Carreira

E se eu for concorrer com o filho do dono para uma promoção?

A indicação de Eduardo Bolsonaro pode ser barrada pela Câmara de Deputados. Mas e dentro das empresas?

eduardo bolsonaro trump (Instagram/Reprodução)

eduardo bolsonaro trump (Instagram/Reprodução)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 20 de agosto de 2019 às 06h00.

Última atualização em 20 de agosto de 2019 às 06h00.

São Paulo - A indicação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) do seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos não foi bem aceita pela população. Segundo a pesquisa da XP/Ipespe, 62% dos brasileiros são contra a decisão.

Além da opinião pública, o anúncio mobilizou políticos na Câmara dos Deputados para aprovar na quarta-feira, 14, na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público uma medida contra o nepotismo na administração pública federal. Uma emenda do relator, o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), pontualmente tornou nepotismo nomear um parente como ministro de Estado ou embaixador.

No funcionalismo público, existem regras para controlar o favorecimentos de familiares. Dentro de empresas, se o filho do dono for promovido para um cargo cobiçado, pode não haver um caminho para o profissional protestar contra a decisão.

O sentimento de impotência e injustiça pode criar um clima ruim e desengajar os funcionários que esperavam crescer dentro da empresa.

Para Roberto Picino, diretor executivo da Michael Page, a falta de atenção para condutas que evidenciam favoritismo pode prejudicar a imagem da empresa para o mercado também, demonstrando amadorismo e falta de competitividade ao privilegiar as relações pessoais e não as melhores competências.

“Todas empresas nascem familiares e depois podem crescer e trazer mais profissionalismo para sua gestão. Em empresas mais tradicionais, fora do eixo do Rio de Janeiro e São Paulo, é mais comum encontrar no comando o filho ou neto do dono. Ainda assim, essas empresas podem ter políticas e processos claros para a entrada e ascensão de funcionários”, explica ele.

O executivo comenta que já viu de tudo em sua carreira como consultor, de sucessos com a indicação de familiares a desastres.

Um herdeiro que começa como estagiário, trabalha em lojas e em diversas áreas do negócio, mostra um comprometimento com a formação de comando responsável. Esse foi o caso de Alessandra Restaino, hoje sócia diretora da Le Postiche. A executiva trilhou o caminho da base ao topo da empresa e chegou a ficar 7 anos na presidência da companhia no lugar de seu pai, Álvaro Miguel Restaino.

Um passo recente da Le Postiche foi buscar um novo presidente no mercado - o executivo Carlos Eduardo Padula - que trouxe decisões mais estratégicas e isentas, como a executiva contou para EXAME. O intuito dela e de sua irmã era justamente indicar ao mercado maior maturidade e profissionalismo na empresa.

“O mercado admite cada vez menos falhas e cobra inovação das empresas. Você precisa estar com tudo organizado e demonstrar que sua prioridade não está nas relações familiares, mas nos negócios”, diz o consultor.

Misturar interesses familiares com negócios pode gerar diversas situações delicadas e muito complicadas de resolver, como dar um feedback ruim para o filho de um diretor que está na sua equipe ou navegar em mudanças de estratégia que foram decididas em almoços de família.

Para o profissional, pode ser difícil saber de antemão que, no seu novo emprego, irá competir por uma promoção com um herdeiro. O diretor executivo da Michael Page indica que é necessário ficar atento à estrutura da empresa para entender a dinâmica de poder.

“A pessoa vai perceber no dia a dia se seu aprendizado ou crescimento fica limitado. Vale ter uma conversa franca com seu empregador para alinhar as expectativas, indicando aonde quer chegar e a possibilidade de alcançar o cargo”, explica Picino.

Em situações sem expectativa de crescimento, ele conta que é comum que profissionais muitos bons saiam da empresa e se tornem concorrentes.

“Na prática, em regiões menores e afastadas de grandes centros, não tem muito para onde fugir. Tem lugares pelo Brasil onde metade da cidade é empregada por uma empresa só. E a melhor opção para alguém que queira chegar a ser sócio seja empreender”, diz ele.

Ao procurar um emprego, uma dica para avaliar se a empresa terá um favoritismo é observando seus processos de seleção. Muitos programas de estágio e trainee, por exemplo, perguntam se o candidato tem algum parente na companhia. “Você deve buscar por processos isentos, avaliações por competência e transparência”.

A maior garantia de um processo justo é a própria empresa criar políticas claras para evitar favoritismo, mesmo entre amizades, estabelecendo regras em seus códigos de conduta e ética.

 Assine a newsletter da VOCÊ S/A e da VOCÊ RH

Acompanhe tudo sobre:Empresas familiaresGoverno BolsonaroProcessos de seleçãoPromoções

Mais de Carreira

Júnior com salário de sênior? Por falta de talentos, este setor oferece salários acima da média

O mito da caverna e o mundo dos negócios: as lições de Platão para os líderes contemporâneos

Estes são os comportamentos mais inadequados no ambiente de trabalho

Adeus, CLT? Especialista revela qual o modelo de negócio ideal para quem vai começar a empreender