Jair Bolsonaro: deslizes no uso do hífen e da pontuação (Ricardo Moraes/Reuters)
Camila Pati
Publicado em 6 de novembro de 2018 às 14h15.
No dia 1º de novembro de 2018, o eleito Presidente da República Jair Bolsonaro registrou no Twitter:
"O juiz federal Sérgio Moro aceitou nosso convite para o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Sua agenda anti-corrupção, anti-crime organizado, bem como respeito à Constituição e às leis será o nosso norte!"
Mensagem direta
Em nossa Língua, o termo "norte" remete a : região ou ponto situado ao norte em relação ao equador ou a ponto, área etc. tomados como referência; em sentido figurado, "direção, orientação". Nesse último sentido, foi escrita a mensagem.
De acordo com a Ortografia, quando os nomes dos pontos cardeais designarem região (empregados absolutamente), deverá ser feito o uso da inicial maiúscula: o Norte, o Sul, o Nordeste, o Centro-Oeste, o Sudeste. Quando não designarem a região, serão nomes comuns e farão o uso da inicial minúscula: "corri a região de norte a sul", "de leste a oeste", por exemplo.
Além disso, destaco as palavras não hifenizadas ANTICORRUPÇÃO e ANTICRIME, uma vez que o hífen só deveria existir se a última letra do prefixo fosse idêntica à primeira do 2º elemento, como "anti-inflamatório", ou se o 2º elemento fosse iniciado por H: "anti-hemorrágico".
Vejamos, agora, trecho da nota oficial do eminente Juiz Sérgio Moro, em que o hífen, corretamente, não foi usado:
"No entanto, a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito à Constituição, à lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão."
Ortografia liga-se ao padrão, à uniformidade; tal norma está também no Manual de Redação Oficial da Presidência da República. Por essa importante regra, não se confundiu o Norte com o norte; a região com o direcionamento.
Justiça seja feita: o teor da mensagem é muito mais importante; é por meio dela que vemos representantes preocupados com um novo Norte (um novo Brasil!) e com novos nortes.
Sei que o Presidente eleito valoriza a palavra e, cada vez mais, cuidará dela (na publicação acima, o trecho "bem como o respeito à Constituição e às leis" deveria estar entre vírgulas).
Espero que existam assessores muito hábeis que o não deixem cometer deslizes (como vimos, nos governos anteriores, lamentáveis trechos de palestras transformarem-se em piadas).
Com o bom uso argumentativo em textos concisos (algo dificílimo!), Jair Bolsonaro foi eleito; comunicou-se com estratégia e, por isso, teve o voto da maioria da nação.
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DIOGO ARRAIS
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Autor Gramatical pela Editora Saraiva
Professor de Língua Portuguesa
Fundador do ARRAIS CURSOS