Greta Thunberg: emoção e responsabilidade social são destaques no perfil psicossocial da nova geração de líderes (Reuters/Reuters)
“Vocês roubaram meus sonhos e minha infância e minha infância com suas palavras vazias”, disse Greta Thunberg em um discurso tão sério quanto emocionado na Assembleia Geral da ONU no ano passado. Hoje com 17 anos, a ativista é um dos maiores nomes globais relacionados à causa do meio ambiente.
A sueca não representa, no entanto, apenas os ambientalistas, mas o perfil psicossocial de toda uma nova geração de líderes. Isto porque Greta une uma atuação mais emocional a uma noção ampla de responsabilidade social: duas das principais características que definem o comportamento dos novos dirigentes.
O perfil da liderança do futuro foi o foco de um estudo da consultoria LLYC e da Trivu, plataforma que conecta jovens talentos a grandes empresas. Obtida com exclusividade pela EXAME, a pesquisa revela que a próxima geração é adepta de uma gestão com mais emocionalidade – e, ao mesmo tempo, mais responsável.
“Mesmo com uma maior vinculação emocional, eles mantêm uma maior resiliência e, assim, são mais constantes em seus trabalhos”, diz Juan Calos Gozzer, sócio e diretor-geral da LLYC para o cone sul (Brasil, Chile e Argentina). “Isso impacta muito no eixo da responsabilidade, no sentido de dever. É a resiliência emocional que lhes permite que não se rendam facilmente.”
A pesquisa se debruçou sobre a análise das expressões de 120 jovens líderes de 12 países (lusófonos e hispanófonos) em redes sociais como Twitter, Instagram e YouTube, contabilizando palavras e compreendendo as principais diferenças entre as gerações de liderança atual e futura.
Um olhar para a escolha dos verbos, por exemplo, mostra que palavras como “aprender”, “encontrar”, “conhecer”, “entender” ou “escutar” são muito mais comuns na comunicação pública dos jovens.
“Também chama a atenção o surgimento da palavra ‘obrigado’, uma marca na nova geração de líderes, que exercem a gratidão em maior grau”, diz Gozzer.
Os dados da pesquisa também mostram que traços de “altruísmo puro” estão presentes de 50% dos jovens líderes, enquanto aparecem em 27% para a velha guarda. Gozzer acredita que a nova geração tem muito mais consciência de seu lugar no mundo e do impacto de sua ação profissional na sociedade.
“O jovem não vai se ajudar se não puder ajudar os outros também”, diz. “Ele entende que seu benefício depende, em grande parte, do benefício dos demais.”
Esta característica está associada à ideia de autotranscendência – uma das grandes diferenças geracionais apontadas pelo estudo. Trata-se do desejo de deixar um legado, fazer algo para tornar o mundo melhor e promover o bem-estar das pessoas. Em bora soe utópico, estes ideais se traduzem nas ações dos futuros líderes.
Outro ponto de diferença significativa entre as gerações de líderes é a necessidade de estímulos, que aparece com mais força entre os jovens (78%, ante 62% dos mais experientes). “Se você avalia a tendência de olhar para frente e de se preocupar com o impacto que eles querem gerar no mundo, você nota que eles precisam de estímulos que os levem para esta direção”, diz o diretor da LLYC.
Neste sentido, o contato amplo com as redes sociais tem influência importante. Hoje, estes espaços digitais evidenciam a velocidade das mudanças no mundo, em um fluxo constante de novas ideias e novos temas centrais de debate.
“A relação destes jovens com as redes é até simbiótica”, analisa Gozzer. “Eles se alimentam das informações de forma muito mais veloz que os líderes atuais. Também acabam aprendendo mais rapidamente, o que reflete na necessidade constante de criar metas.”