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Erico Rocha: “Todo mercado tem um ponto de saturação, mas o ser humano nunca vai cansar de aprender”

Precursor dos cursos online no Brasil, Erico Rocha conta como ensinou mais de 40 mil pessoas a venderem R$ 100 mil em 7 dias

Érico Rocha: empresário deixou sólida carreira no setor privado para vender a Fórmula de Lançamentos (Erico Rocha/Divulgação)

Érico Rocha: empresário deixou sólida carreira no setor privado para vender a Fórmula de Lançamentos (Erico Rocha/Divulgação)

BC

Beatriz Correia

Publicado em 21 de junho de 2022 às 11h41.

Acessar qualquer rede social é quase uma certeza de que, em algum momento, aparecerá um anúncio de curso online. Sobre qual tema? Todos. Diversas pessoas usam o ambiente online para ensinarem o que sabem, e a diversidade é enorme - vai de marketing digital a tatuagem. Nos últimos anos, o mercado de educação online se expandiu, e a demanda pelo modelo não tradicional de ensino, também. 

De acordo com uma pesquisa recente da edtech B.NOUS, 91% dos entrevistados sentem que precisam aprender mais, e pelo menos metade deles buscam formas alternativas de aprender, como cursos livres e online. Um dos principais responsáveis por essa onda dos chamados infoprodutos no país é o empreendedor Érico Rocha. Após deixar o emprego estável em um banco e aprender uma fórmula de vendas no exterior, o executivo decidiu ensinar empreendedores brasileiros a faturarem pelo menos 6 dígitos em apenas 7 dias consecutivos.

O resultado são mais de 40 mil alunos formados no curso “Fórmula de Lançamento”, e um faturamento de centenas de milhões de reais para a sua empresa, a Ignição Digital. Mas existe um limite para o mercado de educação digital? O hoje sócio da Hotmart afirmou, em entrevista ao CMO da EXAME, Fernando Miranda: "todo mercado é saturável - até o Império Romano foi - mas acredito que o ser humano nunca vai cansar de aprender". 

Confira a entrevista a seguir e conheça mais sobre a rotina de Rocha como influencer, empresário, seus hobbies e como ele construiu um dos maiores impérios digitais do Brasil. 

Muita gente te enxerga como o “pai dos infoprodutos”, a pessoa que começou o movimento de lançamentos online e gratuitos no Brasil. Como isso começou? 

Eu morava em Londres, trabalhava como freelancer de precificação de dívida pública para alguns bancos de investimento e ganhava muito bem, mas não estava feliz. Comecei a fazer curso de desenvolvimento pessoal para lidar com aquilo e descobri que o que eu queria fazer mesmo era empreender. 

Meu projeto era sair do banco, e, na época, eu comprava imóvel em leilão para vender. Olhando para esse mercado, vi uma oportunidade de criar uma base de dados com publicações de leilões em jornais. A ideia era: ao invés de o cara assinar 20 jornais, ele compra a minha assinatura. Mas eu não sabia divulgar, eu era inocente achando que um bom produto era suficiente [para vender muito]. Eu não tinha essa noção, e o negócio não vendia. Em 6 meses, deu cerca de 4 mil reais [de lucro], não pagava as contas. 

Em 2009, eu vi um vídeo de um cara - Jeff Walter - me prometendo um ano de vendas em 7 dias na internet por um custo de US$ 5 mil. E eu paguei. Meses depois, havia um evento ao vivo em Los Angeles para os alunos. Eu participei, fiz a metodologia do cara e faturei, na época, mais de R$ 170.000 em 7 dias com um curso ensinando a comprar imóveis em leilão. No primeiro ano, faturei cerca de R$ 450.000. No segundo ano eu estava focado, e passamos dos R$ 2 milhões de faturamento. E assim o negócio cresceu. Eu tinha três funcionários e era o CEO, mas me sobrava muito tempo. Foi quando eu aprendi a surfar, ficava tomando caipirinha todo dia. E aí comecei a entrar em depressão de novo. Interessante que eu achava que aquela era a vida que eu queria, mas não era. 

Em uma conversa com a minha esposa, falei: 'Eu tenho que fazer um outro projeto, alguma coisa que faça o meu coração cantar'. E aí veio a ideia dela: 'Eu sei o que faz seu coração cantar, você tinha que ensinar a fórmula, porque você fala disso o tempo inteiro'. E foi assim que tudo começou.

Você começou o movimento de vendedores de curso online, há espaço para tanta gente ensinando?

Tudo tem um ponto de saturação, até o Império Romano teve. Então a gente não pode ser ingênuo de achar que não tem. Mas há um ponto para analisar. O ensino formal - que é o ensino que todos nós conhecemos e participamos - vai preencher as lacunas? Eu acredito que do jeito que está, se não houver uma reforma muito grande, não vai. O ensino tradicional ainda forma gente para um tempo diferente do que vivemos. 

