Carreira

Evite o erro que quase todo jovem comete no início da carreira

Desnorteado com tantas opções de carreira, o jovem está sujeito a cometer um erro que pode comprometer seu futuro profissional. Entenda

Executivo frustrado (grinvalds/Thinkstock)

Executivo frustrado (grinvalds/Thinkstock)

Claudia Gasparini

Claudia Gasparini

Publicado em 23 de novembro de 2017 às 15h00.

Última atualização em 6 de dezembro de 2017 às 12h21.

São Paulo — Consultorias de recrutamento estão acostumadas a um certo padrão nos currículos dos jovens: passagem de 3 meses em uma empresa, 9 meses em outra, 6 em uma terceira e assim por diante.

Na hora da entrevista, candidatos a estágio e trainee justificam as mudanças constantes de emprego com frases como “já tinha aprendido tudo que podia” ou “saí porque queria algo novo”.

Trajetórias entrecortadas são resultado de um erro que cada vez mais gente comete no início da carreira: buscar satisfação imediata logo na primeira experiência profissional — e, uma vez contrariada essa expectativa, abandonar tudo e partir para a próxima.

“O que não é rápido não serve para o jovem”, diz Tiago Mavichian, diretor da Companhia de Estágios. “Como a tecnologia está sempre na palma da mão, ele se acostumou a ter informações imediatas, a ter respostas imediatas, o que acaba se estendendo para como enxerga a carreira”.

A facilidade de mudar de ideia e experimentar outras alternativas também estimula esse movimento frenético em busca de um ideal irrealizável de trabalho. Segundo Mavichian, é comum que o jovem não saiba justificar suas alternâncias de emprego com um argumento objetivo, como salário ou localização da empresa: em geral, a razão é bastante vaga.

Mas o que está por trás dessa inquietação quase inexplicável, além dos óbvios efeitos da parafernália tecnológica? Na visão de Eduardo Ferraz, consultor em gestão de pessoas, a ansiedade do jovem também pode ser entendida como resultado da proliferação das profissões.

“Trinta anos atrás, você podia ser médico, engenheiro, advogado, professor, contador, no máximo você tinha uma dezena de opções de carreira”, explica. “Hoje, existem centenas de cursos universitários, e mais outras centenas de possibilidades de atuação para cada formação”.

No passado, quando não havia tantas alternativas, mesmo o jovem mais ambicioso ou impaciente era obrigado a esperar — nem que fossem 5 anos — para começar a se envolver em projetos realmente estimulantes.

Agora, continua Ferraz, o mercado acena com um leque de opções tão vasto que o jovem sente que pode estar “perdendo seu tempo” com a escolha que fez, e acaba ficando inclinado a trocar de emprego de forma irrefletida.

Consequências

Quem espera prazer imediato no começo na carreira acaba por não concluir nenhum ciclo de aprendizado. “É um padrão que forma profissionais incompletos, com conhecimentos superficiais e nenhum tipo de especialização”, diz Mavichian.

Como a economia vai mal, há uma tendência maior de permanecer no emprego atual. No entanto, o jovem se transforma em insatisfeito crônico, perde motivação e acaba desperdiçando oportunidades de desenvolvimento da mesma maneira.

A crise pode ter algum efeito didático nesse sentido, diz Ferraz. “Alguns já começaram a cair na real e perceberam que não dá para fazer o que se gosta logo de cara”, explica.

Para ele, um profissional considerado feliz e bem-sucedido ocupa 2/3 do seu tempo no trabalho com atividades que lhe dão prazer. Tarefas desagradáveis, enfadonhas e irritantes ocuparão o 1/3 restante — não dá para zerar essa parte.

Até chegar a esse ponto, porém, é preciso “esquentar a cadeira” e aceitar que nem sempre a rotina será agradável. Quer dizer que é preciso se resignar, mesmo sendo infeliz no trabalho? De jeito nenhum, diz Ferraz. O segredo está em alterar a sua percepção das dificuldades e passar a ver a “tarefa chata” como etapa em um processo de longo prazo que culminará com a sua felicidade.

A própria ideia de felicidade, aliás, precisa ser revista na opinião do consultor. “O jovem está muito acostumado a ver falsas representações de felicidade nas redes sociais, e acaba fazendo comparações que o deixam muito insatisfeito”, explica. “Ele acredita erroneamente que não gosta do trabalho, mas os outros sim, e que portanto ainda não encontrou o que ama”.

Ocorre que o contentamento com a profissão não depende de “acertar um alvo”, mas sim de fazer descobertas sobre as suas próprias fontes de prazer no trabalho, de forma lenta e paciente.

Para Mavichian, não há nada de errado em experimentar, mudar de ideia ou perseguir áreas de atuação que tenham a ver com os seus interesses. O movimento é bem-vindo; só é preciso cuidar do ritmo.

“Permaneça no emprego no mínimo por 12 meses, antes de experimentar o próximo”, aconselha. “E lembre-se que, em algum momento, você vai precisar escolher uma área e se dedicar realmente a ela”.

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