Celular corporativo (AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de maio de 2014 às 09h08.
O direito dos funcionários de desconectarem seus celulares e notebooks ao fim da jornada de trabalho ganha cada vez mais força em países como a Alemanha e a França, onde aumentam as iniciativas para proteger a vida privada.
Nos últimos três ou quatro anos, vários pesos pesados da indústria alemã decidiram limitar o acesso de seus executivos aos correios eletrônicos fora da hora de trabalho.
Essas medidas são uma reação ao aumento alarmante na incidência de transtornos psicológicos relacionados ao trabalho causados, principalmente, pelo volume de comunicações e informações.
"À medida que o trabalho penetra cada vez mais na esfera privada, os empregados sofrem mais estresse, mais 'burn out' [esgotamento] e incapacidade de se desconectar", constata um relatório que reúne 23 estudos internacionais compilados pelo Escritório para a Segurança e a Saúde no Trabalho da Alemanha (BAuA, nas siglas em alemão).
O trabalho à distância pode ser ideal se satisfizer o desejo dos executivos de ter maior flexibilidade, enfatiza Frank Brenscheidt, que conduz a questão no BAuA.
"Mas quando se conectar em casa significa pressões permanentes e um excesso de horas extras, isso pode deixar alguns trabalhadores doentes", acrescenta.
Na Alemanha, os dias de falta por problemas de saúde, como transtornos psicológicos, aumentaram mais de 40% entre 2008 e 2011, de acordo com outro estudo da BAuA.
Há três anos, por iniciativa do poderoso sindicato IG Metall, a fabricante de veículos Volkswagen decretou uma trégua diária no envio de e-mails para os celulares de trabalho.
Os empregados da empresa já não enviam mensagens entre as 18H15 e 07h00. A medida, que inicialmente destinava-se a cerca de mil empregados, foi ampliada a 5.000 do total de 255.000 que o grupo tem na Alemanha.
Sua concorrente BMW escolheu outro caminho.
"Estamos conscientes de que é preciso impor limites entre o trabalho e a vida privada, mas não queremos regras rígidas que limitem as vantagens do trabalho flexível", afirmou à AFP Jochen Frey, porta-voz da direção do pessoal.
Desde o começo do ano passado, mais de 30.000 empregados do grupo têm autorização de trabalhar fora das dependências da empresa em horários especiais.
Se alguém passa uma hora respondendo a e-mails durante o fim de semana, por exemplo, pode contabilizar como hora extra. "Isso supõe confiança e diálogo entre os funcionários e seus chefes", explica Frey.
A Daimler, fabricante que pertence à Mercedes-Benz, lançou no Natal um "assistente de ausência", que apaga as mensagens que chegam ao correio eletrônico dos funcionários, se assim desejarem durante seu período de descanso.
O sistema notifica o emissor da mensagem sobre a desconexão e orienta para quem a mensagem pode ser enviada no lugar do destinatário original.
Em 2010, a direção da Deutsche Telekom se comprometeu a não pedir disponibilidade contínua a seus funcionários, como aconteceu na França com a operadora France Telecom (agora Orange).
Na França, um acordo setorial garante o "direito de se desconectar" dos executivos de empresas digitais que trabalham sem horário fixo, o que virou motivo de piada nos países anglo-saxões, onde ser "workaholic" (viciado em trabalho) é considerado uma virtude.
A normas, que fazem referência à obrigação de respeitar o direito ao repouso, foram elogiadas pelos sindicatos, que, no entanto, não acreditam que será aplicada seriamente, segundo um de seus dirigentes.
Para o IG Metall, o maior sindicato da Europa, os avanços obtidos em algumas empresas são insuficientes, e é preciso rediscutir a legislação.
A organização está negociando com o Ministério alemão do Trabalho, que, em 2013, estabeleceu um acordo para que seus colaboradores não sejam perturbados durante o tempo livre, salvo em "casos excepcionais justificados".