30. Contabilidade e atuariais (SXC)
Da Redação
Publicado em 2 de julho de 2014 às 18h52.
São Paulo - A palavra dívida costuma ser associada a problemas financeiros. Via de regra, ter uma dívida significa ser negligente com o próprio dinheiro. Esse é um jeito de pensar — e bastante limitado. Isso porque a dívida pode ser encarada como um bom negócio, quando gera valor.
Estão nessa categoria empréstimos para a compra da casa própria, para financiar os estudos, para aumentar a empresa. O bom empréstimo não compromete mais de 30% do orçamento. Ao contrário, a dívida ruim é aquela feita para a aquisição de bens duráveis e descartáveis, e com juros altos.
Para o colunista de VOCÊ S/A e professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) Samy Dana, o primeiro passo para identificar as boas dívidas é entender o que torna algumas piores do que as outras. Uma das lições mais importantes é que, quanto mais fácil e rápido o crédito, mais caro será.
Cartões de crédito e cheques especiais, por exemplo, têm as taxas mais altas — de 9,37% e 7,97% mensais, respectivamente —, pois não fazem uma análise de crédito muito detalhada e, portanto, não dão tantas garantias às instituições financeiras.
Para quem caiu na armadilha do crédito imediato do cartão ou do cheque especial e se viu preso em débitos que não consegue pagar, fazer um empréstimo a uma taxa de juro menor é uma boa dívida, que vai ajudar a quitar a anterior. O crédito consignado se encaixa nesse perfil, já que o pagamento das parcelas está atrelado ao salário do requerente, o que significa garantia financeira para o banco e, como consequência, juros menores, em torno de 1,5% a 3% ao mês.
À vista ou financiado
Outro instrumento de crédito que costuma ter condições mais atraentes é o imobiliário. “É uma das dívidas mais saudáveis e serve de ponte para a pessoa conseguir um bem sem desencaixe de seu patrimônio”, diz Augusto Miranda, diretor de gestão de patrimônio do HSBC.
Para Augusto, até mesmo nos casos em que o cliente possui o dinheiro para quitar o imóvel, adquirir um empréstimo desse tipo pode ser interessante se o valor aplicado render mais mensalmente do que o que será usado para pagar as prestações do financiamento.
Por exemplo, se o imóvel custa 80 000 reais, e você tem 100 000 economizados, talvez compense entrar no empréstimo e investir os 100 000 — se o rendimento desse valor for suficiente para pagar as parcelas. Assim, você não comprometerá suas economias enquanto aumentar o patrimônio.
Sinara Polycarpo Figueiredo, superintendente de investimentos do banco Santander, adiciona à lista de dívidas boas aquelas que aumentam seu valor de mercado para gerar renda no futuro, como os gastos em capacitação e atualização, que lhe permitirão conseguir melhor remuneração. “Você está investindo em você”, diz Sinara. Ela lembra que ainda existe a possibilidade de liquidar mais rapidamente as prestações, graças aos aumentos resultantes desse gasto bem direcionado.
Planejamento
Antes de contrair qualquer uma dessas dívidas, entretanto, os especialistas sugerem fazer uma análise profunda. “Pensar que a dívida ‘cabe no bolso’ é algo perigoso, porque você pode ter percalços ao longo do caminho”, diz Enrico Porta, diretor financeiro da Nokia Brasil.
De acordo com o especialista, na hora de estimar sua capacidade de endividamento, é preciso levar em conta não só os gastos básicos mas também imprevistos, como demissão, queda na remuneração variável e até períodos de afastamento do trabalho — para quem é autônomo —, fatores que afetam o orçamento mensal.
Segundo Augusto Miranda, do HSBC, deve-se avaliar três pontos antes de decidir se uma dívida é boa para você: o prazo até quitar a dívida, o custo total (que inclui o valor requisitado somado aos juros) e o percentual que ela representa em seu patrimônio, quando olhada em conjunto com as demais dívidas e despesas mensais, como contas de luz e de gás e gasto com compras no supermercado.
“Só assim você vai ter o controle”, diz Augusto. Com essas orientações em mente, você vai poder escolher, de forma consciente, as dívidas em que quer entrar, em vez de embarcar na armadilha do crédito fácil e caro.