Richard Branson: para o fundador da Virgin, a dislexia impulsiona seu pensamento criativo (Brendon Thorne/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 25 de janeiro de 2019 às 15h00.
Última atualização em 25 de janeiro de 2019 às 15h00.
Pode-se dizer que Richard Branson é dono de um império. Isso porque o empresário britânico é fundador do grupo Virgin, que inclui empresas de aviação, transporte ferroviário, música, telecomunicações e mídia, entre outras, presentes em todos os continentes.
Ele afirma que parte do seu sucesso vem do fato de que é disléxico – opinião incomum porque o transtorno de aprendizagem é considerado, por muitos, negativo. Segundo um estudo da entidade global Made By Dyslexia, apenas 3% das pessoas o veem como vantagem de alguma forma.
Em contrapartida, psicólogos descobriram que há quatro vezes mais chance das pessoas que se tornaram milionárias sozinhas terem dislexia. Em outra pesquisa realizada com 300 milionários do Reino Unido, em 2003, mostrou que 40% deles também têm dislexia.
O nome do transtorno é um termo derivado da palavra “difícil” em alemão e “falar” em latim. Afeta, principalmente, habilidades envolvidas nas atividades de leitura, escrita e soletração.
Para Branson, a dislexia impulsiona seu pensamento criativo. “Não é uma desvantagem, e eu acho que sou um estudo de caso bastante preciso”, diz ele.
E é exatamente isso que os especialistas consideram: os disléxicos, que tendem a não ser bons com detalhes, aprendem a se sobressair ao captar facilmente o grande cenário das situações e têm mais facilidade em produzir ideias originais.
Mesmo que o fundador do Virgin hoje veja com clareza os benefícios – e advoque em prol de mais clareza da sociedade acerca do transtorno e mais confiança por parte dos que sofrem dele – nem sempre foi assim.
“Por muitos anos, achei que era um caso sem esperança. Mesmo quando fiz um teste de QI, as perguntas pareciam absurdas. Mas quando saí da escola e me libertei das práticas de ensino arcaicas e dos equívocos dos outros, minha mente e meu mundo se abriram”.
Se na escola, o transtorno parecia uma grande inconveniência, bastante prejudicial para seu desempenho, quando abriu seu negócio, Branson percebeu exatamente o contrário.
“Quando meus amigos e eu começamos a desenvolver a marca Virgin, eu tive que reconhecer minhas fraquezas e mostrar minhas forças, como qualquer líder de negócios. Eu já era um ouvinte melhor do que a maioria, mas nos negócios, as pessoas tendem a usar jargões complexos. Como preciso que os conceitos sejam simples e diretos para compreendê-los, todos em nossa equipe começaram a evitar a complexidade e o jargão. Minha dislexia nos ajudou a tornar eficientes todas as comunicações em toda a empresa”, explica o empresário.
Como consequência, ele afirma que a Virgin desenvolveu uma maneira direta e simples de tomar decisões que se tornou parte da cultura.
Não só sua necessidade (e habilidade) de simplificar ajudaram a delinear a cultura organizacional do que viria a ser o grupo Virgin, outras consequências da dislexia tiveram papel importante na sua atuação como líder.
“Minha dislexia também me ensinou a importância de delegar. Muitos empresários querem controlar todas as decisões e fazer tudo sozinhos. Havia aspectos do trabalho que eu sabia que nunca seria excelente fazendo, então encontrei as melhores pessoas que pude e deleguei essas tarefas a elas. Como diz o ditado, a fim de crescer, você tem que ser capaz de soltar.”
Este artigo foi originalmente publicado pelo Na Prática, portal da Fundação Estudar