Semente: especialista em agronegócio afirma que, com a digitalização do setor, grãos e outras produções possuem muita tecnologia envolvida (Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 31 de agosto de 2022 às 10h38.
Última atualização em 31 de agosto de 2022 às 11h56.
Se você seguiu o caminho mais lógico e respondeu em um computador, errou. Na verdade, essa é uma afirmação do professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, Mateus Mondin. Em entrevista ao Startagro, o especialista afirmou que “numa semente, há muito mais tecnologia embarcada do que em qualquer equipamento de informática, como smartphones, tablets ou computadores”.
A afirmação de Mondin diz respeito a todos os equipamentos, contas, sensores, algoritmos e processamento de dados envolvidos na produção agrícola. O CEO da Agroadvance e empreendedor do agronegócio, Fernando Reis, reforça a afirmação do professor da Esalq. "Os valores investidos em biotecnologia para produção de sementes melhoradas ultrapassam facilmente as cifras dos bilhões de dólares. E isso gerou ganhos enormes para os produtores e para o meio ambiente. Estima-se que para cada R$1,00 investido pelo produtor em tecnologia, retorna a ele R$1,62", explica.
O campo está cada vez mais digitalizado e, para viabilizar esse processo, está contratando. Pelo menos, está tentando. Na prática, as empresas do setor estão com dificuldades para encontrar profissionais qualificados e, como resultado, há 5 vagas disponíveis para cada especialista.
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Mas, para entender como surgiu toda a demanda por profissionais do agronegócio, é preciso entender o papel desse setor, como ele tem passado por uma revolução, por que precisa de tantos profissionais e, por que mesmo pagando, em média, R$ 12 mil por mês, está com dificuldades para encontrar pessoas qualificadas.
Apesar de parecer uma pergunta com resposta óbvia, a explicação é mais complexa do que parece. De fato, o agronegócio é amplamente conhecido como um dos principais setores da economia brasileira. Sozinho, ele foi responsável por um terço de toda a riqueza produzida no país em 2021 e empregou mais de 20 milhões de pessoas, segundo a Esalq. Na prática, significa que um em cada 4 trabalhadores brasileiros atua direta ou indiretamente no setor.
Mas, além disso, o agro também é responsável pela produção de alimentos destinada à mesa dos brasileiros e de várias outras nações. De acordo com um estudo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o Brasil é responsável por cerca de 10% da produção mundial de trigo, soja, milho, cevada, arroz e carne bovina. Essas commodities são a base para a produção de muitos outros alimentos, além de serem usados na alimentação de animais na agropecuária.
A agricultura é uma das mais antigas atividades do homem e foi o que permitiu a sua fixação em um local, promovendo o desenvolvimento de comunidades que se expandiram até a formação de nações. Como uma operação tão antiga, a agricultura passou por muitas evoluções de técnicas e modelos de produção. Mas esse processo não acabou.
Atualmente, o agronegócio brasileiro está se digitalizando e inserindo cada vez mais soluções baseadas na tecnologia e na inovação para resolver problemas do campo, como a finitude do espaço de cultivo em contraponto ao crescimento da população mundial.
Robôs contadores de laranjas, fazendas rosas e verticais, produção de “vespas inseticidas” e microorganismos para substituir agrotóxicos já são uma realidade na produção do campo brasileiro.
Como resultado, o investimento em agritechs bateu recordes. No Brasil, as startups do agronegócio receberam mais de R$ 40 milhões nos primeiros 3 meses deste ano; nos Estados Unidos, esse mercado em crescimento está mais maduro e já recebeu um total de US$ 5 bilhões em investimentos.
Com as mudanças na produção agropecuária, as empresas do setor estão em busca de profissionais que saibam usar a inovação e a tecnologia para resolver os problemas do agro e otimizar a produção ao mesmo tempo que reduz o impacto ambiental. Hoje, são necessários muitos outros profissionais além de agrônomos e veterinários para explorar o potencial do agro brasileiro.
Por isso, a busca por pessoas especializadas no setor tem crescido. Uma pesquisa realizada pela Agência Alemã de Cooperação Internacional em parceria com o Senai e com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul mostrou que nos próximos dois anos, carreiras ligadas ao agronegócio devem gerar mais de 178 mil vagas de emprego.
Mas o levantamento também apontou que a previsão é de que só haja cerca de 32,5 mil profissionais qualificados para essas vagas. Ou seja, há cinco vagas em aberto para cada profissional qualificado hoje, e o mercado precisa de mais especialistas em agronegócio.
E é exatamente essa necessidade que faz os salários ofertados ultrapassarem os dois dígitos. Segundo o Glassdoor, plataforma que reúne vagas de emprego e permite que funcionários informem seus salários e benefícios de forma anônima, o salário médio nacional de um gestor em agronegócio é de aproximadamente R$ 12 mil por mês. Mas em uma pesquisa rápida no site é possível encontrar relatos de uma remuneração que alcança os R$ 26 mil.
Apesar de a imagem construída sobre o trabalho no agronegócio levar a pessoas no campo, hoje, as melhores oportunidades de trabalho no setor estão na implementação de projetos digitais, uma atividade que geralmente é exercida de dentro de um escritório, e sem precisar sair das cidades ou se mudar para o campo. Esse profissional é chamado de Agro Digital Manager e é responsável pela implementação de projetos digitais em propriedades agrícolas.
As principais atribuições desse profissional são identificar e mapear os problemas do campo e coordenar times em busca da solução para necessidades de produtores agrícolas e de todos os stakeholders do agronegócio. Também não é exigida uma formação específica em agronomia ou outras profissões diretamente ligadas à produção no campo.
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