Redatora
Publicado em 5 de agosto de 2025 às 08h22.
O investidor Vinod Khosla, cofundador da Sun Microsystems e listado pela revista Fortune entre os nomes mais influentes do mundo dos negócios, deixou um recado direto à geração Z: a habilidade mais importante para o futuro do trabalho não é dominar uma profissão, mas aprender rápido e se adaptar constantemente.
Em entrevista ao empreendedor indiano Nikhil Kamath, Khosla afirmou que o avanço da inteligência artificial, especialmente com ferramentas como o ChatGPT, torna obsoletos os caminhos acadêmicos tradicionais e os conjuntos fixos de habilidades.
“O ChatGPT pode te ensinar qualquer coisa nova”, disse ele. O vídeo da conversa foi publicado no YouTube com um título direto ao ponto: College Degrees Are Becoming Useless (“Diplomas universitários estão se tornando inúteis”).
Na avaliação do investidor, a inteligência artificial está prestes a transformar radicalmente o mercado de trabalho. Ele projeta que, nos próximos três a cinco anos, “80% de 80% de todos os empregos” poderão ser realizados por sistemas de IA. Em um horizonte de 10 a 15 anos, acredita que praticamente nenhuma função humana estará imune — nem mesmo cirurgias complexas, ainda que essas esbarrem em barreiras regulatórias.
Diante desse cenário, seu conselho para jovens de 22 anos é claro: “otimize sua carreira para a flexibilidade, não para uma única profissão”. Mais do que se especializar em áreas como finanças, contabilidade ou programação, o que importa é cultivar a capacidade de aprender.
Khosla defende que o diferencial estará na rapidez com que alguém consegue se reinventar, discurso já ecoado por nomes como Sam Altman, da OpenAI, e Jensen Huang, da Nvidia.
Segundo ele, disciplinas como ciência da computação continuam relevantes, mas não tanto pelo conteúdo técnico, e sim pela forma de pensar que promovem, especialmente o raciocínio baseado em sistemas e estruturas. O ideal, afirma, é trilhar uma jornada em que “conhecimento e capacidade se acumulam com o tempo”, como juros compostos aplicados à aprendizagem.
Para os que desejam empreender, Khosla reforça: o sucesso dependerá menos do acesso à tecnologia e mais da qualidade do empreendedor. Isso inclui visão estratégica, capacidade de montar bons times e discernimento na hora de buscar conselhos. O maior gargalo, em sua visão, não está na falta de capital nem de ferramentas, mas na escassez de líderes capazes de tomar boas decisões.
Khosla também comentou os efeitos macroeconômicos da IA. Ele prevê que, ao tornar serviços como educação, saúde e assistência jurídica mais acessíveis, a tecnologia atuará como uma força deflacionária. Em 20 a 25 anos, estima, US$ 10 mil poderão comprar mais do que US$ 50 mil compram atualmente.
A perspectiva é compartilhada por outros líderes e economistas. O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e o próprio Jensen Huang concordam que criatividade e aprendizado contínuo serão os principais motores da criação de novos empregos.
O Goldman Sachs alerta para a perda do chamado “prêmio de segurança” associado ao diploma universitário, que vem perdendo relevância. Economistas como Brad DeLong, da Berkeley, atribuem o fenômeno não apenas à IA, mas também à incerteza econômica que desestimula contratações.
Apesar das incertezas e do ritmo acelerado das transformações, a mensagem de Khosla é otimista: o diferencial do futuro não será o conhecimento técnico, mas a disposição incansável de aprender, se adaptar e transitar com agilidade entre diferentes áreas.