Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h30.
Luiz Carlos e Tereza formam um casal de executivos brilhantes. Os dois cursaram MBA nos Estados Unidos, trabalham na área financeira e estão muito bem colocados no mercado. Luiz Carlos é diretor financeiro de uma grande companhia do setor de bebidas. Tereza é sócia de uma empresa internacional de consultoria na área de negócios.
Nos últimos seis meses Tereza esteve à frente de um projeto milionário numa das empresas clientes da consultoria. E foi tão bem-sucedida que agora essa companhia a quer como diretora financeira. O convite é tentador em todos os sentidos pecuniários. Entre salários e benefícios, ela pode levantar duas vezes o que vem tirando como consultora. Isso sem contar as luvas que estão lhe oferecendo. Não é remuneração de Ronaldinho, mas, ainda assim, Tereza se tornaria uma das executivas mais bem pagas do país (e uma provável personagem de EXAME).
Este é o lado bom.
O ruim: a empresa que a quer é a arqui-rival da empresa onde seu marido trabalha.
E aí: Tereza deve ir?
A psicóloga Liège Kraemer Haetinger é headhunter da Brasilconsult, de São Paulo. É casada com um médico
Antes de tomar uma decisão final a respeito deste tentador convite, Tereza deve ponderar alguns aspectos. Vamos partir do pressuposto de que se trata de um casal amadurecido emocionalmente. Ou seja, os dois sabem lidar equilibrada e eticamente com o sucesso. A competição entre eles é um estímulo positivo para o desenvolvimento pessoal e profissional de ambos.
Em primeiro lugar, Tereza deve pensar se tem mesmo vocação para ser executiva em tempo integral para uma única empresa. Uma coisa é ser consultora e trabalhar aconselhando e dirigindo projetos que têm início, meio e fim. Outra é envolver-se no dia-a-dia de uma empresa. O segundo aspecto é saber se seu futuro empregador não vê problemas no fato de seu marido estar na companhia arqui-rival. Também não sabemos qual a postura que o empregador do marido tomará quando houver a comunicação da efetiva contratação de Tereza pela concorrência.
O que acontece é que a posição do marido será o motivo de conversas dentro e fora da empresa. Isso pode resultar numa, vamos ser otimistas, promoção para outra função ou unidade ou, na pior das hipóteses, afastamento. Superados esses obstáculos, Tereza deve analisar se deseja correr o risco ou não da mudança na carreira.
Acredito que da forma como ela vem investindo em sua carreira deverá aceitar a proposta. Caso seu igualmente bem-sucedido marido seja mesmo afastado de sua função, ele sempre poderá ir em busca de novas oportunidades no mercado.
Vale salientar que se não houver maturidade emocional em nossos protagonistas esta análise deixa de ter validade. As conseqüências para o casamento e para suas carreiras podem ser nefastas.
Gutemberg Macedo é formado em direito e mestre em teologia filosófica pela Faculdade Teológica da Fé, na Filadélfia, Estados Unidos. Atua como consultor de empresas em recrutamento, seleção e outplacement
O dilema vivido por Tereza é uma realidade no mundo dos negócios nos dias atuais. A decisão da executiva de aceitar ou não o convite é de natureza puramente pessoal. Todavia, ao analisarmos os termos de sua consulta e suas excelentes qualificações, acho que há outros fatores a ser considerados por ela, tão ou mais importantes que o financeiro:
1 - A carreira do próprio marido e as implicações decorrentes da sua decisão de trabalhar na empresa arqui-rival.
2 - O seu grau de adaptabilidade à função executiva, a qual é inteiramente diferente da carreira de consultora.
3 - Até que ponto as empresas rivais estão dispostas a conviver com uma questão que pode gerar conflitos de interesse: a quem ela deve a sua lealdade, ao marido ou à empresa? Em geral, empresas éticas não aceitam esse tipo de situação.
4 - Ela tem certeza de que sua posição será tão interessante a longo prazo como aparenta ser hoje?
5 - Ela sabe quais são as verdadeiras intenções da empresa ao contratar a mulher de um dos executivos de sua principal concorrente?
6 - Quais são os prejuízos para sua carreira a médio e longo prazos se ela rejeitar a oferta de trabalho?
7 - A quem ela se subordinará? O chefe é um fator-chave no sucesso da carreira. Ela o conhece verdadeiramente? É bom lembrá-la de que o tratamento dispensado a um consultor externo é, em geral, totalmente diferente daquele dispensado aos próprios funcionários internamente. O jogo de sedução é comum quando se deseja contratar alguém especial. Uma vez que a conquista acontece, não raro o encanto se evapora antes mesmo de terminada a lua-de-mel.
