empresa é responsável pelo recrutamento de grandes estúdios, como a MPC - Moving Picture Company, Mill Film. Mr. X e o Mikros Animation Montreal.
Os profissionais brasileiros têm grande destaque no exterior e não faltou opções de convidados para um dos principais idealizadores do evento, Milton Menezes, sócio da UNHIDE School e da Lightfarm Studios.
Segundo ele, os brasileiros são conhecidos no exterior por seu trabalho criativo e de qualidade. No entanto, ele afirma que essa grande presença fora do país é sintoma da escassez de oportunidades no mercado interno.
“Nossos melhores e mais disputados profissionais foram para fora. Nossa missão com a conferência é que eles voltem para ensinar como conseguiram conquistar uma carreira de sucesso”, fala ele.
O objetivo da conferência também é aquecer o mercado promovendo o contato entre diferentes áreas criativas, da indústria publicitária e cinematográfica para a crescente indústria de games.
Até 2021, o setor deve gerar um faturamento de até 43,7 bilhões de dólares no Brasil, de acordo com a Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia da PwC. A consultoria observou que o país se tornou um polo do mercado de games para dispositivos móveis, com um crescimento estimado de 26% ao ano até 2021.
Os ingressos para a Unhide ainda estão à venda, com o preço inicial de R$ 98 dando acesso ao recrutamento para as vagas e os principais conteúdos de palestras e exibições. Confira todas as informações sobre a conferência no site.
Segundo Menezes, duas coisas são essenciais para conquistar uma vaga no exterior: inglês e um bom portfólio.
“Você não precisa ter diploma e não precisa levar seu currículo, os recrutadores da área não querem saber o que você já fez em texto, eles querem saber em imagens e vídeos. É assim que o artista se comunica”, comenta ele.
Para quem vai tentar as vagas de animação no evento, ele recomenda se preparar com uma fonte fácil para acessar seu portfólio, que deve estar bem organizado.
Na construção do portfólio, Beckman aconselha que o artista não deixe de colocar seus projetos pessoais. Ele também aponta que aprender inglês enquanto estava na Rússia foi essencial para sua contratação pela produtora depois.
“Na entrevista de emprego, é muito comum perguntarem detalhes sobre o portfólio, sobre quais técnicas você usou e quanto tempo levou para finalizar uma arte. Em projetos de cinema, muitas pessoas constroem juntas cada cena, então fica mais difícil apontar suas habilidades individuais”, fala ele.
Para ele, o trabalho como freelancer no começo da carreira ajudou a desenvolver não apenas suas habilidades técnicas, mas sua maturidade profissional. Beckman disse que sua missão como chefe é ser a liderança que nunca teve na área e auxiliar sua equipe.
Um grande diferencial para o mercado são habilidades comportamentais, principalmente flexibilidade e trabalho em equipe.
“Você precisa ter um temperamento bom, saber receber feedback e trabalhar com outros artistas. Embora a área seja criativa, você não está fazendo um trabalho individual e autoral, você tem que seguir a visão do diretor e o cliente é dono do resultado final”, explica ele.