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Eles erraram nos laboratórios e criaram 8 invenções geniais que não vivemos mais sem

Você conhece a origem do micro-ondas, do palito de fósforo, de medicamentos (como o Viagra) ou da Coca-Cola? Eles foram testados para ser outro produto, mas hoje têm muito valor para sociedade. Saiba mais

 (Archive Films/Getty Images)

(Archive Films/Getty Images)

Publicado em 17 de agosto de 2025 às 09h30.

Última atualização em 17 de agosto de 2025 às 09h46.

Nem sempre a genialidade vem de um plano perfeito. Muitas das invenções que hoje fazem parte do nosso dia a dia nasceram de erros, imprevistos ou simples curiosidade.

Do micro-ondas à penicilina, passando por outros remédios, alimentos e até um adesivo colorido famoso. Veja como o acaso ajudou a transformar a ciência, a tecnologia e até a culinária.

Micro-ondas

Em 1945, o engenheiro Percy Spencer testava um magnetron (tubo usado em radares) quando percebeu que uma barra de chocolate no bolso havia derretido. Curioso, fez novos testes e criou o primeiro forno de micro-ondas.

“As micro‑ondas (≈ 2,45 GHz) geradas pelo magnetron criam um campo elétrico oscilante dentro da câmara do forno. Esse campo faz as moléculas de água girarem e vibrarem no ritmo da oscilação da radiação, produzindo calor por aquecimento dielétrico”, diz Ivys Urquiza, professor de física.

Há 3 principais razões, segundo Urquiza, para a escolha da frequência 2,45 GHz (2,45 × 10⁹ Hz). São elas:

  • Está dentro da banda ISM (Industrial, Scientific and Medical), autorizada para uso sem licença.
  • Permite penetração adequada nos alimentos, distribuindo calor de forma mais uniforme.
  • É tecnologicamente viável e consolidada, com componentes já disponíveis e acessíveis.

O primeiro forno de micro‑ondas comercial (não doméstico) foi vendido em 1946 pela Raytheon, chamado 'Radarange', voltado para restaurantes, navios e cantinas, segundo uma publicação da EDN - plataforma online voltada a engenheiros eletrônicos e de hardware.

“O primeiro modelo doméstico, segundo a EDN, foi vendido em 25 de outubro de 1955, nos EUA, pela Tappan Stove Company. Era um modelo de parede operando em 220 V e custava US $ 1.295”, diz Urquisa.

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Viagra

O medicamento foi desenvolvido para tratar problemas cardíacos, mas, durante os testes, médicos notaram um efeito colateral inesperado: melhora na função erétil. O “erro” virou um dos remédios mais vendidos do mundo.

“O viagra foi criado para dilatar vasos sanguíneos, reduzindo a pressão e melhorando o fluxo em pacientes com problemas cardíacos. Ele inibe a enzima fosfodiesterase tipo 5 (PDE5), que degrada o GMP cíclico (que, resumidamente: atua como uma molécula sinalizadora)”, afirma Marcus Ennes, professor de Química.

Quando essa degradação é bloqueada, o professor explica que o GMPc se acumula, relaxando a musculatura lisa dos vasos no coração e, por uma coincidência nos corpos cavernosos do pênis. Resultado: fluxo sanguíneo aumentado e ereção facilitada.

“O Viagra atua sistemicamente, ou seja, a molécula circula pelo corpo inteiro. Mas o “efeito especial” só acontece em regiões onde há liberação de óxido nítrico e ativação do GMPc, ou seja, durante a excitação sexual. Por isso, não é como se fosse um botão de liga/desliga automático”, diz o professor Ennes.

Minoxidil

Originalmente criado para tratar pressão alta, o composto apresentou como efeito colateral o crescimento de pelos. Hoje, é amplamente usado no combate à queda de cabelo.

A princípio, o produto já era conhecido pela sua aplicação como anti-hipertensivo, mas depois foi aplicado para queda de cabelo em concentrações menores.

“Os ajustes feitos foram do tipo de administração, que normalmente é tópica ao invés de oral para a queda de cabelo (gerando menos efeitos colaterais), ou em dosagens menores, quando usada via oral. As alterações foram basicamente de dosagem e para adequar ao uso tópico”, afirma Reinaldo Bazito, professor de química da USP.

