Carreira

Este é o máximo de horas que você deve trabalhar para se sentir bem

Por mais que o número seja considerado surreal para muitos -- ainda mais para os brasileiros --, o estudo contou com mais de 40.000 domicílios

 (Lucy Lambriex/Getty Images)

(Lucy Lambriex/Getty Images)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 13 de abril de 2021 às 18h51.

Trabalhar poucas horas por semana pode parecer impossível no sistema atual que vivemos, indo além da questão de salários, diz respeito também a forma que enxergamos o trabalho, nossa identidade e nosso bem-estar -- que muitas vezes estão vinculados a nossas carreiras. Quando você começa um emprego, você conhece pessoas novas, socializa e sente que faz parte daquele espaço. Na nossa sociedade, estar desempregado muitas vezes é associado a consequências de mal estar físico e também mental.

Em 1929, o economista britânico John Maynard Keynes previu que as gerações futuras trabalhariam apenas 15 hora por semana, devido aos avanços da tecnologia. Em 2000, o biofísico e ecologista do MIT Erik Rauch afirmou que poderíamos fazer ainda menos: trabalhar apenas 11 horas por semana.

 

 

Sabemos que trabalhar em excesso não é bom, mas qual é a quantidade mínima necessária de horas de trabalho que devemos fazer para colher as recompensas que o trabalho pode nos trazer? Ninguém havia tentado responder a essa pergunta, até agora. Um novo estudo descobriu que só precisamos trabalhar oito horas por semana no total -- o mesmo que um dia de trabalho de 8 horas previsto na CLT -- para obter as vantagens psicológicas de trabalhar.

“É como tomar vitamina C - todos nós precisamos de uma certa dose, mas tomá-la mais do que o necessário não traz nenhum benefício adicional à saúde, e tomar quantidades excessivamente grandes pode ter um efeito prejudicial”, disse Daiga Kamerade, sociólogo da Universidade de Salford, na Inglaterra. A uma determinada altura, o excesso de trabalho leva ao esgotamento e à falta de saúde mental.

O estudo usou dados do UK Household Longitudinal Study, que tem observações de mais de 40.000 domicílios no Reino Unido. Os pesquisadores observaram como as mudanças na quantidade de horas que as pessoas trabalharam afetaram a saúde mental ao longo do tempo. Para a maioria, a mudança para um bem-estar positivo levou de uma a oito horas de trabalho remunerado, muito menos do que os dois a três dias que eles esperavam ouvir, afirmou Kamerade.

Ao confrontar o fato de que as máquinas podem tornar muitos trabalhos redundantes, os autores sugeriram uma nova maneira de pensar nosso futuro de trabalho. "Poderia haver uma redistribuição das horas de trabalho", escreveram, "de modo que as pessoas ainda tivessem acesso ao emprego, mas uma semana de trabalho drasticamente reduzida."

 

 

Kamerade disse que ninguém perguntou qual era o número mínimo de horas de trabalho para alcançar uma saúde mental positiva, e era uma evidência que faltava na discussão sobre por que trabalhamos tanto. Uma advertência importante para o estudo, no entanto, é que ele tem controle de receita. Isso significa que a descoberta dos pesquisadores sobre o bem-estar só se aplica se as pessoas que trabalham um dia por semana ganham a mesma quantidade de dinheiro que alguém que trabalha mais.

"Se realmente quiséssemos trabalhar oito horas por semana, seriam necessárias mudanças políticas, como impostos, renda universal ou redistribuição de riqueza, de modo a não aumentar as dificuldades materiais daqueles que estão na base do mercado de trabalho", disse Alex Wood, pesquisador da Universidade de Oxford, que estuda o impacto da tecnologia nas condições e relações de trabalho.

No mês passado, um grupo de analistas do Goldman Sachs organizou uma pesquisa com 13 colegas de trabalho e revelaram que um analista júnior leva uma rotina de trabalho insustentável. Em média, eles vão dormir às 3 da manhã, têm 5 horas de sono e trabalham 95 horas por semana.  

Uma mudança para menos horas de trabalho significaria realmente trabalhar menos, não amontoar uma semana inteira de trabalho em oito horas, disse Wood. Em última instância, isso significaria reformular nossas ideias em torno do consumo -- uma vez que pode haver menos para consumir com menos trabalho -- e decidir focar mais no tempo de lazer.

 

 

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