Cleo Pillon, fundadora da Aegisderma: "Quero ser voz para essas mulheres e mostrar que o recomeço é possível" (Cleo Pillon/Divulgação)
Repórter
Publicado em 9 de março de 2025 às 07h59.
Última atualização em 9 de março de 2025 às 12h57.
Nascida em Serra do Cravinho, no interior do Maranhão, Cleo Pillon, hoje com 46 anos, tem uma trajetória marcada por desafios, determinação e um olhar apurado para os negócios. Hoje empresária nos Estados Unidos e fundadora da Aegisderma, marca de cosméticos que aposta em nanotecnologia e ingredientes naturais. Cleo transformou sua paixão pelo autocuidado em uma empresa produtos de beleza e-commerce, com planos de chegar à Sephora e grandes redes de farmácias norte-americanas ainda este ano.
Sua história começa em uma condição humilde no Nordeste, criada em uma casa de barro, com uma vassoura feita de galhos e iluminação à base de lamparina com querosene. Criada pelos avós e depois por sua madrasta, Cleo cresceu em um ambiente simples, onde desde pequena desenvolveu o hábito de cuidar das pessoas.
"Minha madrasta tinha muita dor nas costas e eu queria ajudar. Pegava mel, misturava com açúcar, fazia esfoliação, usava babosa do quintal. E ela sempre dizia: 'Filha, você vai cuidar de pessoas, suas mãos são mágicas'", conta.
Aos 17 anos, Cleo tomou uma decisão que mudaria sua vida: deixou sua cidade natal e partiu para São Paulo em busca de oportunidades.
"Eu vendi o pouco que tinha, comprei uma passagem e fui com R$ 200. Quando pisei em São Paulo, senti que era ali o meu lugar", conta.
Trabalhou como recepcionista de hotel, mas, sem experiência, acabou perdendo o emprego e aceitando um cargo de camareira para se manter.
Foi em um encontro casual que sua carreira tomou um novo rumo. "Um amigo me disse: 'Você é vendedora nata, vou te indicar para uma multinacional'. Fiz a entrevista, vendi um licor de gema de ovo na seleção e fui contratada."
Seu talento a levou a se destacar na empresa, mas uma reviravolta em sua vida pessoal a aproximou da área da estética. "Depois de um acidente de carro, fui me recuperar na casa de uma amiga que tinha uma clínica de estética. Eu a via trabalhando e me vi ali. Foi um clique: era isso que eu queria fazer", diz.
Cleo deixou a segurança da multinacional, investiu na formação em estética e começou sua jornada no setor de beleza. Seu talento e carisma a levaram a conquistar uma clientela fiel, incluindo empresários e artistas. "Meu nome começou a circular. Eu atendi sócios do Blackton Senna, radialistas e figuras conhecidas no bairro do Itaim, em São Paulo."
Mesmo com o sucesso, a vida continuava a testar sua resiliência. Cleo passou por um divórcio, enfrentou uma depressão severa e perdeu boa parte do que havia construído. Foi nesse período que surgiu um convite inesperado: tornar-se assessora pessoal de uma assistente de palco da televisão. "Eu achava que nunca sairia da estética, mas aceitei o desafio. Trabalhei nos bastidores da mídia, fiz contatos e acabei sendo convidada para apresentar um programa na em uma grande rádio", conta.
Em meio a essa transição, conheceu seu atual marido, um empreendedor nos Estados Unidos. Em 2018, decidiu se mudar para Nova York e recomeçar a vida.
"Passei pelo luto migratório. Deixei tudo para trás, minha família, amigos, minha zona de conforto", conta. “Não foi uma decisão fácil”.
Nos Estados Unidos, enfrentou dificuldades para se reposicionar profissionalmente, mas encontrou nas redes sociais um caminho. "Comecei a produzir conteúdo sobre skincare na pandemia, fiz reviews de produtos, aprendi sobre o mercado americano e fui ganhando espaço."
Foi dessa experiência que nasceu a Aegisderma em 2023. "As pessoas perguntavam sobre os produtos que eu usava e percebi que era hora de criar minha própria linha", diz. A marca, que utiliza ingredientes naturais e tecnologia de ponta, nasceu com um conceito forte de autocuidado e bem-estar. "Eu quis trazer para os produtos a essência do que aprendi ao longo da vida: cuidado, acolhimento e eficácia", conta Cleo, que também criou, junto com a publicitária Deise Mireia, o evento e podcast, o Salto Alto Connection, para conectar mulheres imigrantes nos Estados Unidos e compartilhar histórias inspiradoras, inclusive sobre o luto migratório.
"No evento, reúno mulheres imigrantes para fazer networking, aprender sobre finanças e saúde mental. E no podcast tenho depoimentos lindíssimos de transformação e ele serve para ouvir essas histórias de mulheres, porque eu falo: quando você escuta, você se cura", afirma.
Hoje, a empresária está expandindo sua presença nos Estados Unidos e no Brasil. "Queremos estar na Sephora e em grandes farmácias. No Brasil, quero gerar empregos, ajudar meu povo. Não é só sobre cosméticos, é sobre transformar vidas", afirma.
Lançada oficialmente no final de 2023, a Aegisderma entrou no mercado com uma primeira remessa de 5 mil unidades e uma estratégia focada em feiras, marketing digital e parcerias estratégicas. Embora Cleo não revele números do faturamento e receita, a empresa ainda está em fase de investimento e consolidação, mirando uma expansão sólida e a entrada em grandes redes de varejo nos EUA.
"Eu levei produtos para a Europa e todos se apaixonaram. Estamos estudando a parte burocrática para entrar nesse mercado ainda este ano", afirma a empresária.
Além dos negócios, a família sempre teve um papel central em sua vida. "Tenho um filho biológico, o Pedro, que hoje tem 21 anos e mora comigo nos Estados Unidos. Ele estuda e trabalha aqui. Meu marido tem seis filhos de um casamento anterior e eu os acolhi como meus", conta Cleo.
Além da Aegisderma e da família, Cleo também se dedica a dois livros: "Salto alto: De pés descalços para grandes saltos", que será lançado em São Paulo neste mês e o livro "Conexão Mulher, o Poder do Salto Alto", que contará histórias de mulheres migrantes nos Estados Unidos e está previsto para ser lançado em maio deste ano. "Quero ser voz para essas mulheres e mostrar que o recomeço é possível", diz. “Não podemos abraçar o mundo, mas acredito que podemos transformar o nosso próprio universo e inspirar outras pessoas.”