Carreira

Fuja das roubadas de carreira. Veja as armadilhas

Mapeamos as principais armadilhas em que os profissionais podem cair no mercado de trabalho e contamos como evitá-las

Perna desvia de abacaxi (Montagem sobre foto de Marcelo Spatafora/EXAME.com/Exame)

Perna desvia de abacaxi (Montagem sobre foto de Marcelo Spatafora/EXAME.com/Exame)

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 19h06.

São Paulo - No dicionário, o termo “roubada” é definido como engano, situação difícil que se presumia boa, mau negócio. Na vida real, quem já caiu numa roubada provavelmente acha que o verbete do Aurélio não é capaz de refletir o tamanho do problema. O mundo do trabalho está cheio de roubadas, e a maioria delas aparece quando você está negociando aquilo que tem de mais valioso: seu emprego.

Neste momento em que o Brasil registra um recorde de 92 milhões de pessoas ocupadas, há uma oferta inédita de vagas e de oportunidades de mudar de emprego e um risco igualmente alto de cair numa cilada de carreira, como o golpe da falsa agência de emprego, por exemplo, em que até executivos experientes perdem dinheiro na esperança de encontrar uma colocação melhor. Esse crime, que já foi frequente no passado, voltou com força em 2011.

Outra roubada atual são os sites de emprego. O número de reclamações de pessoas que se sentem lesadas por portais que servem de intermediários entre profissionais e empresas nunca foi tão grande. Só no Procon de São Paulo, 479 reclamações foram feitas no primeiro trimestre deste ano envolvendo situações de cobrança indevida de assinatura. “Há casos de contratos de serviço não cumpridos e  promessas falsas de vagas”, diz Leila Cordeiro, assistente de diretoria do Procon-SP.

No caso dos sites de emprego, embora não exista um crime, há, no mínimo, uma falta de clareza na proposta de serviço. Os portais de vagas vendem apenas a aproximação com empresas, mas as pessoas acham que vão encontrar um novo emprego.

O site Reclame Aqui recebe, em média, 7 000 reclamações por dia e registrou nos últimos 12 meses 2 886 queixas de consumidores contra empresas de recursos humanos e recolocação — Catho e Manager lideram o ranking de queixas.  

Alguns cuidados básicos devem ser tomados para não cair em roubadas de carreira. A ansiedade por encontrar uma vaga pode levar a investir tempo e dinheiro em vão. Da mesma forma que sair aceitando a primeira proposta “maravilhosa” que surgir pela frente ou cair na tentação da contraproposta pode se revelar uma tremenda cilada.

Roubada nº 1

O golpe da agência de emprego

Recentemente, uma operação conjunta das polícias de São Paulo e do Pará fechou as portas da BR Quality, empresa de recrutamento que pode ter faturado mais de 1 milhão de reais iludindo candidatos para vagas que não existiam. Durante as investigações surgiram indícios de que o grupo agia há cinco anos, trocando várias vezes de nome.

Também adotava a marca CareerPlanning. As vítimas eram escolhidas em sites de currículos conhecidos e a tática era sempre a mesma: funcionários dessas empresas telefonavam para os candidatos se apresentando como headhunters com a promessa de conseguir altos salários. 

Golpes como esses são mais comuns do que se imagina e proliferam no Brasil inteiro. Basta fazer uma busca no Google para encontrar reclamações contra empresas de recolocação ou agências de emprego. O Procon orienta quem se sente lesado a prestar queixa na delegacia mais próxima, registrar uma reclamação no órgão e depois na Justiça.


“Nenhum contrato é irrevogável ou irretratável”, diz Leila, do Procon de São Paulo. Mas, antes de ter a desagradável surpresa de que entrou numa furada, ao receber o contato de uma empresa recomenda-se procurar informações sobre ela na internet e com amigos e conhecidos.

“Desconfie de cara de quem liga e diz que seu currículo foi aprovado ou que o salário é bem acima do seu”, diz Silvio Celestino, coach em São Paulo. Ninguém vai oferecer a vaga logo de cara. Em qualquer empresa, o recrutador está sondando mais de uma pessoa e, principalmente se você não o conhece, o primeiro contato é justamente de aproximação.

Roubada nº 2

Pagar por uma falsa consultoria de carreira 

Outra situação bastante comum é o candidato ser abordado por empresas que vendem serviços de recolocação profissional. No papo, elas garantem a vaga, mas o contrato prevê apenas serviços de ajuda, como preparação para entrevistas de emprego, construção de currículo e formas de usar o networking.

