Jéssica Castro, da Ativa Investimentos, fazendo crochê (Arquivo pessoal/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 17 de julho de 2020 às 15h00.
Última atualização em 17 de julho de 2020 às 19h31.
“Com a pandemia, não gasto tempo de locomoção para o trabalho nem na academia ou atividades ao ar livre. Eu senti muita falta da rotina. Mesmo no escritório, me motivava muito pelas relações sociais e, em duas semanas em casa, estava me sentido muito para baixo”, conta Jessica Castro, analista de relacionamento B2B na corretora Ativa Investimentos.
O cansaço mental com a quarentena não é um problema só da analista. No home office ou não, a rotina de todos foi alterada de alguma forma pela quarentena. Com menos possibilidades de lazer e compromissos pessoais, os dias parecem se repetir.
E sem saber quando e como vai ser a volta ao “normal”, se torna cada vez mais difícil manter a motivação, o otimismo e a criatividade.
De acordo com o especialista em inteligência emocional Carlos Aldan, CEO da consultoria Kronberg, nosso cérebro não consegue manter-se em estado de sobrevivência por tanto tempo e uma crise que permeia vários lados de nossa vida pode criar uma espiral negativa em que paramos de enxergar possibilidades futuras.
Mesmo sem sair de casa, ainda é possível retomar o controle de sua rotina. E o especialista conta que criar um hábito simples ajuda a “recarregar” suas emoções. Por isso, a quarentena pode ser o momento ideal para começar um novo hobby.
“O hobby nos permite sair desse circuito neural negativo e ativar outras áreas do cérebro nas quais construímos emoções que levam a comportamentos positivos”, comenta ele.
Para Jessica, retomar o antigo gosto por crochê ajudou a estabelecer uma rotina positiva para sua quarentena. Todo dia, ela faz questão de começar as manhãs como se fosse para o escritório, tomando café, um banho e se arrumando.
O simples ritual marca o começo do expediente. Para finalizar o dia, ela se dedica à atividade manual. Ela conta que se lembrou do alívio mental que sentia quando aprendeu crochê e resolveu aplicar as horas antes gastas no trânsito para retomar o hobby.
“Eu estava arrumando a casa no final de semana e vi as linhas. Decidi testar. O crochê é um trabalho operacional e manual, cada ponto requer total atenção para garantir que não está largo e que a linha está reta”, conta ela.
Da animação com os resultados do trabalho, como uma bolsa completamente feita por ela, Jessica percebeu que seu humor foi melhorando. E viu um impacto no seu trabalho: estava mais motivada, mais criativa e conseguia manter o foco por mais tempo.
“É mais do que gastar a energia que dedicada a atividades fora de casa. É uma motivação, eu precisava de algo para dar sinais de estava no caminho certo, de um foco para mirar”, diz.
Um hobby não pode ser visto como uma tarefa, mas pensar no momento de lazer como um depósito de energia positiva contribui para manter o equilíbrio mental. Não apenas o crochê, mas qualquer atividade feita com o objetivo de cultivar um gosto pessoal tem os mesmos benefícios.
No longo prazo, Aldan afirma que um passatempo aumenta não só nossa capacidade cognitiva como também a emocional.
“Um hobby, independentemente de qual seja, traz um sentimento de controle mesmo quando não temos nenhum. Ele entra como um ritual e também como um exercício de mindfulness, durante o qual você suspende julgamentos e pode viver o momento presente na totalidade. Na hora do lazer, você deixa a mente divagar”, conta ele. Leia mais sobre os benefícios desse hábito na reportagem da EXAME, Pausa para o banho.
Da mesma forma que Jessica, o momento é propício para retomar gostos que foram deixados de lado com o tempo. Aldan recomenda esse tipo de reflexão sobre o que nos dá prazer, procurando atividades que nos mantém engajados e também permitem descobrir coisas novas.
“O hobby tem uma relação íntima com nosso propósito. Na busca por um passatempo, você também pode reencontrar valores, sua visão de futuro e refletir sobre si mesmo”, afirma o especialista.