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Claudia Gasparini
Publicado em 23 de fevereiro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2018 às 06h00.
São Paulo — “Você nunca faz nada certo”. “Não tem talento para liderança”. “O problema é esse seu jeito”. Feedbacks agressivos, radicais e genéricos são relativamente comuns no mundo do trabalho, e podem trazer grandes prejuízos para a carreira de quem os recebe.
Eles podem gerar o chamado “efeito halo”, que funciona como uma generalização errônea do comentário. “Você pensa que, se é ruim nisto, é porque é ruim em tudo”, explica João Marcelo Furlan, CEO da consultoria Enora Leaders.
Resultado: além de perder motivação para o trabalho atual, você pode levar aquele mal-estar para o resto da sua vida profissional. É por essa razão que um bom feedback deixa claro que não está em discussão a essência daquela pessoa, mas sim um comportamento pontual que ela teve.
Quando acredita que o problema está na sua forma de ser, o profissional corre o risco de incorporar a crítica que se fez dele — e passar realmente a exibir aquela falha.
Se ouviu que nunca seria capaz de ser líder, por exemplo, ele pode ter um péssimo desempenho em cargos gerenciais quando, na verdade, seria perfeitamente capaz de ocupá-los. Se foi convencido de que não tem jeito para matemática, pode se fechar definitivamente para o assunto e desperdiçar oportunidades de melhorar sua relação com os números.
Isso para não falar no estresse e no abatimento físico e mental, que no limite podem levar à estafa.
Já que é impossível evitar que críticas venenosas surjam em algum momento da sua vida profissional, o que fazer para neutralizar os seus efeitos?
Segundo Fernando Mantovani, diretor geral da consultoria Robert Half Brasil, o primeiro passo é saber identificar um feedback feito de forma incorreta. “Trata-se daquele comentário que extrapola o âmbito racional, porque não foi devidamente planejado”, explica ele.
Qualquer crítica que tenha um tom autoritário ou professoral, ao estilo “vou ensinar para você”, também deve ser ouvida com cautela — ainda mais se for feita em público e tiver palavras fortes como “péssimo”, “horrível” ou “ridículo”.
“Quem sabe dar feedback mostra que aquela é a sua impressão individual e deixa claro que seu objetivo é contribuir para o crescimento daquela pessoa”, explica Mantovani.
Perceber que aquele comentário não foi feito com destreza e profissionalismo ajuda a neutralizar seus efeitos porque você entende que ele não é tão legítimo assim. Não que você deva ignorá-lo totalmente, muito pelo contrário.
Segundo o diretor da Robert Half, feedback merece meditação, e não contestação. Mesmo que feita de forma ineficiente, a crítica sempre merece ser ouvida: talvez ela tenha algo de verdadeiro, afinal. E a melhor forma de reagir a isso é fazer algo no sentido de sanar aquele problema.
Tirar efeitos positivos de um feedback agressivo é uma das melhores formas de reagir a ele, afirma Furlan, porque assim se evita o caminho da vitimização. “Procure aprender algo com o comentário, extrair algum tipo de lição dessa experiência”, orienta o CEO da Enora Leaders.
Nesse processo, é preciso entender que a violência da crítica foi decorrente de um momento de fraqueza do seu chefe — um erro que ele cometeu porque ainda não conseguiu se desenvolver como gestor de pessoas.
Esse tipo de compreensão faz parte do processo de ressignificação da experiência vivida, fundamental para curar as cicatrizes deixadas por um feedback inadequado.
Imagine, por exemplo, que seu chefe disse algo como: “Você não sabe falar em público”. A sua primeira reação pode ser acreditar que todas as pessoas que assistem às suas apresentações têm a mesma opinião, e que você realmente não tem o dom da oratória.
Uma forma de ressignificar o comentário do seu gestor é entender que essa é apenas a opinião dele — que ele não aprecia o seu estilo de apresentação, mas que isso não é necessariamente uma verdade para os demais e nem para você.
Essa pequena alteração na forma de enxergar a crítica pode ajudar a vê-la sob um prisma mais objetivo: você pode repensar a sua forma de falar em público e buscar se desenvolver mais nesse ponto, mas não porque você realmente seja um “desastre” nessa atividade.
“De forma amigável, vale perguntar ao autor do feedback quais são as justificativas para aquela crítica e quais seriam exemplos de estilos melhores de apresentação”, orienta Furlan. “Também busque a opinião de outras pessoas, para saber se a impressão se confirma”.
E se os feedbacks agressivos do seu chefe forem frequentes e começarem a ganhar contornos de assédio moral? Nesse caso, é fundamental acionar o departamento de RH.
Se o problema não tiver essa dimensão, é uma boa ideia chamar o seu chefe para uma conversa para evitar que situações como essa se repitam. “Em certos casos, vale dar um feedback sobre o feedback”, afirma Mantovani.