Whirlpool (Raphael Gunther / EXAME/Site Exame)
Claudia Gasparini
Publicado em 25 de maio de 2017 às 06h00.
Última atualização em 25 de maio de 2017 às 06h00.
São Paulo — A seleção para trainees da Whirlpool tem poucos requisitos específicos, mas nem por isso deixa de ser exigente. Basta ver os números do último programa: dos 21 mil inscritos, só 11 foram aprovados pela dona das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid.
Não que sempre haja apenas 11 vagas. Segundo a empresa, o tamanho das turmas pode variar de ano para ano. Se houver x candidatos avaliados como aptos, o grupo terá x pessoas.
O programa tem duração de dois anos e, na sua última edição, exigiu formação universitária concluída entre dezembro de 2014 e dezembro de 2016, além de mobilidade geográfica para as cidades em que a empresa tem unidades: São Paulo (SP), Rio Claro (SP), Manaus (AM) e Joinville (SC). Ainda não há data definida para o próximo programa.
A paulista Helena de Barros, de 23 anos, foi uma das 11 pessoas a passar por pela peneira da Whirlpool no 2º semestre de 2016. Ela conta que a duração e a intensidade do processo exigem muita resiliência do candidato. Além de testes online e dinâmicas de grupo, há entrevistas, avaliação de inglês e painel com os gestores da empresa.
“É uma seleção bastante puxada, com muitas horas de atividades intensas e variadas, e o feedback demora”, explica ela. “Também existe a pressão de ter outros candidatos muito bons e bem preparados ao seu lado”.
Não que a ela faltem boas credenciais. Helena se formou em administração de empresas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e tem inglês e espanhol fluentes. Estudou parte do ensino médio nos Estados Unidos e fez um intercâmbio acadêmico na França durante a graduação.
Aprovada como trainee em novembro do ano passado, ela trabalha atualmente em um projeto na área comercial da Whirlpool na Colômbia, direcionado à inteligência de vendas em países do Caribe, da América Central e parte da América do Sul. Ela permanecerá em Bogotá até dezembro de 2017.
A jovem acredita que suas características comportamentais foram o principal motivo por trás do seu sucesso na seleção. “Todos os aprovados são pessoas dedicadas, adaptáveis e ambiciosas, que querem crescer rápido”, afirma ela. “Acho que consegui demonstrar que tenho o perfil que a empresa procura”.
Segundo Andrea Clemente, diretora sênior de recursos humanos da Whirlpool, a empresa não faz qualquer exigência quanto à formação acadêmica dos candidatos a trainee. O processo é aberto a todos os cursos, com exceção à área da saúde.
O renome da universidade em que o candidato estudou também não é, segundo ela, um critério de seleção. Outra variável sem grande destaque é ter ou não um diploma de pós-graduação.
Por outro lado, experiência internacional ajuda muito. “Valorizamos muito vivências no exterior porque, além de reforçar o domínio de idiomas estrangeiros, é um mergulho na cultura global, o que é relevante dentro de qualquer multinacional”, diz Clemente. Fluência no inglês é obrigatória, enquanto o domínio do espanhol é visto como diferencial.
Candidatos com algum tipo de trabalho voluntário no currículo também são visto com bons olhos. De acordo com a diretora de RH da Whirlpool, a responsabilidade social é um traço importante da cultura da companhia. Parte do tempo do programa de trainee será usado no Instituto Consulado da Mulher, ação social da marca Consul que incentiva mulheres em situação de vulnerabilidade social a empreender.
No entanto, diz ela, nada é mais importante do que a atitude demonstrada pelo jovem. Por isso, a etapa das dinâmicas de grupo é uma das mais decisivas do processo seletivo de trainees. É durante essa fase que os avaliadores observam os candidatos sob o ângulo comportamental.
“Esperamos que o candidato tenha atitudes em consonância com os valores da empresa, que incluem diversidade e inclusão, espírito de vitória, trabalho em equipe, respeito e integridade”, diz ela.
Outro pilar do recrutamento da Whirlpool é o estilo de liderança esperado de todos os funcionários, não apenas dos trainees. Isso inclui a capacidade de “liderar com velocidade”, isto é, tomar decisões precisas com rapidez — uma competência chave em um mercado cada vez mais instável e competitivo.
Clemente destaca mais um traço de liderança que caracteriza o trainee ideal: a capacidade de desenvolver outras pessoas.
Aprovado pela Whirlpool no fim de 2016, o mineiro Paulo Eduardo Franco, de 24 anos, diz que justamente essa característica pode tê-lo ajudado no processo de seleção.
Durante a graduação em engenharia mecânica na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), ele foi diretor de um projeto extracurricular destinado a desenvolver jovens estudantes de engenharia para além do currículo teórico da universidade.
“Foi uma experiência de liderança relevante que eu trouxe ao longo das entrevistas”, conta o trainee. “É um exemplo real da minha trajetória em que ajudei a desenvolver e inspirar outras pessoas, algo que a Whirlpool valoriza muito”.
Assim como sua colega Helena, Paulo também tem experiências internacionais no currículo. Durante a faculdade, fez um intercâmbio acadêmico por um ano na Universidade de Glasgow, na Escócia, ocasião que o ajudou a adquirir fluência em inglês.
“Morei com pessoas de todos os continentes, fiz cursos de fotografia e até de danças típicas”, conta. “Foi uma oportunidade de me abrir para outras culturas e mentalidades”.
Apesar de ser engenheiro mecânico, Paulo acabou sendo alocado em marketing, departamento em que desenvolve um projeto estratégico para ampliar a penetração da máquina lava-louças no mercado brasileiro.
A abertura para novidades — exercitada no intercâmbio na Escócia e fundamental para que ele ingressasse numa área totalmente diferente da sua — é outro traço comportamental que o jovem acredita ter sido importante para a sua aprovação.
A diretora de RH da Whirlpool ressalta que ingressar como trainee na empresa deve ser visto como um compromisso de longo prazo. “Nos 13 anos de existência do programa, já vimos muitos ex-trainees se transformarem em gerentes e diretores”, diz ela. “Queremos jovens capazes de se tornar nossos futuros líderes”.
De olho no futuro, é importante ter certeza de que você combina com a companhia — daí a importância de pesquisar o máximo possível sobre a Whirlpool antes de se candidatar e, claro, ser transparente ao longo do processo seletivo.
“Meu primeiro conselho para os candidatos é extrair o máximo de cada experiência acadêmica e profissional e levar a preparação a sério”, afirma Clemente. “O segundo é: não traga um ‘perfil desejado’ para as entrevistas! Seja espontâneo, aja com naturalidade, ou você pode se perder no caminho se ficar preocupado demais com as expectativas dos avaliadores”.
O trainee Paulo reforça a orientação. “Percebi que tinha uma identificação e uma afinidade reais com a Whirlpool", explica. "Além de conquistar os recrutadores, isso me trouxe energia e motivação para enfrentar as etapas da seleção".
O principal conselho de Helena para aspirantes a trainee é checar o seu alinhamento com o perfil da empresa. Você conhece bem a empresa e se identifica com os valores dela? Se o seu alinhamento for autêntico e visível, garante a jovem, há grandes chances de que você também entre para o time.