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Desemprego baixo e salário mais alto podem ser ruins?

O país tem a menor taxa de desemprego em dez anos e os salários são reajustados acima da inflação. Mas alguns economistas dizem que isso pode prejudicar você


	Call center: setor de serviços rouba mão de obra da indústria 
 (Germano Lüders)

Call center: setor de serviços rouba mão de obra da indústria  (Germano Lüders)

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Da Redação

Publicado em 28 de maio de 2013 às 18h57.

São Paulo - O mercado de trabalho brasileiro vive atualmente um paradoxo. Por um lado, tem-se o menor nível de desemprego dos últimos dez anos. Enquanto países combalidos pela crise, como Espanha e Portugal, na Europa, registram taxa de desemprego superior a 20%, no Brasil o desemprego é de 5,5%. Isso significa que praticamente todos os brasileiros aptos para o trabalho estão empregados.

A consequência da maior demanda por profissionais é o aumento dos salários, principalmente nos setores de serviços e consumo, que são os maiores empregadores da economia e cresceram muito nos últimos anos. Para o trabalhador, essas são ótimas noticias. O paradoxo é que esse cenário se dá num ambiente de baixo crescimento econômico.

A economia brasileira teve, no ano passado, o pior desempenho desde 2009 e só superou os países europeus atingidos pela crise. Esse descompasso tem rendido um debate acalorado entre os principais economistas do país e os mais gabaritados analistas do mercado de trabalho.

"A saída é frear a economia. Demitir [profissionais] mesmo", disse Alexandre Schwartsman, ex-diretor de política monetária do Banco Central (BC), ao jornal O Globo no mês passado. Já o economista Delfim Netto diz que o Brasil assiste a um “processo civilizatório”, com o trabalhador ganhando mais e tendo melhores condições de vida.

Desemprego negativo

O pano de fundo que tem colocado os economistas em um confronto saudável de ideias é o consumo (que tem se mantido dada a maior renda do brasileiro) e, principalmente, a inflação decorrente dele, atualmente em 6% ao ano e fora da meta de 4,5% ao ano, definida pelo BC.

Parte do descontrole inflacionário já é sentido pelo trabalhador na hora de ir ao supermercado ou à feira. O preço dos alimentos disparou. Os motivos para isso? Um estudo publicado em 2012 pelo economista Naercio Menezes, do Insper, mostra que a taxa de desemprego é negativa para muitas carreiras.


A pesquisa avalia a oferta e a demanda de trabalho no Brasil. Ou seja, os brasileiros estão empregados e ganhando mais do que antes. De acordo com pesquisa da consultoria Mercer com 380 empresas, os executivos brasileiros tiveram um reajuste de 5% a 6% de 2010 para 2011, alta de até 1% sobre os 5% registrados entre 2009 e 2010. Os reajustes ficaram em linha com a inflação do período, embora há diversos casos de executivos cujos salários se descolam dessa realidade. Um exemplo são os diretores financeiros.

A remuneração dos executivos de finanças que trabalham em São Paulo está entre as maiores do mundo. O salário médio anual desses profissionais é de 545.000 reais, sem contar o bônus. Os brasileiros só perdem para seus pares em Nova York, que recebem 640.000 reais, e para os de Londres, que ganham 590.000 reais.

Os brasileiros ficam na frente dos chineses, dos espanhóis e dos franceses. Os dados vêm de uma pesquisa divulgada no mês passado pela Robert Walters, consultoria inglesa de recrutamento executivo, que analisou informações de 53 empresas em 24 países.

Os funcionários do nível operacional tiveram reajustes maiores, ainda que o salário deles seja muito menor do que o dos executivos. Segundo a consultoria Mercer, de 2009 a 2010 foi registrada uma alta de 6,3%, valor que subiu para 7,9% de 2010 para 2011. Em 2012, os funcionários operacionais tiveram reajuste de 7% no salário.

Todos os reajustes ficaram acima da inflação. Para Wilson Amorim, doutor em administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, outros fatores, como o crescimento do preço das commodities e a desvalorização do câmbio, contribuem mais para o aumento dos preços do que a alta dos salários.

"O Brasil vive a inflação de oferta, e não de demanda. Quando aumenta o preço das mercadorias no exterior, sobe também no Brasil. É perigoso dizer que os salários mais altos prejudicam a economia, pois a redistribuição da renda é benéfica para a população", diz Wilson.

Mais produtividade

Dentro das empresas, os salários mais altos encarecem a folha de pagamento, o que coloca mais pressão sobre o gestor para cortar custos e obter mais produtividade da equipe. Uma alternativa para trabalhar nessas condições é a substituição dos mais experientes por funcionários mais jovens — e mais baratos.


Esse fenômeno vem se acentuando nos últimos meses, mostra um estudo da Mercer. Por exemplo, um diretor baby boomer, nascido entre 1946 e 1964, ganha cerca de 37.000 reais mensais no Brasil, valor que cai para 32.000 para um profissional de cargo equivalente da geração X (de 1965 a 1980) e despenca para 28.000 para um da geração Y (a partir de 1980). Um gerente baby boomer ganha cerca de 13 000 reais, ante 10 000 reais do gerente da geração Y.

Trocar a experiência pela força de vontade da juventude tem um preço. Em geral as empresas precisam investir em treinamento para acelerar o desenvolvimento da moçada — principalmente quando se assume cargos de gestão.

Na opinião de Lauro Ramos, especialista em mercado de trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, nem sempre as companhias conseguem arcar com os custos de investimentos em produtividade. "Nesses casos, a redução de emprego é uma consequência não desejável, mas inescapável."

Por outro lado, se a produtividade é o principal critério de escolha na hora de contratar ou demitir alguém, a qualificação é o maior diferencial. E a baixa produtividade entre os profissionais altamente capacitados é vista com pouca frequência no Brasil, na opinião de Leonardo Ribeiro, diretor da Fesa, especializada em recrutamento de executivos.

Por eles serem poucos, Leonardo prevê que as ofertas de empregos com altos salários vão continuar em 2013, apesar da aparente estagnação da economia. Sinal de que os economistas ainda vão ter muito para discutir. 

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