Leandro Karnal (R. Trumpauskas/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 16 de junho de 2022 às 14h00.
Há nove anos, escrevo esta coluna. Aqui é um lugar que tenho como a extensão de uma sala de aula, o lugar mais sagrado para um professor. Por ser um espaço de educação e afeto, trato o leitor como amigo e aluno.
São raríssimas as vezes em que uso a primeira pessoa do verbo, por entender que o conteúdo tem os quês da impessoalidade. Porém, quando a emoção vai ao encontro deste sujeito (amante da Língua Portuguesa), é uma forma de dizer: achei um diamante em forma de texto.
No dia de 9 de junho de 2022, na Academia Paulista de Letras, tive a honra de ser um dos presentes à cerimônia de posse do, agora, imortal professor Leandro Karnal.
Lá estava eu, na plateia. Enquanto as sílabas e sentenças eram proferidas, em admirável fluidez, os ouvidos agradeciam perplexos diante de tantas citações elegantes, como:
“Louvo meus mestres jesuítas, os quais deixaram um sulco fundo na minha alma. As aspirações inacianas reforçaram minha energia racional e retórica. Relembro a profecia de Daniel: aqueles que ensinam para a justiça brilharão como as estrelas do céu.”
Grande escritor, Karnal tem um enorme cuidado em buscar palavras com precisão no sentido: “aspirações que reforçam a energia racional e retórica.” Apaixonado por São Paulo, o discurso revela imensa criatividade em:
“O sonho do jovem estudante Anchieta reúne um generoso estuário. Aqui os filhos do cacique Tibiriçá tomavam águas – então confiáveis – do Tamanduateí e do Tietê. Aos hídricos e sonoros topônimos indígenas sobrevieram fluxos do Tejo e do Tibre, algo do Reno, muito do Congo, ondas nipônicas, águas do Titicaca e, sempre, a presença generosa e produtiva dos imigrantes de todo país, especialmente dos nordestinos. O palimpsesto de Andrade é arte-processo que se enriquece com cada nova contribuição.”
O texto passa por fatos, por sua biografia, sem esquecer-se da análise apurada:
“A fama tem um pouco da fórmula da Teoria do Medalhão, de Machado de Assis. O sucesso pode ser uma gramática desafiadora. A notoriedade ganha sua própria dinâmica e tende a negar oxigênio quando o incauto deslumbrado supõe estar nas alturas. As redes sociais são o Sol que queima a cera de todo Ícaro ousado.Desejo beber a ideia, lacaniana avant la lettre, de Rimbaud em carta a Georges Izambard: “Eu é um outro”. São Paulo gestou muitos sonhos que eu embalava em silêncio.”
É raríssimo encontrar textos perfeitos. O que vi e ouvi (tantas vezes!) levou me às lágrimas, já que a busca de um aficionado por palavras é vê-las em sintonia, como a mais pura música clássica.
À Academia Paulista de Letras agradecimentos plurais: o amor ao texto há de vencer, sempre!
Nota: o discurso completo está no site da Academia Paulista de Letras, na aba “publicaçãoes-discursos”.
Com carinho,
DIOGO ARRAIS
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YouTube: MesmaLíngua
Professor de Língua Portuguesa
Fundador do ARRAIS CURSOS