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Donald Trump quer deportar imigrantes. Como isso impacta quem já trabalha nos EUA?

Novo governo estima deportar cerca de 1 milhão de pessoas por ano – entre impactos e benefícios, um muro de incerteza cresce para quem busca trabalhar no país

Uma das promessas de Donald Trump na campanha à presidência dos Estados Unidos foi a deportação em massa de imigrantes ilegais (Logan CYRUS/AFP)

Uma das promessas de Donald Trump na campanha à presidência dos Estados Unidos foi a deportação em massa de imigrantes ilegais (Logan CYRUS/AFP)

Publicado em 7 de novembro de 2024 às 18h38.

Última atualização em 7 de novembro de 2024 às 19h47.

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Cortes de tributos, relações com países em guerra e menos investimento em iniciativas de proteção ao meio ambiente – essas são algumas das propostas que Donald Trump prometeu em sua campanha este ano, mas há outra promessa que repercute dentro e fora do país: a deportação em massa de imigrantes ilegais. 

Durante a campanha, Trump foi incisivo sobre o tema em uma entrevista à revista americana Time. "Não vamos deixá-los no país. Vamos tirá-los". O próximo presidente dos Estados Unidos também não descartou durante a entrevista a possibilidade de fazer campos de detenção , mas espera não chegar a tal ponto.

O combate à imigração ilegal é uma das promessas que Trump pretende iniciar logo no início do seu mandato e promete impactar muitos estrangeiros que vivem contra as leis do país. “Estima-se que a deportação em massa poderia impactar cerca de 1 milhão de pessoas ao ano”, afirma Talitha Krenk, advogada de imigração nos Estados Unidos no estado da Indiana.

As declarações de Trump, porém, deixam inseguros os brasileiros que trabalham ou que buscam entrar no mercado de trabalho dos Estados Unidos. Afinal, será possível imigrar e conseguir trabalho no país? O que muda para os imigrantes com a eleição do republicano?

Os dois tipos de imigração

Há dois tipos de imigração nos Estados Unidos: a legal e a ilegal. Fato é que a única que Donald Trump afirma que aceitará a partir de 2025 será a do estrangeiro que tiver documentação para entrada ou permanência no país. Apesar do discurso anti-imigração ilegal, Trump valoriza os imigrantes que contribuem financeiramente e intelectualmente para o país, afirma Krenk.

“Isso ficou evidenciado, por exemplo, quando ele declarou recentemente durante a campanha que estudantes estrangeiros que se graduam em faculdades americanas deveriam receber um Green Card automaticamente”, diz Krenk.

Já para quem trabalhar ilegalmente no país, o aviso de Trump é simples e direto: deportação para o país de origem.

Quando um imigrante se torna um trabalhador ilegal?

Trump fez das travessias ilegais na fronteira entre os Estados Unidos e o México um ponto central de sua campanha, mas não é só por terra que os imigrantes entram. Por avião e até por mar existe um caminho para imigrantes chegarem no país – e muitos chegam para ficar por meio do trabalho ilegal, ou seja, quando não tem autorização e documento que os libere para trabalhar.

Muitos imigrantes normalmente entram com o visto de turista no país, que permite ficar por até 6 meses legalmente. Após esse período, ele está automaticamente ilegal no país - caso não regularize a sua situação como estudante, investidor ou funcionário de uma empresa.

Como conseguir um visto de trabalho nos EUA?

Para se tornar legal no país, principalmente quando o assunto é trabalho, existem diferentes vistos americanos. “Para trabalhar nos Estados Unidos, há várias opções de visto, na verdade são 187 alternativas e caminhos possíveis, dependendo de sua profissão, qualificações e objetivos”, afirma Vinícius Bicalho, advogado especialista em imigração.

Entre os mais comuns, o advogado destaca:

  1. Vistos de Trabalho Temporário (não imigrante):
  • H-1B (Ocupação de Especialista): Destinado a profissionais com formação superior ou habilidades especializadas. Requer uma oferta de emprego de um empregador nos EUA que atue como patrocinador.
  • H-2A (Trabalhador Agrícola Temporário): Para trabalhadores em atividades agrícolas sazonais. Necessita de uma oferta de trabalho de um empregador americano.
  • H-2B (Trabalhador Temporário Não Agrícola): Voltado para trabalhos temporários em setores não agrícolas, como turismo e construção. Também exige uma oferta de emprego nos EUA.
  • L-1 (Transferência Intraempresa): Para funcionários de empresas multinacionais que são transferidos para uma filial ou matriz nos EUA. O candidato deve ter trabalhado na empresa por pelo menos um ano nos últimos três anos.
  • O-1 (Habilidades Extraordinárias): Para indivíduos com habilidades excepcionais nas ciências, artes, educação, negócios ou esportes. Requer comprovação de reconhecimento nacional ou internacional.
  1. Vistos de Trabalho Permanente (imigrante):
  • EB-1 (Trabalhadores Prioritários): Para pessoas com habilidades extraordinárias, professores ou pesquisadores de destaque, e executivos ou gerentes multinacionais.
  • EB-2 (Profissionais com Diploma Avançado ou Habilidades Excepcionais): Para indivíduos com pós-graduação ou habilidades excepcionais em suas áreas. Pode incluir o "National Interest Waiver" (NIW), que dispensa a necessidade de uma oferta de emprego se o trabalho for de interesse nacional para os EUA.
  • EB-3 (Trabalhadores Qualificados, Profissionais e Outros Trabalhadores): Para profissionais com bacharelado, trabalhadores qualificados com pelo menos dois anos de experiência e outros trabalhadores para empregos que exigem menos de dois anos de experiência.

