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Rio treina 150 superservidores para choque de gestão

Programa da prefeitura do Rio de Janeiro está preparando 150 "superservidores" para dar um choque na gestão do município

Luiz Vieira e Antonio Carlos Tavares: dois dos dez doutores que passaram pelo programa de liderança da prefeitura do Rio (Marcelo Correa/EXAME.com)

Luiz Vieira e Antonio Carlos Tavares: dois dos dez doutores que passaram pelo programa de liderança da prefeitura do Rio (Marcelo Correa/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 19 de fevereiro de 2013 às 18h42.

São Paulo - Eles são superqualificados, têm metas agressivas a cumprir e trabalham para buscar soluções inovadoras e fazer uma gestão de alto impacto. A descrição não bate com a imagem que a maioria das pessoas têm de um funcionário público, mas esse é o perfil do grupo de 150 servidores que estão sendo formados pela prefeitura do Rio de Janeiro para assumir postos-chave na administração da cidade no programa chamado Líderes Cariocas.

Para montar o projeto, a prefeitura do Rio se inspirou em experiências da iniciativa privada. “Observamos as políticas de formação de liderança de empresas como Ambev, Odebrecht e TAM”, diz Pedro Paulo Carvalho Teixeira, secretário da Casa Civil do município do Rio de Janeiro. Os participantes do programa têm metas individuais de desempenho atreladas a um bônus de até dois salários por ano.

A prefeitura identificou 300 postos estratégicos em repartições e secretarias, hoje ocupados, que ao longo do tempo devem ser preenchidos pelos novos gestores. A ideia é que, em alguns anos, o primeiro escalão da prefeitura seja formado por esse grupo qualificado, garantindo um alto padrão de gestão independentemente de mudanças políticas. Segundo a prefeitura, 10% dos gestores assumirão o cargo ainda em 2012. Como o número de postos mapeados é o dobro do de participantes, ela cogita a possibilidade de iniciar uma nova turma.

O ciclo de capacitação desse líder público inclui um curso de gestão na Coppead, escola de pós-graduação em negócios da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além de treinamentos específicos para cada secretaria. Semestralmente, os líderes serão avaliados por um comitê designado pela prefeitura. “Assim podemos identificar necessidades de formação complementar”, diz Pedro Paulo.

Os escolhidos passaram por um processo seletivo com mais de 1 300 inscritos. Candidatos com mestrado e doutorado tiveram preferência — ao todo, 46 mestres e dez doutores foram escolhidos. A avaliação levou em conta ainda o cargo do funcionário, as habilidades em lógica, matemática e comunicação, testadas em uma prova de padrão internacional, e, por fim, as competências em liderança, averiguadas junto ao superior imediato do pleiteante.

O processo seletivo foi conduzido pelo Hay Group, consultoria especializada em gestão de recursos humanos. O nível de exigência foi o mesmo adotado entre empresas privadas, com algumas adaptações. “Tudo tem de ser extremamente transparente”, diz Nestor Azcune, diretor do Hay Group.


Para os candidatos, a transparência é um item atrativo. Com mestrado e doutorado em biociências nucleares, Antonio Carlos Tavares, de 30 anos, professor de ciências no Ensino Fundamental há dois anos, viu no programa a possibilidade de crescer na carreira pública pelos méritos próprios. “Nos processos seletivos internos convencionais tudo é muito na base da indicação”, diz Antonio Carlos. Após concluir a primeira etapa do programa, o professor já foi sondado para assumir novas posições e aguarda uma proposta formal. 

A troca de experiências com profissionais de diversas áreas da administração pública — funcionários de 26 órgãos da prefeitura participam da iniciativa — é outro aspecto valorizado. Para o enfermeiro Luiz Vieira, de 39 anos, mestre e doutor em saúde pública, que atua na capacitação de profissionais da saúde, a abertura de novos canais de comunicação com colegas de outras secretarias terá um impacto positivo na qualidade do serviço prestado aos cidadãos. “Raramente os departamentos se falam, o que limita muito a gestão e atrapalha o dia a dia”, diz Luiz. 

Apesar de recebida com entusiasmo pelos participantes, é previsível que a iniciativa encontre obstáculos na hora em que os gestores tiverem de colocar a mão nas engrenagens da administração pública. Multiplicar a filosofia de gestão entre os mais de 100 000 funcionários do município será um desafio e tanto para os 150 líderes.

“No setor público, a inércia é uma força grande e sempre há resistência a mudanças”, diz Marco Aurelio Santos Cardoso, secretário municipal de Fazenda do Rio de Janeiro, que tem nove funcionários do seu time participando do programa. “Mas a missão do líder é justamente envolver quem está a sua volta”, diz Marco Aurelio. 

Para Rita Fucci-Amato, pós-doutora em gestão e professora da Fundação Vanzolini, de São Paulo, a ideia de que organizações governamentais são refratárias a uma liderança moderna é um mito. “Programas desse tipo são justamente a forma de promover transformações na gestão pública”, diz Rita. Outro risco que corre o programa é o da interferência.

Em política, a negociação de cargos para acomodar quadros partidários ocorre com frequência. É ingênuo acreditar que, na prática, os novos líderes fiquem a salvo dos humores políticos. Desse ponto de vista, a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PMDB) significa uma proteção. “Os líderes contam com o respaldo de cima”, diz o secretário Marco Aurelio. Resta saber se o apoio continuará até o fim deste mandato e, principalmente, a partir do próximo. Até lá, é tempo de os participantes do programa se estabelecerem, na prática, como verdadeiros líderes.

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