Após pagar a taxa, a única coisa que o profissional ganha é uma lista de companhias que teriam recebido uma cópia do currículo, sem nenhuma maneira de comprovar a eficácia do serviço.

Nem as outras orientações são oferecidas. “Ler o contrato antes de assinar qualquer documento é fundamental”, diz José Augusto Figueiredo, diretor de operações da consultoria DBM para a América Latina. “A procura de emprego é um momento de fragilidade psicológica e muitas pessoas caem na conversa de aproveitadores.”

No Brasil, o setor de recrutamento não é regulado. As consultorias sérias seguem regras internacionais: não cobram do candidato, mas das empresas que as contratam para encontrar candidatos. “Essa coisa de prometer vaga para quem procura emprego não existe”, diz a especialista em carreira Vicky Block.

“Ninguém deveria pagar por algo que não vai receber.” A dica é uma só: nunca pague nada diante de uma promessa de emprego. A Thomas Case, empresa que faz recolocação, explica que são as organizações que contratam a consultoria para achar candidatos.

“Você só deve pagar por serviços que vão prepará-lo para as entrevistas de emprego, dinâmicas de grupo e reformulação do currículo.” Fuja dos consultores picaretas, que promentem uma vaga mediante pagamento.  

Roubada nº 3

O mau coach

Ser coach virou moda. Como muitas empresas têm recorrido a serviços de coaching para melhorar o desempenho de seus executivos, mais profissionais têm procurado se certificar na área como uma opção interessante, e mais rentável, de carreira — um novo tipo de plano B. A atividade movimenta cerca de 20 milhões de reais por ano no Brasil, segundo a International Coach Federation (ICF), que certifica profissionais em coaching.


O problema é que nem todos são preparados para exercer a prática. Muita gente acha que basta pagar um dos muitos cursos que existem no mercado, que custam entre 6 000 e 12 000 reais para virar coach. Outros acreditam que a certificação já é suficiente. “Tanto os cursos quanto a certificação são um balizador inicial”, diz Eva Hirsch Pontes, diretora de relações com o mercado da ICF.

Contratar só pela credencial é um erro. É como escolher o sanduíche apenas pelo pão e desprezar o recheio. A certificação é importante, mas deve estar aliada a uma experiência prática. “Além disso, o ideal é buscar um profissional que tenha atuado na sua área ou tenha ocupado cargos de mesmo nível que o seu”, ressalta a coach Eliana Dutra, do Rio de Janeiro, para quem profissionais que têm apenas o curso são como os motoristas que fazem o curso de direção na autoescola. “Tirar a carta não quer dizer que a pessoa é um bom motorista”, avalia.

Não aceite cegamente o coach que sua empresa oferece. Se você for contratar um por conta própria, procure conversar com pelo menos três coaches antes de escolher. Peça referências a amigos ou a profissionais de recursos humanos. E, prioritariamente, ao iniciar o serviço, converse com o coach e defina as regras logo na primeira sessão.

Definir o sigilo do que será falado, por exemplo, é crucial para evitar surpresas. Se a empresa estiver pagando, estabeleça o que pode e o que não pode ser dito. É contra qualquer regra de coach sério transmitir à empresa as informações que o funcionário revelou durante um diálogo. Se você suspeitar de algo, interrompa o processo: é um direito seu. “A química entre ambas as partes é ponto fundamental”, ressalta Eliana.

Roubada nº 4

A proposta irrecusável que vira uma fria

Antes de trocar seu emprego atual por uma das inúmeras propostas tentadoras que podem aparecer devido à atividade econômica, faça uma boa investigação sobre a empresa que oferece a vaga. Vale acionar a rede de contatos para ter informações sobre a saúde financeira da companhia, ver se ela está passando por uma reestruturação, se é ética ou não e se há sinais de que vai ser comprada.

Procure conhecer quem são os investidores e o fundador. “As pessoas ficam tão eufóricas quando enxergam a oportunidade de turbinar o salário que se esquecem de conferir essas coisas e correm o risco de entrar numa fria”, diz João Baptista Brandão, professor da FGV Management, de São Paulo. 

Se você conhece alguém que trabalha na companhia, tente descobrir se quem o chamou está na linha de tiro ou vai mudar de área. Também procure saber se há dificuldade de a vaga ser preenchida. Indague a razão de a posição estar aberta e por que o antigo ocupante deixou o posto. Em alguns casos, a organização sabe que a vaga é problemática e a maneira de preenchê-la é oferecer mundos e fundos ao candidato.


