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Ela recomeçou a vida nos EUA e agora fatura milhões de dólares ensinando finanças para imigrantes

A brasileira Ellyn Wang trocou a vida de empresária em São Paulo por um sabático em Miami — e achou sua missão: ajudar estrangeiros a se planejarem financeiramente

Ellyn Wang, empresária nos EUA: “Aqui o jogo é outro. No Brasil, jogamos futebol com os pés; aqui, jogamos com as mãos. É preciso conhecer as regras do novo país para vencer” (Ellyn Wang /Divulgação)

Ellyn Wang, empresária nos EUA: “Aqui o jogo é outro. No Brasil, jogamos futebol com os pés; aqui, jogamos com as mãos. É preciso conhecer as regras do novo país para vencer” (Ellyn Wang /Divulgação)

Publicado em 17 de junho de 2025 às 08h01.

Última atualização em 17 de junho de 2025 às 16h58.

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New York, Estados Unidos* - O endividamento é um dos grandes desafios para os imigrantes nos Estados Unidos. Com o dólar em alta, em comparação com a moeda de muitos estrangeiros, se sustentar no país é uma grande barreira para quem recomeça em um novo mercado de trabalho, em uma nova cultura. Para resolver essa dor, a brasileira e administradora Ellyn Wang criou uma empresa de planejamento financeiro – mas antes de tudo, passou pelo processo de imigração e adaptação no país.

Antes de cruzar as fronteiras, Wang já trazia no sangue o espírito empreendedor herdado da mãe chinesa — uma engenheira química de formação que construiu sua trajetória com negócios próprios no Brasil.

“Eu sou filha de imigrantes. Meus pais saíram da China para o Brasil quando ainda eram adolescentes, e foram tentar a vida em uma nova terra, assim como eu", diz. "Os chineses têm a veia comerciante e eles começaram a vida assim, compravam e vendiam produtos.”

Com esse DNA empreendedor, aos 26 anos Wang abriu sua própria joalheria em São Paulo, a “Lovely Me”. Mas tudo mudou quando em 2017 decidiu desembarcar em Miami com o marido e a filha para um ano sabático. Achava que seria um intervalo de seis meses, mas acabou virando o primeiro capítulo de uma reinvenção profissional.

“Quando decidi me mudar com a família, eu não imaginava que iniciaria no novo país uma nova carreira, muito menos uma empresa em um segmento tão diferente da joalheria”, conta.

A dor do recomeço

Com inglês e mandarim fluente, ao chegar nos Estados Unidos, ela começou a trabalhar com vendas em marcas de luxo como Louis Vuitton e depois em uma joalheria da família do cantor Phil Collins, em Miami.

“Era um trabalho bom, mas percebi que não havia para onde crescer. Eu precisava encontrar algo em que pudesse prosperar de verdade”, conta. “Dói dar passos para trás. Eu fui dona de loja no Brasil e vendedora aqui, mas isso abriu portas que eu nunca teria imaginado.”

Mudando de rota

Em 2019, após um workshop para imigrantes sobre finanças, Wang encontrou um novo propósito: usar o conhecimento de administradora e empresária para ensinar estrangeiros com planejamento financeiro nos EUA.

Wang ensina o que não está nos guias de migração: como lidar com o dinheiro em um país onde tudo — absolutamente tudo — custa caro e exige preparo.

“Achei que entendia tudo de dinheiro, porque tinha vivido no Brasil, mas aqui o jogo é outro. No Brasil, jogamos futebol com os pés; aqui, jogamos com as mãos. É preciso conhecer as regras do novo país para vencer.”

Da joalheria ao planejamento financeiro

Foi com esse pensamento que Wang fundou a Miami Solutions, empresa que representa seguradoras americanas e oferece consultorias personalizadas sobre finanças. Paralelamente, criou a DreamTeam, uma agência voltada à formação de novos consultores financeiros — com a missão de abrir oportunidades a outros imigrantes em busca de recomeço.

Hoje, sua equipe de mais de 120 pessoas atua em todos os estados americanos. “Nosso modelo é de portas abertas. Se a pessoa tem vontade de aprender e crescer, ela pode fazer parte”, afirma a empresária, que já dobrou o faturamento da empresa por vários anos seguidos. “Em 2024, a DreamTeam faturou US$ 2,5 milhões. A projeção para este ano é de até US$ 6 milhões”, afirma Wang.

Workshops e planejamento de vida

O trabalho de Wang vai além da venda de produtos financeiros. Ela realiza workshops educativos gratuitos sobre como planejar o futuro — seja pagando a faculdade dos filhos, apostando em seguro saúde, protegendo o imóvel com seguros adequados ou antecipando a aposentadoria.

“60% das falências nos EUA vêm de dívidas médicas. É assustador. Por isso, o primeiro passo é proteger a renda da família contra imprevistos, como uma doença grave ou morte prematura.”

Segundo ela, a base para uma vida próspera é simples: organização. “A renda ativa é frágil. Só com renda passiva é possível parar de trabalhar um dia.”

Foco no impacto, não apenas no lucro

O crescimento da empresa está diretamente ligado ao impacto que gera, afirma Wang. “Quanto mais famílias ajudamos, mais prosperamos. Não é só faturamento, é propósito.” A atuação também se estende a brasileiros que permanecem no país de origem, com serviços de dolarização de patrimônio.

Hoje, ela e o marido — que também se reinventou nos EUA na área de imóveis — dividem a liderança do negócio. “Foi um presente de Deus. Eu precisava me reinventar, e encontrei não só uma profissão, mas uma missão.”

A principal lição, segundo Wang, é clara: “Planejamento financeiro é paz de espírito. E paz de espírito é o que todo imigrante merece”, afirma. “Organizar as finanças é o primeiro passo para construir uma vida nova, com segurança, dignidade e, acima de tudo, liberdade.”

*Essa é uma das histórias que está no livro “Conexão Mulher, o poder do salto alto”, coordenado pelas empresárias Cleo Pillon e Deise Miréia. A Exame foi convidada para cobrir o lançamento do livro em New York.

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