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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h32.
Os Ribeiro gerenciam sua vida pessoal e profissional como se fosse uma empresa -- muito bem-sucedida, por sinal
Dez horas da manhã de domingo. Os Ribeiro tomam café juntos. Para eles, esse encontro semanal tem a mesma importância que uma reunião de acionistas para qualquer empresa multinacional. Além de colocar pais e filhos a par das novidades de cada um, o café da manhã de domingo é especial por outro motivo. É o momento em que Sérgio, a mulher, Cristina, e os filhos, Vanessa e Leonardo, de 15 e 10 anos respectivamente, revisam seu plano estratégico. Isso mesmo! A família Ribeiro traçou uma estratégia que prevê os sonhos de cada um até 2019 -- e as ações pessoais, profissionais e financeiras necessárias para atingi-los. O plano não é a única ferramenta que ajuda o casal carioca e seus filhos a atingir suas metas. Balanço patrimonial, demonstração de resultados, balanced scorecard e indicadores de desempenho -- indispensáveis a empresas bem-sucedidas -- também são usados para organizar as questões financeiras da família e considerados essenciais para que atinjam os objetivos listados no planejamento.
Saneamento básico
O executivo de 43 anos começou sua história como muitos brasileiros: afogado em dívidas. Há pouco mais de dez anos, Sérgio e a mulher viviam no limite dos gastos. "A gente simplesmente reagia aos problemas financeiros conforme eles apareciam", diz Cristina, que é formada em análise de sistemas e administração. A situação só começou a mudar quando o segundo filho chegou. O imóvel onde moravam já não comportava a família. A tarefa de economizar para comprar um apartamento maior deu início à organização financeira dos Ribeiro. No início, era bastante simples: uma tabela de entradas e saídas ajudava a controlar o orçamento e a prever despesas futuras (veja tabela Centavo a Centavo). E, com uma disciplina ferrenha para cortar gastos, eles tentavam juntar dinheiro. Nem assim conseguiram o montante necessário para a casa nova. "Vendemos tudo: o carro, a câmera de vídeo, os móveis e o computador e ainda tivemos de pedir empréstimo para família", conta Sérgio.
Em 1995, o casal finalmente se mudou para o apartamento novo em Laranjeiras, bairro da zona sul carioca. O negócio foi fechado à vista, mas sobraram dívidas com os parentes. O esforço que se seguiu para pagá-las mudou também a forma de planejamento do executivo. "Por que não trazer para casa as ferramentas de gestão que faziam a empresa onde eu trabalhava ser mais rentável?", ele se perguntou na época. Mesmo incrementado com planilhas mais detalhadas, o planejamento da família ainda estava basicamente restrito à área financeira. Sérgio implantou em casa o mesmo sistema rigoroso de controles usado no banco em que trabalhava. "Já que aumentar as receitas não estava sob meu controle -- afinal eu era empregado --, a única saída seria administrar as despesas", lembra. O primeiro objetivo, além de pagar as dívidas, é claro, era economizar seis meses de gastos fixos para emergências.
A gestão da família Ribeiro, no início, não escapou de sobressaltos. Empolgado com o resultado dos cortes nas despesas, Sérgio se tornou tão obcecado com economia e controle que chegou a pedir a Cristina que trocasse a escola dos filhos por uma mais barata. "Eu não conseguia demonstrar o valor tangível de uma escola melhor, e conseqüentemente mais cara, na vida dos nossos filhos", lembra Cristina. "O Sérgio só conseguia pensar nos números." Durante um ano, as discussões sobre o assunto perturbaram os encontros de domingo. Até que em 1998, um presente do filho fez o pai mudar de perspectiva: um desenho e uma nota de 1 real. "É para ajudar na economia da casa", justificou Leo, na época com 6 anos. Nesse momento, Sérgio se deu conta de que estava esquecendo que o planejamento devia ser em conjunto. "Afinal, somos uma família."
