(KatarzynaBialasiewicz/Thinkstock)
Claudia Gasparini
Publicado em 1 de junho de 2017 às 06h00.
Última atualização em 7 de agosto de 2017 às 15h55.
São Paulo — As possíveis atribuições de um consultor são tão numerosas e variadas que Daniel Azevedo, sócio do Boston Consulting Group (BCG), brinca que, nessa área, quem consegue explicar o que faz para a própria mãe merece um prêmio.
Vamos a uma tentativa: o consultor ajuda seus clientes a resolver problemas complexos e obter resultados de impacto para o seu negócio. Seu raio de atuação abrange áreas tão diversas quanto vendas, finanças, marketing, RH e operações.
“Pode ser uma empresa brasileira que deseja se internacionalizar ou uma organização que precisa repensar a forma com que afeta o consumidor final, por exemplo”, ilustra Azevedo.
“O primeiro passo é fazer um diagnóstico do momento atual do cliente, depois partimos para a análise de dados, fazemos reuniões e entrevistas e por fim apresentamos recomendações”, resume Natália Camargo, consultora da McKinsey. Algumas firmas, como a própria McKinsey, também participam da implementação do projeto.
Uma característica distintiva da carreira em consultoria é a relativa imunidade às crises econômicas, o que tem por consequência a continuidade das contratações, aumentos e promoções mesmo em tempos difíceis para o mercado de trabalho em geral.
Outro atrativo são os salários. Para o cargo de consultor principal, diz a empresa de recrutamento HAYS, o pacote total de remuneração — que inclui os bônus — é de 700 mil reais no primeiro ano de atuação. A partir do segundo ano, esse valor pode chegar a 1 milhão de reais anuais. Não à toa, a concorrência por uma oportunidade é grande.
Embora promissora, a carreira em consultorias é relativamente pouco conhecida dos jovens. Confira a seguir 9 perguntas e respostas básicas sobre o funcionamento desse mercado e como ingressar nele:
Um profissional da área pode trabalhar com segmentos tão diversos quanto energia, tecnologia, saúde, educação, bens de consumo, entre muitos outros. Além de atuar na iniciativa privada, esse profissional também é frequentemente contratado pelo governo e por órgãos públicos, como tribunais e ministérios, e até pelo terceiro setor.
O efeito disso é a falta de uma rotina: a cada novo projeto, o profissional deve trabalhar com uma equipe diferente, em um local diferente, com um objetivo diferente.
Tradicionalmente, as formações acadêmicas mais comuns nesse mercado são engenharia, administração e economia. Mas exceções também são bem-vindas. Fernando Ladeira, sócio responsável pela área de gente da FALCONI, diz que tem colegas com diplomas em áreas muito diferentes, como medicina, direito e relações internacionais, por exemplo.
Bruna Maia, recrutadora da McKinsey, afirma que a empresa busca ativamente pessoas com perfis diferentes, com especialidades necessárias para os projetos dos clientes. Daí também haver uma procura por pessoas com diplomas “alternativos”, como contabilidade ou geofísica, por exemplo.
O recrutamento na área tem sido marcado pela bandeira da diversidade em vários sentidos. Segundo a recrutadora da McKinsey, a empresa tem a missão de ter 50% de mulheres em seus quadros em todo o mundo, num mercado tradicionalmente dominado pelos homens. Também há iniciativas específicas para abrir mais oportunidades para LGBTs e negros.
O diploma é muito valorizado e se torna necessário em algum momento da carreira. Muitas vezes, a própria consultoria financia cursos de MBA para seus profissionais, normalmente em escolas norte-americanas ou europeias.
As consultorias costumam recrutar universitários ou recém-formados. No caso da FALCONI, por exemplo, há o programa de estágio para quem se formará daqui a dois anos; e o programa “Jovens Consultores”, voltado para quem conquistou o diploma há no máximo dois anos.
O processo seletivo costuma incluir análise de currículos, testes online de raciocínio lógico e inglês, entrevistas e construção de cases.
