Aline Ballester, coordenadora de relações institucionais da Audaces: “Quando entrei, há sete anos, éramos 30 funcionários. Hoje somos 200 e vamos contratar mais 100 em 2012.” (Michel Téo Sin/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2013 às 19h26.
São Paulo - Em fevereiro de 2010, uma boa oportunidade de negócio ocorreu ao engenheiro Guilherme Bernard, diretor da empresa de energia Reason, de Florianópolis: criar um equipamento para organizar a infraestrutura de rede em subestações elétricas. Mas ele não conseguiria desenvolvê-lo sem ajuda.
Procurou, então, o colega Nestor Fernandes, da pequena companhia de telecomunicações Traceback, e propôs uma parceria. Onze meses depois, nascia a empresa Link Precision, combinando as tecnologias das outras duas.
O resultado da joint venture é um produto inovador em fase final de desenvolvimento, já com um cliente garantido. Quando a Link Precision passar a fabricá-lo, vai gerar novas vagas em diversos níveis, de executivo a operário da linha de montagem.
Arranjos bem-sucedidos como esse têm contribuído para o boom do setor de tecnologia na região de Florianópolis. A capital catarinense vem ganhando destaque em algumas publicações internacionais que se referem a ela como “Vale do Silício”, expressão que define a região da Califórnia, nos Estados Unidos, famosa por ser um polo de empresas inovadoras.
Bem mais modesta, Florianópolis abriga 550 empresas de software, hardware, equipamentos e serviços com 5 500 trabalhadores diretos e crescimento médio anual de 30%. O déficit de profissionais no setor em 2011 é estimado em 2 000 vagas, mostra a pesquisa da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate).
Lá, todo ano surgem de 30 a 40 novas empresas. Em comum, essas companhias têm sua origem no meio universitário, a passagem por incubadoras empresariais e o investimento em parcerias com companhias já existentes.
“Temos um ambiente de estímulo ao empreendedorismo, com espaço para jovens que saibam identificar aplicações criativas para novas tecnologias”, diz o presidente da Acate, Rui Gonçalves. Esse movimento também tem beneficiado profissionais de outras áreas, como sociologia, filosofia, psicologia e relações internacionais.
“Nossas empresas precisam de gente que entenda o comportamento das pessoas, as redes sociais e para onde a sociedade está caminhando.” Há demanda por profissionais no nível executivo e para as áreas comercial e técnica. Os recrutadores locais procuram gerentes de marketing, vendas e tecnologia, especialistas em compras, desenvolvedores e programadores de software.
Adriano Dias, de 47 anos, trabalha há dois anos e meio na Dígitro, que atua com tecnologia da informação e telecom. Graduado em engenharia e Direito, há um ano e dois meses ele é executivo sênior para projetos especiais e inovação, assessorando a vice-presidência de tecnologia.
Com 3 500 clientes e crescimento médio de 20% ao ano, a empresa faz, entre outros produtos, o Guardião, sistema utilizado pela Polícia Federal para gravar conversas telefônicas.
Recentemente, Adriano esteve na Alemanha para prospectar negócios e visitar centros de excelência em inovação. Ele acredita que os novos empreendimentos que estão sendo criados em Florianópolis são um primeiro passo para a construção de clusters, grupo de empresas de um mesmo setor em uma determinada região.
A Acate tem estimulado as empresas de tecnologia de diferentes segmentos (saúde, segurança, agronegócio) a criar parcerias caso desejem explorar um novo mercado, como fizeram a Reason e a Traceback. Parcerias como esta têm sido chamadas localmente de verticais. As vantagens da associação são o compartilhamento de boas práticas e gestão dos negócios, representatividade política e economia de custos.
No setor de educação, 22 empresas catarinenses se reuniram e atualmente faturam juntas 40 milhões de reais por ano. Elas atendem 20 000 clientes. “Temos um ecossistema bem diferenciado e complementar”, diz Sílvio Kotujanski, diretor da Complex Informática, uma das empresas do grupo.
Um dos projetos em desenvolvimento conjunto é o modelo de Escola do Futuro: “Trabalhamos em conceitos de uso de tecnologia nas escolas e a ideia é alinhar nossas atividades de pesquisa e desenvolvimento em prol desse modelo”.
A troca de conhecimento pode acelerar a descoberta da solução e dilui o investimento. Outro grupo que vem prosperando é o de games, que reúne sete empresas. “Estamos trabalhando em um projeto de uma plataforma de jogos educativos para ensinar matemática”, diz o diretor da Palmsoft, Dennis Kerr Coelho.
E, ao contrário do que se possa imaginar, esse modelo não reduz vagas de emprego. Pelo contrário, as empresas estão recrutando e têm tido dificuldade para achar profissionais.