Carreira

Ele foi cancelado no LinkedIn e aprendeu esta valiosa lição de carreira

Na era do cancelamento nas redes sociais, sua reputação profissional pode estar em jogo. Especialmente se a polêmica acontecer no LinkedIn

LinkedIn  (Jaap Arriens/NurPhoto/Getty Images)

LinkedIn (Jaap Arriens/NurPhoto/Getty Images)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 10 de outubro de 2020 às 08h00.

Na era da cultura de cancelamento nas redes sociais, é difícil prever qual comentário pode viralizar na internet de uma forma negativa.

Pode acontecer com qualquer um e aconteceu com Diego Vargas Ortiz, cofundador da agência de marketing digital Chili. No final do mês passado, uma de suas publicações no LinkedIn gerou uma polêmica tão grande que ele acabou nos assuntos mais comentados de outra rede social, o Twitter.

No post, ele contava uma anedota sobre a tentativa de marcar uma entrevista de emprego com uma candidata, que se recusou a marcar a conversa por telefone no domingo. Segundo o relato, ela teria dito que usa o dia para relaxar.

E, no texto, o empreendedor escreveu uma crítica sobre essa postura da candidata, alertando sobre uma zona de conforto e a mentalidade de “eu mereço” na vida profissional. As opiniões causaram revolta e aí, pronto... logo ele estava cancelado.

“Eu sou viciado em LinkedIn”, conta ele. “Sempre postei coisas no LinkedIn. E, apesar dos comentários no último post, são coisas interessantes no geral. E nunca deletei nada, uso a rede como o Twitter, mas esse post foi uma união de comunicação horrível e algo que não era uma verdade para mim. Mas a internet não perdoa”.

E não perdoa mesmo. Ortiz conta que em menos de uma hora sua rede virou um caos. Mesmo apagando o comentário e colocando uma desculpa em seu lugar, as evidências ainda circulavam na rede.

“Eu comecei a olhar de maneira mais crítica para a situação como se eu fosse o colaborador. Não foi tão difícil pensar em como entenderia a postura se estivesse numa situação oposta. Já estive na posição de trabalhar em empresas onde me sentia explorado ou subvalorizado. Lembrei de um chefe que não gostava e que vi que parecia algo que ele escreveria. Me colocar no lugar dos outros foi a maneira mais rápida de perceber meu erro”.

Foi uma maneira dura de aprender uma lição de empatia. Para ele, o episódio foi um grande aprendizado de que não deve aplicar os seus padrões para todo mundo e aceitar que todos podem impor seus limites. "E não antagozinar os outros por suas escolhas", completa ele.

Na sua carreira no marketing digital, Diego lembra de uma memorável proposta de entrevista que teve quando trabalhava na China. Ele estava no meio do expediente quando recebeu um convite para uma oportunidade única de fazer uma entrevista na agência First Page Digital.

O único problema? O escritório da empresa ficava em Hong Kong, do outro lado da fronteira. Ele saiu do trabalho às seis da tarde, pegou o trem e um ônibus para chegar na entrevista antes das oito da noite. Depois da conversa com o gerente, ficou esperando num café para conversar com o dono da empresa ainda no mesmo dia.

E essa foi a oportunidade que abriu as portas para fundar a Chili em 2019. Hoje, o gerente que o entrevistou é seu sócio na agência com escritórios na Cidade do Panamá, na Cidade do México e em São Paulo.

Após se colocar no lugar de candidato, ele precisou admitir seu erro na comunicação. Afinal, é muito difícil entender a real intenção por trás da mensagem original. “As pessoas não são obrigadas a fazer uma entrevista no domingo. Eu entendo isso, você deve priorizar o que importa. Não era essa a intenção”, comenta.

No fim, a anedota era uma reflexão sobre escolhas e a grande dificuldade de equilibrar oportunidades de carreira com sacrifícios da vida pessoal. Como na sua história, ele não sabe o que teria acontecido se tivesse negado a entrevista de última hora.

“Cada um tem que administrar suas oportunidades. Quando eu faço uma entrevista, como nós conversando agora, eu deixei de colocar meu filho na cama. É muito pessoal definir o que funciona ou não para o seu propósito”.

Crise de reputação?

Segundo o empresário, não foi a opinião de desconhecidos na internet que o levou a deletar a publicação. Além da lição de empatia, a opinião de seus funcionários e a imagem que queria passar dentro da empresa contaram muito mais.

“Aquele comentário não representa o que penso, me arrependi dele. Soei babaca até, e não é o que penso, não está alinhado com a empresa. Pedir desculpas na internet não muda nada. Então, primeiro, eu pedi desculpas para a equipe que trabalha comigo e falei que não espero que eles coloquem o trabalho acima da saúde e do bem-estar. Nenhum colaborador infeliz e exausto rende para a empresa”, fala.

Segundo especialistas em carreira, a reputação se constrói através do comportamento. Mesmo com boas intenções, as ações contam muito mais. Ortiz deu o passo mais crucial para acabar com uma crise de reputação: reconhecer seu erro.

Depois, ele corrigiu sua atitude e se posicionou. Como um líder, sua prioridade estava correta ao criar um espaço de comunicação com sua equipe, ficando numa posição vulnerável para críticas mais construtivas. “Alguns pediram para parar de postar no LinkedIn”, conta ele.

Agora, o passo final para se recuperar de uma crise de imagem é a paciência. Retomar a credibilidade leva tempo e exige um comportamento consistente com seu novo posicionamento.

Entre os comentários negativos que ainda recebe, Ortiz conta que também recebeu milhares de currículos de pessoas em busca de emprego na área. Parte de seu aprendizado ainda está acontecendo ao ouvir histórias de profissionais que passam apertos para encontrar oportunidades por causa da crise econômica e da pandemia.

Até o fim do ano, a Chili continuará contratando para diversas posições. As operações no Brasil estão em expansão e a equipe deve crescer. O escritório é em São Paulo, mas toda da empresa está em home office e ainda sem previsão para voltar ao presencial. Os interessados podem acompanhar as vagas no site ou no LinkedIn.

 

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