8 - Ela e o marido estarão dispostos a fazer e a cumprir um "pacto de silêncio" sobre os planos e estratégias das empresas onde trabalham? Até que ponto tal postura poderá afetar o relacionamento afetivo deles?
Se essas e outras indagações forem respondidas de maneira consciente e convincente, não há dúvidas: ela deve aceitar o convite. Caso contrário, deve permanecer onde está. Inevitavelmente, outras oportunidades surgirão em virtude de sua competência, preparo, nível de experiência e talento.
Alfredo José Assumpção é economista, pós-graduado em desenvolvimento de RH pela FGV e vice-presidente executivo da Financial Executive Search Associates, empresa de headhunting
Examinei com carinho a situação de Luiz Carlos e Tereza. Trata-se de um caso bastante interessante, no qual estão presentes questões como ética amor e ambição. Antes de mais nada, como consultor em recrutamento de executivos, jamais aconselharia meu cliente a admitir Tereza para a posição. O risco de vazamento de informações é grande. Superada essa fase e tendo concluído que a empresa a quer de qualquer forma, minha resposta é sim. Primeiro, porque Tereza e Luiz Carlos evidentemente foram examinados pela empresa contratante e considerados suficientemente éticos. Eles são capazes de não levar os assuntos do trabalho para a cama.
O problema poderá surgir na empresa de Luiz Carlos. A mesma análise sobre a ética do casal será feita no momento em que se souber que Tereza ocupa posição-chave no concorrente. Se a conclusão for a mesma da empresa contratante de Tereza, fantástico. O casal irá aumentar a renda dramaticamente sem nenhum problema aparente. Por outro lado, se a empresa do marido de Tereza não se sentir confortável com a situação, Luiz Carlos estará em via de perder o emprego. E nesse caso é melhor mesmo que o perca e vá procurar outra empresa, onde será mais respeitado como profissional.
Como reforço, vejo ainda o lado pessoal do casal. Jamais o marido deixará de apoiar a ida da mulher para o concorrente. O novo emprego poderá ser uma grande realização profissional para ela. E, se realmente a amar, Luiz Carlos não irá querer atrapalhá-la de nenhuma maneira. Por seu lado, se Tereza recusasse a proposta no intuito de proteger o marido, estaria reduzindo o valor profissional dele. Por quê? Pelo simples fato de que todo bom profissional gosta de ter independência em todos os sentidos. Ou seja, prefere não sofrer interferências, seja para o bem, seja para o mal. Essa é a análise simples e espontânea que fiz do caso. Se eu fosse o Luiz Carlos, seria o maior incentivador da Tereza. Por minha causa, ela jamais deixaria de pegar a posição. Será que sou muito auto-suficiente?
O economista Felipe Westin possui uma experiência de 23 anos na área de recursos humanos. Passou pela Dow, Alcoa e Monsanto do Brasil. Hoje é o diretor de RH da Monsanto Company para a América Latina
Luiz Carlos e Tereza são dois profissionais muito bem preparados. Possuem uma formação acadêmica e uma experiência profissional que os fazem ser muito cobiçados e valorizados no mercado. Portanto, apesar de casada, Tereza deve considerar a chance de desenvolvimento de carreira que esta proposta oferece e aceitar o convite do novo emprego.
Luiz Carlos é inteligente e preparado. Certamente saberá separar a relação de casal que tem com a mulher das oportunidades profissionais que a vida está apresentando. Mesmo porque, do ponto de vista financeiro, a proposta é extremamente atraente.
Mas, se a situação de ocupar o mesmo cargo que o marido vai se transformar em desconforto para ele, Tereza pode aventar a hipótese de Luiz Carlos buscar uma nova colocação. Os dois devem conversar e partir do princípio de que a oferta que ela recebeu é mais atraente do que a que ele possui atualmente. Essa lógica é perfeitamente defensável e válida. E é colocada em prática muitas vezes, quando um dos membros do casal recebe uma oferta de trabalho que implica deslocamento de cidade ou de país.
Defendo a tese de que o bom senso deve prevalecer. O fato de marido e mulher trabalharem em empresas rivais não deve ser um impedimento para que os dois se mantenham independentes profissionalmente. Da mesma forma, eles têm o direito de se amar e constituir família. Que Luiz Carlos e Tereza sejam felizes no amor e na carreira!
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