A noção de organização familiar que o executivo carioca estava dando aos filhos incluía apenas sacrifícios. Eles passaram, então, a incluir aspectos pessoais e profissionais no planejamento. Sérgio começou também a aceitar concessões (a escola bilíngüe dos filhos continuou no orçamento doméstico) e a discutir as decisões com menos rigidez. "Percebi que não fazia sentido viver obcecado com um futuro que não chega nunca", diz. Foi aí que a família Ribeiro elaborou seu primeiro plano estratégico. Cristina, por exemplo, definiu que quer abrir um ateliê de pintura para dar aulas e unir essa paixão a outra: os vinhos, pois tem formação de sommelier. O processo para atingir essas metas já está andando. Ela começou a cursar a faculdade de artes plásticas em 2000. "Eu e meu marido definimos exatamente onde queremos chegar. Mas isso não impede que nossos filhos mudem de idéia", explica ela. "Nós apenas os estamos ensinando a pensar no futuro."
Em desenvolvimento
O sistema de administração da família Ribeiro está em evolução constante. Em 2000, depois de implantar o sistema de balanced scorecard (BSC) na empresa onde trabalha, Sérgio levou a idéia para casa. (O BSC permite mensurar a satisfação dos clientes -- no caso, a família -- e a eficácia dos processos de organização internos e das finanças. E usar esses indicadores para corrigir a trajetória, se necessário, e atingir a estratégia definida.) O BSC dos Ribeiro inclui três perspectivas: pessoal, profissional e financeira. A família tem hoje um sistema complexo de implantação e verificação da eficácia das ações necessárias para atingir seus objetivos. "A dimensão financeira é apenas um meio para atingir o que estipulamos", explica Sérgio. "Ficar rico, no meu caso, é permitir que minha família realize seus sonhos." (veja tabela Pote de Ouro)
O esquema de Sérgio parece ter transformado a vida dos Ribeiro numa chatice sem fim? Pois fique sabendo que é justamente o contrário. Não há nada de matemático no relacionamento deles. Sérgio costuma sair com o filho Leonardo para andar de bicicleta, é motorista da filha Vanessa nas festinhas de adolescentes e adora jantar fora com Cristina. "Vivo insistindo para irmos ao cinema todos juntos. O problema é que as crianças já não querem mais a nossa companhia", brinca Sérgio. Elas mudaram rápido de opinião, no entanto, quando foram convidadas para uma temporada na Europa -- a família embarca daqui a dois meses. Isso é uma prova de que a fórmula tem sido bem-sucedida. O casal já tem os investimentos necessários para pagar a faculdade de moda da filha no exterior e o curso futuro do filho. O sonho de Sérgio? Mudar para Florianópolis e ganhar qualidade de vida. Acredite: eles vão chegar lá.
A ESTRATÉGIA DA FAMILIA RIBEIRO
Atingir renda proveniente de investimentos suficiente para cobrir as despesas mensais (acima do ponto de equilíbrio = ficar rico)
Fazer previdência privada para não depender do INSS
Poupar para mandar os filhos cursar faculdade no exterior
Mudar para Florianópolis
Comprar uma casa à beira-mar
Montar ateliê da Cristina
Comprar um barco
Conclusão do curso de artes da Cristina
Cuidar da saúde física e mental agora para aproveitar o futuro de forma equilibrada
COMPLEXO DEMAIS?
O sistema da família Ribeiro foi se aprimorando e se tornando complexo com o tempo. Sérgio é pós-graduado em controladoria e ciências contábeis e, para ele, sistemas de gestão não são novidade. "Quem está começando dificilmente terá o grau de controle específico que temos", explica. Os Ribeiro administram as finanças com planilhas de receitas e despesas, contas a pagar, investimentos, balanço patrimonial, demonstração de resultados e indicadores de desempenho. "Mas nada impede que cada um escolha as planilhas que lhe convier, de forma simplificada." Para começar, entretanto, o executivo diz que é preciso mais vontade que conhecimento:
O primeiro passo é organizar um plano estratégico com os objetivos da família e as ações necessárias para atingi-los.
É preciso manter o controle diário de entradas e saídas.
Alinhavar as ações necessárias para o sucesso do plano estratégico a seu orçamento é fundamental. "Vamos ter de investir dinheiro em educação para chegar a nossos objetivos."
Por fim, mas não menos importante, não esqueça de incluir a dimensão pessoal no planejamento. "A gente se afunda nos outros aspectos da vida e esquece que é pai, mãe e filho", diz Cristina.