Carreira

Embraer vai manter 70% dos funcionários no trabalho híbrido ou remoto

A Embraer definiu sua rota para o futuro do trabalho: mais flexível, democrático e ágil

Embraer: “Nós não temos a capacidade de responder agora todas as perguntas do futuro", diz VP (Germano Lüders/Exame)

Embraer: “Nós não temos a capacidade de responder agora todas as perguntas do futuro", diz VP (Germano Lüders/Exame)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 7 de novembro de 2021 às 09h00.

A Embraer está com sua rota traçada em direção ao futuro do trabalho: a empresa definiu que vai flexibilizar seu modelo de trabalho após a pandemia. Após pesquisa com funcionários e calibragem interna, a fabricante de aeronaves calcula que 70% de sua equipe tem potencial para fazer trabalho remoto ou híbrido a partir de 2022.

Tirando a operação, o restante da empresa pode optar por três modalidades: presencial, remoto e híbrido. Quase metade dos funcionários poderá permanecer no trabalho totalmente remoto. Ao considerar apenas a área administrativa, o número total sobe para 83%.

A decisão marca a aceleração de uma evolução na cultura e forma de trabalho da empresa, mas ainda não é o destino final da companhia, como conta Carlos Alberto Griner, vice-presidente de pessoas da empresa, com exclusividade à Exame.

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“Nós não temos a capacidade de responder agora todas as perguntas do futuro. Uma parcela importante terá trabalho híbrido e uma parcela ficará remota. Mesmo onde a gente poderia trabalhar ainda mais remoto, buscamos um equilíbrio. E, ao longo do tempo, esperamos calibrar isso”, diz.

Na sexta-feira, 5, a Embraer reportou um prejuízo líquido ajustado de 179,7 milhões de reais no terceiro trimestre, uma redução de 77,4% em relação ao mesmo período do ano passado.

A Embraer também revisou para cima sua projeção para o fluxo de caixa em 2021. E agora espera fluxo positivo em 100 milhões de dólares ou mais, ante previsão anterior no intervalo entre zero e uma geração negativa de até 150 milhões de dólares.

Carlos Alberto Griner, vice-presidente da Embraer

Carlos Alberto Griner, vice-presidente da Embraer (Embraer/Divulgação)

Antes da pandemia, a companhia tinha iniciado um experimento para um ou dois dias de home office e a modificação de um espaço de escritório para ter posições mais flexíveis. Nada tão disruptivo quanto os últimos dois anos.

“Uma fábrica que girava quase 10 mil pessoas em volta, entre terceiros e fornecedores, é tão complexa e não é tão simples encontrar a forma de trabalho flexível. Sair desse ambiente foi um baque”, afirma.

Futuro mais flexível e democrático

Agora, diversos funcionários, como os engenheiros Clauser Mazuim da Cruz e Andres Antonio Alvarado Rojas, já possuem o contrato totalmente remoto. Clauser mora em Canos, Porto Alegre, e Andres mostra em Natal, no Rio Grande do Norte.

Em cantos distantes entre si e longe das sedes da Embraer, trabalhar na empresa sempre foi um sonho deles – mas antes da possibilidade de atuar à distância, eles não acreditavam que seria possível.

“Eu trabalhava em uma empresa de setor similar e desanimava sobre a vontade de trabalhar na Embraer porque teria que me afastar da minha família. Eu nem estava procurando trabalhando, mas a possibilidade do remoto foi critério determinante para eu aceitar a proposta da Embraer, pois eu sabia que meu empregador na época voltaria, mais cedo ou mais tarde, pelo menos para o modelo híbrido", conta Clauser, que hoje é engenheiro de desenvolvimento de produto.

As vantagens do modelo mais flexível são muitas, com melhoras no bem-estar, agilidade e produtividade das equipes. E não foi surpresa para a diretoria quando chegaram os resultados da pesquisa de opinião sobre o home office, que teve resposta de mais de 70% da empresa.

“Foi um match. Estava aberto para qualquer resposta, mas a vontade dos funcionários estava muito próxima ao que mapeamos de necessidade”, diz Griner. “Resolvemos tomar a decisão mais democrática possível”.

Em meio a tanta complexidade e sem querer voltar atrás, o caminho foi desapegar temporariamente de rituais e hábitos da época presencial. Como exemplo, enquanto muitos trabalhadores lembram com saudade da pausa para o café, o que faz falta aos funcionários da Embraer é se despedir do avião pronto alçando seu primeiro voo para ser entregue.

Griner não vê uma solução clara para adaptar um ícone da cultura organizacional como esse para o remoto, mas sabe que se ater a esse ponto nostálgico não vai ajudar a encontrar novas respostas. O executivo acredita que houve um ganho na maturidade de todos para encarar os próximos passos que a empresa começa a dar em 2022 para o modelo flexível. Para ele, o próximo ano será de calibragem.

“Será ensaio, erro e ajustes. Vamos experimentar com a flexibilidade e fazer ajustes. Não podemos ter medo de errar. É como a metodologia ágil sugere: falhe rápido e aprenda”, diz.

Essa mentalidade já ajudou a área de pessoas a ver mais oportunidades para o futuro. Além das contratações remotas, a área de formação de profissionais também ganhou maior amplitude com o virtual.

Foi o que aconteceu com a nova iniciativa de ESG da empresa para formar em tecnologia grupos minorizados e vulneráveis: a turma piloto com foco em pessoas com deficiência teve 300 vagas preenchidas por pessoas de todo o Brasil.

“A evolução da nossa cultura já vinha acontecendo para se tornar mais transparente, aberta e dinâmica para acompanhar também as migrações de negócios para serem mais tecnológicos. Se tiveram aspectos emocionais que tivemos que abrir mão, vamos encontrar formas de fechar essas brechas e manter as pessoas conectadas com o produto no modelo híbrido”, diz o VP.

 

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