Krenk afirma também que existem várias possibilidades que variam de acordo com o perfil profissional. “Primeiro avaliamos o perfil do cliente e o seu currículo. Cada visto tem requisitos diferentes. Alguns jovens vêm como estudantes e depois são patrocinados por empresas americanas. Alguns gerentes de empresas multinacionais são transferidos. Outros profissionais experientes, principalmente na área de tecnologia, são patrocinados, assim como profissionais de saúde que se licenciam nos EUA.”

Os benefícios que um trabalhador ilegal não pode acessar

Quem aposta no trabalho ilegal como uma forma de viver nos Estados Unidos, além de correr o risco de ser deportado a qualquer momento, renuncia a alguns direitos, como:

  • Visitar seu país de origem
  • Solicitar uma carteira de motorista (em estados onde não é permitido a imigrantes ilegais),
  • Embora possam alugar moradias, comprar imóveis ou veículos pode ser complicado sem um número de identificação tributária (ITIN) ou documentos legais,
  • Não podem votar em eleições ou candidatar-se a cargos públicos,
  • Embora possam cursar escolas primárias e secundárias públicas, o acesso ao ensino superior, como faculdades ou universidades, geralmente exige comprovação de status legal para bolsas e financiamentos estudantis,
  • Embora existam leis que protejam os trabalhadores independentemente de status migratório, muitos têm medo de denunciar abusos, como exploração ou condições insalubres, por receio de deportação.

“Vale reforçar que a contratação e o trabalho sem permissão violam não só as leis imigratórias dos Estados Unidos como as leis trabalhistas, tanto para o empregado quanto para o empregador”, afirma Krenk.

As áreas e estados que mais atraem imigrantes

Economicamente, a mão de obra imigrante é muito positiva para os Estados Unidos e se tornou essencial para o desenvolvimento principalmente de 4 estados, segundo o estudo The Foreign-Born Population in the United States: 2022, publicado pela U.S. Census Bureau em abril de 2024. O estudo analisou dados da população imigrante nos Estados Unidos com base nas estimativas anuais da American Community Survey (ACS) de 2010 a 2022.

Com base no estudo, esses são os estados com o maior número de imigrantes nos Estados Unidos:

“Atualmente, os imigrantes ilegais se concentram nas áreas como construção civil, empregados domésticos, faxineiras, babás, cuidadores, zeladores e motoristas de aplicativos, porque existe falta de mão de obra nessas áreas”, afirma a advogada de imigração. “Muitos desses empregos não são atrativos para quem é cidadão ou tem permissão de trabalho devido a outras possibilidades mais atrativas no mercado”.

Quem está ilegal pode se regularizar?

Existe uma maneira de regularizar a situação de status ilegal, mas não é um processo simples e não é para todos, afirma a advogada de imigração.

“Temos que analisar a forma que essa pessoa entrou no país, se tem parentes americanos, se foi vítima de crimes, entre outros. Algumas pessoas precisam de um ‘perdão’ do governo ou deixarem o país para fazer entrevistas no consulado americano no país de origem. Mas, tecnicamente é possível para alguns e os processos podem durar anos.”

Ter um filho americano também não é garantia para os pais que estão ilegais nos Estados Unidos e que precisam se regularizar no país.

Não existe essa garantia de ter um visto de permanência porque o filho nasceu nos Estados Unidos, o que é diferente do Brasil. Nos Estados Unidos, os pais ainda podem ser deportados se estiverem no país sem documentos”, diz. “Na prática, podemos usar a filiação como uma forma de persuadir decisões, mas não existe garantia.”

Existe, no entanto, uma lei em que os filhos podem peticionar para seus pais receberem a residência no país, mas para isso eles (os filhos) precisam ser maiores de idade, ou seja, terem pelo menos 21 anos. “O que também não é automático e exige o cumprimento de outros requisitos”, afirma a advogada.

Número de imigrantes cresce nos Estados Unidos

Em 2023, a população de imigrantes nos Estados Unidos aumentou em aproximadamente 1,6 milhão de pessoas, totalizando um recorde de 47,8 milhões de imigrantes residentes no país, em comparação à 2022. Deste total, cerca 23% estavam no país sem autorização. Este foi o maior incremento anual desde 2000, conforme análise do Pew Research Center.

Por outro lado, muitos brasileiros estão buscando entrar legalmente no país para trabalhar e estudar por meio de intercâmbios, segundo ranking realizado pela Belta (Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio). Nele os Estados Unidos estão em os três países mais buscados por brasileiros para estudar e trabalhar legalmente.

Entre impactos e benefícios que os imigrantes causam no país, a única certeza que fica é que em 2025 será um ano desafiador para os trabalhadores ilegais que veem um muro de incerteza crescer em seus caminhos.

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