O ser humano está em constante procura por conhecimento, mas ele não está a procura do conhecimento com certificação, ele está procurando se transformar. Além disso, a internet democratizou a transmissão. Antes, para ensinar tinha que ser professor e estar na sala de aula. A primeira pergunta que eu me faço é se o ser humano vai  parar de ter fome de conhecimento. Eu acho que não, quanto mais você conhece mais você quer conhecer. O conhecimento não sacia, ele cria uma nova demanda. Essa é uma característica do ser humano, e eu não acredito que essa demanda vai ser suprida pelo sistema formal.

Você considera seu negócio hoje um negócio de marketing digital ou um negócio de educação?

Eu considero um negócio de educação. Definitivamente. Eu costumo dizer que é mais de transformação do que educação. A gente nunca emite certificado, por exemplo. Não quer dizer que a gente nunca vai emitir, inclusive, muita gente quer um certificado para isso e aquilo. O certificado dos nossos alunos era o 6 em 7 [6 dígitos de faturamento em 7 dias corridos] na minha cabeça. Era a transformação: 'agora sei fazer R$100.000 em 7 dias'. E aí os alunos vieram e eu comecei a perceber que conseguia ensinar. Na segunda turma eu já tive mais de 700 alunos; na terceira, mais de 1.500. Hoje são cerca de 40.000. 

Mas existia um gap muito grande entre o ensino formal e o que as pessoas precisavam saber. Na minha opinião, o ensino formal foi criado na revolução industrial para gerar demanda por ensino técnico. Depois que você se forma e tem o certificado é que começa a aprender de verdade. A atualização do ensino formal é regida por uma série de regulamentos que faz com que ele não ande tão rápido quanto as necessidades das pessoas. A própria faculdade de marketing – eu não sei se elas ensinam ou não a fórmula [de lançamento] –, mas elas devem estar correndo muito atrás do prejuízo porque está tudo mudando muito mais rápido do que o formalismo acontece. 

Outra desvantagem do ensino formal é que [o aluno] é ensinado por professores que não são. Para você ensinar no ensino formal, você não necessariamente precisa ser. Só precisa ter lido um livro, saber um método e passá-lo verbalmente ou no quadro. Na educação informal existe um ponto de aprender com quem faz. Eu comecei a descobrir que se eu queria levar mais pessoas para o 6 em 7 eu poderia ensiná-las a vender conhecimento, porque o conhecimento transforma. Não é só o curso, é um pouco mais que isso, nós vendemos tempo. 

Muita gente entrava no curso no começo pra montar o seu próprio negócio e vender o seu próprio produto, ou seja, cachaça, tapete, mochila, chinelo. Até porque o digital é escalável. O custo de produção é um celular. A distribuição? Um login e uma senha. Não tem que mandar nada pelo correio. 

É por isso que você decidiu ir para conhecimento, venda de conhecimento

Sim. As pessoas começaram a sacar o potencial de vender um conhecimento que transforma. Coisa que eu não sentia no banco. Ninguém me parava na rua e dizia: 'nossa, obrigada por calcular o preço da dívida pública'. Agradecimento e impacto viciam, principalmente depois que você já tem o dinheiro suficiente para viver o que quiser. Eu acho que o empreendedorismo é um projeto social muito grande. Com fins lucrativos, mas eu acho que é, porque se cria soluções e integridade.

Como você se divide entre ser CEO e ser influenciador? Como é a rotina?

Eu acordo cedo, mais ou menos umas 5 horas da manhã. Mas não é nada… Muita gente fala: 'Ah, como é que você faz?' Eu durmo cedo, eu durmo às 7 ou 8 horas. Então difícil não é acordar cedo, difícil é dormir cedo. Eu acordo, faço conteúdo até às 9h, então até esse horário eu sou um influenciador. Faço lives e tudo. Das 9h pra frente eu sou um CEO, o que é ser um CEO? É sentar com o seu time, eu tenho um time de 2 diretores. 

Não tem como eu tocar tudo, então eu tenho ideias, a gente faz planejamentos, faz uns projetos estratégicos, a diretora aprova, e daí em diante os coordenadores vão lá e executam. Às vezes eles têm sub coordenadores, e vai acontecendo. Geralmente eu paro de trabalhar às 15h30. E parece que eu não trabalho bastante, mas enfim, eu comecei as 5h, né? No instagram não aparece… E aí eu vou surfar. Eu surfo no lago Paranoá de Brasília. Geralmente eu adoro surfar, ensino surfe, ensinei para umas 20 pessoas.

Onde você busca referência hoje?

Eu não busco. Chega uma hora que é estranho isso. Eu não sigo ninguém.

Você tem que criar tudo da sua cabeça?

Eu cheguei num momento que eu to criando quase tudo. Então, de onde eu to criando? Eu to criando das minhas análises, das histórias, e dos 5 mil lançamentos. Eu costumo dizer que se eu tivesse um concorrente, eu queria que ele fosse bom, porque se ele é um concorrente íntegro e bom, a pessoa compra o curso dele, vai querer aprender mais e vai querer comprar o meu. Para expandir, criar uma nova perspectiva, ouvir um professor diferente. Mas se ele pisa na bola e não entrega o que promete, aí ele acaba comigo também. 

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