Cena do filme "Até que a Sorte nos Separe": falta de diálogo sobre dinheiro ainda é um problema nas famílias brasileiras (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2013 às 12h35.
São Paulo - Diz o ditado que marido e mulher não devem falar sobre problemas na cama. O drama é que alguns resolvem levar o conselho ao extremo e nunca conversam sobre dinheiro, o que pode causar um rombo na conta bancária. "Existe solução para a falta de comunicação sobre finanças entre os casais, mas é preciso disciplina, transparência e dedicação", diz o consultor financeiro Gustavo Cerbasi.
A fórmula parece ter interessado: seu livro Casais Inteligentes Enriquecem Juntos virou best-seller e já vendeu 980.000 exemplares em todo o mundo. E agora vai virar filme. "É a chance de levar a educação financeira de forma criativa e divertida a um público muito maior, principalmente o brasileiro médio, que lê pouco", diz o autor. Dirigido por Roberto Santucci e estrelado por Leandro Hassum e Danielle Winits, o longa-metragem Até Que a Sorte Nos Separe começou a ser filmado no fim de janeiro e tem estreia prevista para outubro.
Segundo o diretor, as questões financeiras nunca estiveram tão presentes quanto hoje no dia a dia das pessoas, tornando o tema ideal para o roteiro de um filme. "O Brasil está vivendo um boom econômico e cada vez mais as pessoas têm de aprender a lidar melhor com suas finanças. O assunto é extremamente atual e de interesse geral", afirma Roberto. Seu maior desafio? "O mesmo de sempre: usar o entretenimento como uma forma de educar, e não apenas de distrair", diz.
A história de Tino, pai de família perdulário que ganhou na Mega-Sena e nunca se preocupou com o futuro, promete inspirar solteiros e casados a investir em uma vida financeira mais equilibrada e planejada. Ao ganhar — e gastar — os 80 milhões de reais do prêmio, ele descobre que está em apuros, devendo dinheiro no banco e sem grana para pagar as contas.
Para piorar, decide esconder a situação financeira da família para proteger Jane, sua esposa grávida. A confusão já estaria completa, mas sempre pode piorar. Com a ajuda dos filhos, o imprudente Tino começa a colocar em prática estratégias pouco ortodoxas para tentar sair da lama sem que sua esposa tome conhecimento do rombo na conta: pede dinheiro emprestado para os amigos, simula um roubo, vende eletrodomésticos e automóveis e apela até para o adiantamento da herança de um tio rico.
Como era de se esperar, nada disso dá certo e Tino acaba recebendo uma ordem de despejo. Ao descobrir tudo, Jane o acusa de não confiar nela e sai de casa. Só depois de chegar ao fundo do poço, Tino resolve seguir os conselhos de seu vizinho consultor financeiro e começa a levar a vida de forma mais planejada.
Invista na conversa
Muita gente deve sair do cinema repensando seus valores, com planos de aprender a equilibrar a vida e entender que não basta ter dinheiro. "Situações de endividamento só têm graça no cinema", diz Mauro Calil, administrador de empresas e educador financeiro. No dia a dia, é impossível cair na risada quando a conta está no vermelho.
E a falta de diálogo entre os casais piora de fato a situação. "Há o agravante de que, no Brasil, a maioria das pessoas casa com comunhão parcial de bens, o que mistura todo o patrimônio e as dívidas", explica Mauro. Ou seja, você é responsável pelos compromissos que seu cônjuge assume, mesmo sem consenti-los. A solução? Quebrar os tabus e falar sobre dinheiro. “Não é assunto do primeiro encontro, mas, no momento em que o relacionamento fica mais sério, é preciso colocá-lo em pauta”, diz Mauro.
Além disso, é bom ficar atento a armadilhas, como pedir dinheiro emprestado a amigos ou vender os bens para pagar dívidas. A primeira opção é delicada e extrema e, segundo Mauro, não deve ser encarada como uma solução. "Antes dos amigos, é melhor recorrer a parentes. E nunca peça dinheiro à mesma pessoa mais de uma vez", aconselha.
No caso de se desfazer de bens para apagar incêndio, o especialista só recomenda se a pessoa estiver realmente muito endividada. "O melhor é buscar aumento de renda no emprego, ou mesmo estabelecer renda adicional com empreendedorismo ou aplicações financeiras", diz o educador financeiro.
Dizem que a vida imita a arte. No caso do ator Leandro Hassum, a situação funcionou ao contrário. Assim como Tino, seu personagem, ele já passou por situações financeiras complicadas e usou, literalmente, da criatividade para se superar. "Quando minha filha nasceu, precisei fazer telegrama animado para levantar dinheiro", relembra. "Foi difícil, mas salvou muita fralda, valeu muito a pena", diz.
Ao contrário de seu personagem, Leandro sempre manteve a situação às claras com sua esposa. "Acho mais fácil tomar decisões em conjunto do que tentar matar sozinho o problema no peito. Outras sugestões ajudam a encontrar os melhores caminhos."