Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h30.
Há pouco tempo, conheci um executivo que possui uma experiência muito interessante. Ele havia trabalhado por quase seis anos num ministério, em Brasília, responsável por contratos e gerenciamento operacional de gastos de um programa governamental que contava com aporte de milhões de dólares vindos de um banco internacional de desenvolvimento. Promovia as licitações necessárias, as contratações, enfim, cuidava de todos os procedimentos burocráticos. Após sair do governo, teve uma rápida passagem pela iniciativa privada: menos de três meses como diretor administrativo de uma empresa de comunicação. Foi demitido. Na semana passada, liguei para ele e perguntei se podia contar a história nesta coluna. Ele autorizou, com a seguinte frase: "Apanhei para aprender, tomara que meu aprendizado ajude alguém a não cair na mesma armadilha".
A armadilha à qual ele se referia era o medo. Sua norma de conduta era cumprir rigorosamente todos os procedimentos previstos nos manuais, seguir as regras religiosamente, agir dentro de todas as formalidades possíveis. Ao mesmo tempo, tentava a todo custo evitar "trombadas" e "disputas". Tinha medo de se envolver em conflitos, medo de ser repreendido por alguma auditoria, medo de ser acusado de alguma falha administrativa. Vivia numa constante "operação-padrão". Esse "treinamento" imposto pela rigidez burocrática do serviço público levava a duas conseqüências imediatas: as coisas demoravam para andar e nunca surgia uma solução inovadora. Quando ele aplicou esse método numa empresa privada, descobriu que gerava ainda uma terceira conseqüência, invisível em seus anos de governo: prejuízo.
O medo trava a criatividade e a produtividade. E isso não vale apenas para quem esteve num cargo público. O desemprego, a diminuição do número de postos de executivos, as incertezas sobre o futuro, a competição acirrada, tudo isso tem disseminado o medo também fortemente na iniciativa privada, entre profissionais de todas as áreas.
Os profissionais têm medo de perder o emprego. Os executivos têm medo de perder o status profissional -- e, em conseqüência, o status social. Os empresários e acionistas têm medo de perder a empresa. E todos, por mais que busquem, não encontram respostas prontas na experiência passada ou nos manuais do presente. É cada vez mais difícil traçar cenários futuros num mundo em transformação acelerada. Vivemos numa "bolha do tempo".
Nessa bolha, a principal arma que possuímos é o "método da tentativa e erro", em lugar dos ensinamentos tradicionais e das teorias consagradas. Tentar coisas diferentes, apostar em inovações, sem nunca ter certeza de que vai dar certo. Experimentar. O nó da questão é que o medo inviabiliza essa postura. Quem tem medo não arrisca, fica paralisado e não encontra caminhos novos. As normas, os procedimentos e os hábitos empresariais são adotados como "escudos" para justificar a paralisia.
A essência do mercado é o risco. Isso quer dizer imaginar, descobrir novas formas de atuação, às vezes atropelar hábitos e manuais, para ser diferente e melhor.
"É assim que tem de ser feito." "São essas as normas." "Há uma série de procedimentos que devemos cumprir antes disso." Essas frases vão se tornando comuns numa situação de amedrontamento. Você tem usado essas frases? Se a resposta é sim, está na hora de enfrentar seus medos e assumir mais riscos. Ou alguém os assumirá no seu lugar.
Simon Franco é CEO da Simon Franco/TMP Worldwide do Brasil e autor de Criando o Próprio Futuro e O Profissionauta