Carreira

Elas mudaram de carreira depois dos 30 e abriram uma marcenaria: ‘Nunca é tarde para recomeçar’

Letícia e Fernanda deixaram o ramo do turismo para empreender em uma área dominada por homens. Hoje, à frente da Lumberjills, elas inspiram outras mulheres a inovarem no mercado de trabalho

Letícia Piagentini, de 42 anos, à esquerda, e Fernanda Sanino, de 40 anos, à direita: “Encantamos clientes e inspiramos mulheres. Recebemos muitas mensagens de mulheres que começaram a consertar coisas em casa, montar móveis, até abrir negócios. Isso é o que nos move” (Sabrina Coelho/Divulgação)

Letícia Piagentini, de 42 anos, à esquerda, e Fernanda Sanino, de 40 anos, à direita: “Encantamos clientes e inspiramos mulheres. Recebemos muitas mensagens de mulheres que começaram a consertar coisas em casa, montar móveis, até abrir negócios. Isso é o que nos move” (Sabrina Coelho/Divulgação)

Publicado em 8 de abril de 2025 às 14h01.

Última atualização em 10 de abril de 2025 às 15h33.

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Da hotelaria ao mundo das serras e parafusadeiras. As histórias de Letícia Piagentini, de 42 anos, de Santo André, e Fernanda Sanino, de 40 anos, de Santos, se cruzaram no ambiente corporativo, no centro de São Paulo, mas ganharam um novo rumo com a marcenaria. Ambas formadas em turismo e fluentes em vários idiomas, elas deixaram uma carreira consolidada para fundar a Lumberjills, oficina criada em 2015 e batizada com inspiração em lenhadoras da Segunda Guerra Mundial, que apareceram no programa Caçadores de Relíquias (History Channel)

"Essas mulheres, durante a Segunda Guerra Mundial, assumiram funções tradicionalmente masculinas, enquanto os homens estavam no front. Elas usavam lenço na cabeça, camisa xadrez, superfemininas, mas trabalhando como lenhadoras. A gente se identificou totalmente com essa ideia", conta Letícia.

Imagens de lenhadoras da Segunda Guerra Mundial, que apareceram no programa Caçadores de Relíquias (History Channel) (forestryengland.uk/Divulgação)

A mudança para o empreendedorismo veio com a vontade de fazer parte de um negócio, e não ser apenas um número. “A gente encantava clientes, mas não se sentia parte daquilo”, conta Fernanda, que, antes de empreender, se formou em hotelaria e trabalhou em por anos nesta área.

Já Letícia, criada em Santo André e filha de imigrantes italianos, passou 12 anos no setor de turismo e sempre teve o desejo de investir em uma empresa. “Cresci com essa pulga atrás da orelha. O corporativo foi importante, mas queria construir algo meu”, diz.

Construindo móveis – e um sonho

O pontapé para o novo negócio veio quando Letícia decidiu fazer um curso de desenho de móveis no Instituto Leo Madeiras, em parceria com o Senai. Ali, além de perceber que queria criar os próprios projetos, encontrou no ofício manual da marcenaria uma paixão inesperada. “Não queria só desenhar, queria executar. Fui atrás da formação em construtora de móveis e percebi: dá para viver disso.”

Aos poucos, Fernanda, fã do “faça você mesma” e de decoração, também se envolveu — mesmo achando a ideia “completamente absurda” no início. “Achava que íamos perder todos os dedos. Mas depois vi que era possível, sim, fazer isso com técnica, estudo e segurança.”

Resistência e propósito

A transição de carreira não foi simples. Ambas enfrentaram o olhar desconfiado da família e o preconceito com profissões manuais. “Existe essa ideia de que quem é qualificado precisa seguir no escritório. Fomos questionadas por largar uma carreira estável para trabalhar com algo que não exige ensino superior — o que não é verdade. A marcenaria exige muita técnica”, pontua Fernanda.

A resistência, no entanto, só reforçou o propósito. Com uma produção 100% artesanal, a Lumberjills nasceu na garagem da mãe de Letícia e hoje funciona em uma casa da década de 1950, que pertencia à avó dela, adaptada como oficina. De lá, saem móveis sob medida e conteúdo educativo para outras mulheres que desejam aprender sobre marcenaria.

“Encantamos clientes e inspiramos mulheres. Recebemos muitas mensagens de mulheres que começaram a consertar coisas em casa, montar móveis, até abrir negócios. Isso é o que nos move”, afirma Letícia.

Letícia e Fernanda construindo móveis na oficina onde elas começaram, na casa da mãe de Letícia, em São Paulo (Ana Paula Ferreira /Divulgação)

Crescimento com propósito

Com um crescimento controlado — e intencional —, a empresa faturou R$ 398 mil em 2024 apenas com a frente de marcenaria - no ano anterior o faturamento foi de R$ 309 mil. O número não inclui os cursos e ações com marcas parceiras, como Pacar, Guararapes e Pressure, das quais elas são embaixadoras. "Desde o início, temos avançado com o faturamento, nem na pandemia regredimos em valores", afirma Letícia. "Mesmo com a pandemia, nunca ficamos sem clientes. A pluralidade de serviços e o home office nos trouxe muitos clientes".

A divisão do trabalho é clara: Letícia cuida da produção na oficina, com ajuda da recém-contratada Ivi, ex-aluna de um dos cursos da dupla. Fernanda, que mora em São Paulo, é responsável pelo atendimento, conteúdo digital e instalações.

Mesmo com a expansão, elas recusam a ideia de terceirizar a produção. “Queremos crescer mantendo a essência. Cada móvel leva nossa assinatura, nossa visão estética, nosso cuidado”, diz Fernanda.

A expectativa para 2025 é crescer cerca de 40% no faturamento, equilibrando as três frentes do negócio: produção de móveis sob medida, cursos e parcerias com marcas.

Marcenaria como ferramenta de autonomia

Além de empreendedoras, Letícia é mãe e destaca o desafio da conciliação. “Empreender é como ter mais um filho. A gente ganha liberdade, mas também se vê pensando 24 horas no negócio. É preciso encontrar equilíbrio para não se perder.”

Apesar das dificuldades comuns ao empreendedorismo — como lidar com a burocracia, precificação e tributos —, elas se orgulham de não ter desistido. “Ser mulher nunca foi um problema. Pelo contrário, usamos isso a nosso favor, como diferencial de atendimento e sensibilidade no trato com os clientes”, reforça Fernanda.

Outro diferencial das mulheres da Lumberjills são os idiomas. Como poliglotas estão chegando em clientes de fora. "Fechamos um job com um francês recentemente, porque fomos as únicas que conseguiram entender o que ele queria", conta Fernanda.

E a mensagem que deixam para quem pensa em mudar de carreira é simples: “Nunca é tarde para recomeçar. Não tem idade ou gênero que possa impedir você de prosperar em uma área.”

Letícia Piagentini, de 42 anos, à esquerda, e Fernanda Sanino, de 40 anos, à direita. “Nunca é tarde para recomeçar" (Sabrina Coelho/Divulgação)

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