Também é comum que as consultorias recrutem profissionais que acabaram de fazer MBA, lembra Daniel Azevedo, do BCG. Naturalmente, consultores com mais anos de experiência também podem ser contratados. Investir em networking é fundamental para conhecer o mercado e descobrir oportunidades a qualquer tempo da carreira.
Para se dar bem, o consultor precisa ter pensamento analítico, facilidade para trabalhar em equipe e desejo de resolver problemas. As habilidades específicas para navegar pelos segmentos de atuação de cada cliente são desenvolvidas em treinamentos oferecidos pela consultoria, e portanto não são requisitos para se candidatar às vagas.
Segundo Fernando Ladeira, da FALCONI, também é importante ter muita resiliência e capacidade de adaptação para lidar com pessoas diferentes. Facilidade para se comunicar também é crucial, inclusive para transmitir recomendações para os clientes com clareza e credibilidade.
Inglês fluente é outro fator obrigatório para o sucesso, completa Daniel Azevedo, do BCG, já que as maiores consultorias são globais e muitos projetos são internacionais.
“Você não precisa amar exatas, mas se tem zero vontade de trabalhar com números vai acabar sofrendo, porque essa é uma parte grande do nosso trabalho diário”, diz Natália Camargo, da McKinsey. Planilhas de Excel, por exemplo, fazem parte da rotina de um consultor.
Daniel Azevedo, do BCG, diz que não é necessário ser um engenheiro ou um matemático, mas é importante ter um bom raciocínio lógico e saber estruturar problemas.
Ainda assim, os porta-vozes das consultorias ouvidas por EXAME.com destacam que os treinamentos corporativos oferecem as ferramentas necessárias para o lado mais matemático do trabalho.
De acordo com Caroline Cadorin, diretora da empresa de recrutamento HAYS, a remuneração varia bastante em função do tamanho da consultoria. Além disso, é mais comum o salário ser tratado em pacote anual e não mensal.
Em média, o salário-base de um consultor é de 9 mil reais por mês, segundo a HAYS. O pacote total, por ano, é de cerca de 150 mil, podendo chegar a 180 mil reais anuais. A empresa também apresentou médias para quatro cargos, que você confere na tabela a seguir. Dentro do pacote total anual já estão incluídos os bônus:
Cargo | Base mensal (R$) | Pacote total anual (R$) |
---|---|---|
Consultor sênior | 13 mil - 14 mil | 190 mil - 290 mil |
Consultor associado | 23 mil | 400 mil |
Engagement manager | 30 mil | 450 mil - 600 mil |
Consultor principal | 40 mil - 50 mil | 700 mil (1º ano) - 1 milhão (a partir do 2º ano) |
Segundo dados da empresa de recrutamento Michael Page, o salário inicial para um consultor no começo da carreira gira em torno de 7 mil reais mensais.
As consultorias ouvidas foram unânimes na constatação de que o momento difícil da economia brasileira não as afetou. Pelo contrário: elas têm aumentado as contratações e as promoções continuam acontecendo. “A crise incrementa a demanda pela resolução de problemas, que é aquilo que fazemos”, explica Fernando Ladeira, da FALCONI.
Promissor na oferta de vagas e salários, esse mercado também é conhecido por ser bastante concorrido. “Há pessoas extremamente bem preparadas buscando oportunidades em consultorias”, explica Natália Camargo, da McKinsey. “O nível esperado de um candidato nos processos seletivos é alto”.
Conhecer o modelo de seleção da consultoria para a qual você deseja se candidatar é o primeiro passo. Elas costumam disponibilizar materiais de preparação, como provas de anos anteriores. Estudar técnicas de resolução de cases também é essencial para se dar bem, assim como investir na fluência do inglês, diz Daniel Azevedo, do BCG.
Além de uma boa preparação, o conselho de Fernando Ladeira, da FALCONI, é ter certeza de que essa carreira faz sentido para você. “Você só vai ter sucesso nos processos seletivos e no trabalho em si se realmente tiver paixão, se gostar realmente disso”, explica. “Há muito glamour, mas o trabalho pode ser árduo, você precisa estar disposto a viver esse desafio”.