Post-it

O cientista Spencer Silver, da 3M, desenvolveu por acidente um adesivo fraco demais para colar de forma permanente. Anos depois, seu colega Art Fry percebeu que era perfeito para marcar páginas sem danificá-las — nascia assim o Post-it.

O segredo é usar um polímero acrílico em forma de microesferas. Essas esferas criam pontos de contato parciais, permitindo que o adesivo seja “reposicionável”, diz Ennes.

“Ele tem força de cisalhamento baixa (isto é: não rasga o papel) e aderência suficiente para não cair sozinho. É química + engenharia de materiais trabalhando juntas na máxima delicadeza”, afirma o professor de Química.

Penicilina

Em 1928, Alexander Fleming notou que um fungo havia contaminado sua placa de cultura e matado as bactérias ao redor. Assim, descobriu o primeiro antibiótico da história.

Fleming descreveu seu achado, mas não isolou a Penicilina. Segundo Bazito, foram outros cientistas (Florey e Chain) que conseguiram cultivar o fungo e extrair penicilina em quantidade suficiente para testes em animais e, posteriormente, em humanos.

“As dificuldades eram o baixo rendimento de produção pelo fungo, a extração e purificação da penicilina (que é instável em determinadas condições) e a falta de recursos durante a segunda Guerra mundial”, afirma Bazito.

“Somente durante a Segunda Guerra, com fermentadores industriais, a produção em maior escala se tornou viável”, diz o professor Ennes que afirma que hoje, a maior parte é produzida biotecnologicamente.

Super Bonder

Inventado por Harry Coover nos anos 1940, o adesivo à base de cianoacrilato foi inicialmente considerado inútil por grudar em tudo. Anos depois, descobriu-se que essa era justamente sua maior qualidade.

“O cianoacrilato é um monômero, isto é, uma molécula que pode sofrer uma reação de polimerização (ligação entre diversos monômeros), "colando" as superfícies”, afirma o professor de química da USP.

“Em superfícies porosas (couro, papel, etc) pode ser necessário adicionar um acelerador (catalisador) para permitir uma reação mais rápida”, afirma Bazito.

O professor Ennes também explica que o cianoacrilato é um monômero altamente reativo que polimeriza em contato com traços de água presentes no ar ou na superfície dos objetos.

“A água atua como iniciadora da reação, quebrando a ligação dupla do monômero e formando cadeias longas em poucos segundos. É por isso que ele ‘cola’ até pele: sempre tem, mesmo que pouca, alguma umidade”, afirma.

Leia também: As profissões mais antigas do mundo que existem até hoje

Palito de fósforo

Em 1826, John Walker tentava criar um novo material explosivo para armas, mas ao raspar um bastão revestido percebeu que ele pegava fogo facilmente - inventando o fósforo de atrito.

“O fósforo vermelho presente, não no palito, mas na lixa, se converte em fósforo branco por fricção e calor. O fósforo branco é bastante reativo e inflama, iniciando a combustão da mistura de clorato de potássio, enxofre e outros agentes oxidantes na cabeça do palito”, afirma Ennes.

Antigamente o professor Ennes conta que usavam fósforo branco diretamente na cabeça, o que os tornava tóxicos e altamente instáveis. “Separar o fósforo da cabeça (colocando-o na lixa) reduziu risco de explosões acidentais e intoxicações”, diz.

Coca-Cola

O farmacêutico John Pemberton buscava criar um remédio para dores de cabeça e problemas digestivos. A mistura de ingredientes, incluindo folhas de coca e noz de cola, resultou no refrigerante mais famoso do mundo.

“A fórmula original tinha cocaína (das folhas de coca) em baixas doses e cafeína (da noz de cola). Essas substâncias atuavam como estimulantes do sistema nervoso central, aumentando disposição e reduzindo a percepção de dor e fadiga. Além disso, o xarope doce ajudava em problemas digestivos leves, segundo o que se tinha de conhecimento médico na época”, diz Ennes.

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