Carreira

Ficou mais difícil trocar de emprego

Uma pesquisa da VOCÊ S/A apurou como está o ritmo de contratação das empresas segundo a fonte mais confiável — quem está tentando se recolocar. Saiba o que esses profissionais têm encontrado

Desemprego: pessoas olham vagas de trabalho em cartazes no centro de São Paulo (REUTERS/Paulo Whitaker)

Desemprego: pessoas olham vagas de trabalho em cartazes no centro de São Paulo (REUTERS/Paulo Whitaker)

DR

Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2014 às 12h20.

São Paulo - Em julho, o saldo de empregos criados no Brasil foi de 11.796 postos de trabalho, o pior resultado para o mês desde 1999, segundo o Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE). O recuo foi de 84% na comparação com julho de 2013. Para descrever a situação, o ministro da pasta, Manoel Dias, disse que, naquele mês, a geração de empregos “chegou ao fundo do poço”. 

O ano de 2014 não está sendo fácil para a economia brasileira: a previsão no início deste mês é que o produto interno bruto do país cresça apenas 0,52% neste ano e a inflação siga em alta e avance rumo ao teto da meta estabelecida pelo governo. Paralelamente, alguns setores da economia vêm perdendo dinamismo.

A área de serviços, campeã de geração de empregos, deverá crescer apenas 0,7% neste ano, abaixo dos 2,2% registrados em 2013 — e muito aquém dos 5,5% de crescimento em 2010. Na indústria, a expectativa é que a produção encolha pelo menos 1% na comparação com o ano passado. O principal sinal disso é que as fábricas brasileiras têm usado apenas 68% de sua capacidade produtiva.

Em julho, a VOCÊ S/A realizou uma enquete com 3.254 internautas por meio do site de pesquisas Survey Monkey para saber como os profissionais estão percebendo o mercado de trabalho neste momento. Do total da amostra, 62% eram graduados ou pós-
graduados — 9% declararam estar sem trabalho.

Aparentemente, o quadro destoa dos dados oficiais. De acordo com o MTE, desde 2011 o grupo que mais cresce no mercado de trabalho brasileiro é de profissionais com ensino superior. Para Wilson Amorim, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), a contradição é apenas aparente.

“Tivemos um aumento muito grande na quantidade de pessoas cursando o ensino superior. Então, quanto mais cresce a quantidade de gente com esse nível de formação, a disputa pelas posições que exigem graduação fica muito maior”, diz ele.

E o efeito da maior disputa por menos vagas já começa a ser sentido nos salários. “Até o ano passado, dois terços de quem conseguia um novo emprego recebiam uma proposta melhor do que sua última colocação. Neste ano, estamos notando uma tendência de inversão nesse quadro”, afirma Carla Rebelo, diretora-geral de operações da Hays, empresa de recrutamento que está fechando os dados da edição mais recente de sua pesquisa anual de salários.

Para quem respondeu à pesquisa da VOCÊ S/A, essa percepção é clara. Tanto que mais da metade dos pesquisados (51,19%) disse estar disposta a aceitar um emprego com salário menor do que o anterior. Quase 19% deles disseram que aceitariam qualquer proposta, só para voltar a trabalhar.

“O achatamento de salários é uma realidade em momentos como este, principalmente para profissionais com poucos diferenciais no currículo além do diploma”, diz Anna Cherubina, consultora de gestão de pessoas e professora do MBA da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ).

Mesmo com a disposição de aceitar um salário menor, a recolocação não parece estar sendo fácil. Entre as pessoas que responderam ao questionário da VOCÊ S/A, 30% disseram estar procurando emprego há mais de um ano. Se somados àqueles que não têm trabalho há mais de seis meses, o total atinge quase a metade dos respondentes. Os dados estão em linha com o quadro encontrado pela consultoria Lens & Minarelli, de recolocação de executivos.

No primeiro semestre deste ano, só 36% de seus clientes conseguiram um novo emprego em menos de seis meses. Em 2013, esse índice ficava em 43%. “Além disso, temos recebido mais pessoas para recolocar — um indicador de que tem havido mais demissões”, diz José Augusto Minarelli, presidente da consultoria.

Parte desse quadro está refletida no noticiá­rio recente. No setor de serviços, maior empregador do país, apenas 59.000 vagas de trabalho foram abertas em maio, o menor número em 20 anos. Pior ainda é a situação na indústria, que fechou 73 000 vagas de trabalho de maio de 2013 a abril de 2014. Só na indústria automotiva, já são mais de 6.500 demissões neste ano.

Gigantes como General Motors e Ford prepararam planos de demissão voluntária, enquanto a Mercedes-Benz suspendeu contratos de trabalho. “As dispensas na indústria não se restringem aos operários, como muitos pensam. Executivos, principalmente de áreas como qualidade e produção, também têm seu emprego ameaçado”, diz José Augusto. Mantido o ritmo, 2014 deverá ter a maior redução de vagas na indústria desde 2008.

Para os especialistas, outra hipótese para explicar a demora na recolocação captada pela pesquisa da VOCÊ S/A é que, diante do mercado menos favorável, os profissionais estejam optando por investir em formação enquanto esperam oportunidades melhores. Algumas escolas de negócios já têm notado essa tendência.

“Especializações e MBAs têm tido maior procura por executivos mais jovens, em transição de carreira. Os mais experientes buscam cursos mais curtos para preencher pequenas defasagens no currículo”, diz Fernando Tobal Berssaneti, da Fundação Vanzolini. Na Fundação Instituto de Administração (FIA), que criou um curso gratuito para executivos sem emprego há mais de quatro meses, o número de inscritos saltou de 382, em 2012, para 467, no ano passado.

Outra saída para quem tem um pé-de-meia tem sido investir no próprio negócio, o que poderia ajudar a explicar por que 30% dos pesquisados pela VOCÊ S/A disseram não estar procurando um novo emprego. Entre os clientes da Lens & Minarelli, 15% decidiram trabalhar por conta própria no primeiro semestre deste ano. Em 2013, só 11% tiveram a mesma atitude. “Quando a recolocação fica muito difícil, mais gente vê isso como a única saída”, diz José Augusto.

Para quem não tem o capital necessário para iniciar um negócio próprio ou comprar uma franquia, uma das alternativas é o trabalho autônomo. Sinal disso é que, diante do crescimento acelerado dos pedidos de CNPJ por parte de profissionais liberais, o governo alterou recentemente as regras para o enquadramento desses trabalhadores no regime simplificado de tributação.

“Atuar como pessoa jurídica, prestando serviços para outras empresas, muitas vezes será a porta de entrada para um emprego quando houver estabilização do quadro econômico”, afirma Anna Cherubina, da FGV-RJ. 

Acompanhe tudo sobre:economia-brasileiraEdição 196EmpregosMercado de trabalho

Mais de Carreira

Klabin abre 50 vagas para estagiários de diferentes regiões do Brasil

Agulha no palheiro? Este é o líder que toda empresa procura, mas poucos estão prontos para o desafio

Como usar a técnica de repetição espaçada para aprender novas línguas

Quer ser influente no trabalho? Saiba como fazer as perguntas certas, segundo especialista