Se ninguém tiver ouvido falar da empresa, todo cuidado é pouco. “Na dúvida, fique onde está”, recomenda João Baptista. “Não dá para atirar no escuro porque você pode ficar sem nada no final das contas.” Cuidado também com setores instáveis ou sob risco de bolha. Um exemplo atual é o mercado de compras coletivas: há muitos sites, altos investimentos e uma desconfiança de que o negócio é insustentável. Há salários bons na área, vale a pena mudar? 

Roubada nº 5

A entrevista de mentirinha

Atualmente, existe uma prática entre conhecidas consultorias de recrutamento que trabalham posições de média gerência de usar a credibilidade que têm para atrair candidatos e assim obter informações de profissionais ou do mercado. Elas chamam a pessoa para uma entrevista de emprego, fazem milhares de perguntas e obtêm uma ficha completa do profissional, com salário, idade, formação e competências técnicas.

Só que a vaga não existe de fato. Todas as informações servem para alimentar o banco de dados da empresa de recrutamento, que mapeia melhor o profissional e o mercado. O profissional, na ingenuidade de estar participando de um processo seletivo, entrega tudo de graça.

Esse tipo de prática antiética passou a ocorrer devido ao mercado aquecido, que acirrou a disputa por bons profissionais. A VOCÊ S/A ouviu pessoas dessas empresas e outras fontes do mercado que confirmaram em off os procedimentos.

Essas firmas de recrutamento usam um sistema agressivo de metas para remunerar seus consultores, que são demitidos quando falham. Pressionados pelos números, os consultores precisam ter à mão candidatos para entregar aos clientes o mais rápido possível; caso contrário, um concorrente pode fechar a posição antes. É o chamado recrutamento com base em sucesso. Diferentemente das empresas de executive search, que trabalham com altos executivos em contratos de exclusividade, as empresas de recrutamento não têm a vaga na mão.

Disputam com seus concorrentes para ver quem encontra primeiro o candidato com o perfil que se encaixa na posição aberta. A roubada, para o candidato, é a ilusão de estar participando de uma entrevista de emprego de verdade. “Para quem tem a expectativa de que concorrerá a uma vaga, é uma frustração”, afirma Rafael Souto, sócio da Produtive, empresa de recolocação profissional.

Isso porque, depois de ser sabatinado sobre quanto ganha, quais são os benefícios e a situação da companhia em que está, o candidato sai com respostas do tipo: “Seu salário está fora do mercado, mas ficaremos com seu currículo” ou “Vamos passar para a empresa seu currículo e depois entraremos em contato”. Porém, depois dali nada acontece. 


Embora seja antiético por parte das empresas, o contato com o recrutador não é totalmente desinteressante para o profissional. “Manter contato com recrutadores e headhunters é importante em qualquer fase da carreira, porque nunca se sabe o dia de amanhã”, diz Peter Mason, sócio da Talent Solution, empresa de executive search. 

Quando for chamado para uma entrevista, a dica é: marque um encontro, mas não considere que aquela vaga existe de fato até que o recrutador dê informações claras a respeito de quem está contratando.

Para José Augusto, da DBM, uma maneira de identificar o que o consultor está querendo, se ele for enigmático ao revelar o nome da empresa que abriu a vaga, é perguntar se existe uma oportunidade real ou se o desejo dele é alimentar um banco de dados. Saber detalhes da posição e salário ajuda a identificar se é uma cilada. Então, nada de arriscar no escuro. Peça tantas informações quanto o recrutador. Troque as suas informações por outras reais.

Roubada nº 6

A tentação da contraproposta

Não é porque seu chefe usa todas as armas possíveis para segurá-lo nesse momento de falta de talentos que você deve ceder a uma contraproposta. A menos que exista uma negociação saudável, fique atento para não ceder a uma tentação que trará arrependimento no futuro.

“Às vezes, diante da iminente saída de um funcionário, o gestor acorda, percebe que não vinha dando atenção àquele profissional e tenta cobrir a oferta com medo de perdê-lo”, diz Valéria Fernandes, diretora de RH da Even Construtora. “Se o profissional estava insatisfeito e decidiu ficar só pelo aumento de salário, a frustração aparecerá de novo em pouco tempo”, afirma.

Jamais faça leilão do tipo “quem paga mais” entre as ofertas da nova organização e as contrapropostas do atual empregador. Você pode ficar mal com ambas. Para Rafael, da Produtive, não se deve esperar pelo momento da saída para negociar uma condição melhor.

“Se decidiu sair, vá”, diz. Se ficar, o profissional terá sua imagem desgastada tanto na atual empresa, que sabe o quanto ele estava desmotivado e pode falhar no comprometimento, quanto na que fez o convite. 

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