A Espanha está prestes a pedir a centenas de empresas que participem de um dos maiores testes de todos os tempos — uma semana de trabalho de quatro dias (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)
Leo Branco
Publicado em 5 de abril de 2021 às 15h33.
Última atualização em 5 de abril de 2021 às 15h52.
A Espanha está prestes a pedir a centenas de empresas que participem de um dos maiores testes de todos os tempos para saber se uma semana de trabalho de quatro dias pode ser implementada sem prejudicar a economia.
Embora as iniciativas em outros lugares tenham sido em grande parte em pequena escala e iniciadas por empresas individualmente, o governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez concordou em investir 50 milhões de euros em um programa nacional de três anos.
É a ideia de um pequeno partido político de esquerda chamado Más País, que convenceu o governo liderado pelos socialistas a implementar uma semana de trabalho de 32 horas e então avaliar o experimento. O líder de partido, Íñigo Errejón, espera que cerca de 200 empregadores se inscrevam voluntariamente para o teste, que deverá ser iniciado no outono.
“Cem anos se passaram desde que reduzimos a jornada de trabalho pela última vez, ou seja, quando conquistamos o direito a 8 horas”, disse ele, em entrevista em Madrid. “Nos últimos 100 anos continuamos a produzir mais com menos horas de trabalho e, ainda assim, essa capacidade de produzir mais graças à tecnologia não gerou mais tempo livre para as pessoas.”
Errejón, de 37 anos, estava defendendo uma semana de trabalho de quatro dias antes mesmo da pandemia de covid-19, mas ele diz que agora é mais plausível na Espanha porque a crise mostrou ser possível maior flexibilidade no local de trabalho.
Ainda assim, ele reconhece que tem uma batalha difícil pela frente para tornar isso mais do que apenas um experimento. Sánchez concordou com a ideia em janeiro, com a condição de que o Más País votasse a favor do plano de gastos do governo no âmbito do fundo de recuperação da União Europeia. Desde então, ministros e outras altas autoridades do governo disseram que uma semana de trabalho de quatro dias não é uma prioridade política.
“O que importa não é a quantidade de dias trabalhados, mas sim o equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, disse Joaquín Pérez Rey, secretário de Estado de Trabalho e Economia da Espanha. “Isso não será resolvido com um dia a menos.”
A ideia de uma semana de trabalho de quatro dias está se popularizando em algumas partes do mundo. A Unilever está fazendo um teste na Nova Zelândia, e legisladores japoneses estão discutindo uma proposta para conceder um dia extra de folga.
A empresa de tecnologia alemã Awin começou a cortar horas enquanto mantinha salários e benefícios na primavera passada, e diz que as vendas, o engajamento dos funcionários e a satisfação dos clientes aumentaram.
O desafio da Espanha é que, há muito tempo, o país é atormentado por altas taxas de desemprego, baixa produtividade e uma das maiores proporções na Europa de trabalhadores com contratos temporários precários. O Banco da Espanha classificou o mercado de trabalho como “disfuncional”.
De acordo com o programa de Errejón, os funcionários receberão os mesmos salários, apesar de trabalharem menos horas. A menos que aumentem significativamente sua produtividade, as empresas pagarão mais a seus funcionários para fazer menos.
O financiamento do governo compensa as empresas, cobrindo o custo de contratação de trabalhadores adicionais ou a instalação de novas tecnologias — mas apenas temporariamente, para facilitar a transição.
Errejón diz que este ensaio fornecerá pelo menos informações valiosas para os pesquisadores. Mas ele também está otimista de que pode estabelecer as bases para uma semana de quatro dias em setores onde o teste mostrar que tanto as empresas quanto os trabalhadores se beneficiam.
“Graças ao programa piloto lançamos um debate na Espanha”, disse Errejón. “Antes era algo reservado para algumas empresas inovadoras que decidiram implementar por elas mesmas, mas não era um debate nacional. Agora é.”