Bandeira LGBT (MarcBruxelle/Getty Images)
Nesta terça-feira, 28, é comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, data que tem como objetivo principal combater a LGBTfobia na sociedade. E ainda há uma longa estrada a percorrer quando falamos em criar ambientes livres de preconceito, principalmente no mundo corporativo.
Segundo um estudo da ONG americana OutNow, publicado em 2017, o Brasil é campeão quando o assunto é homofobia no ambiente de trabalho, com 68% dos profissionais que são LGBTQIA+ tendo passado por situações de preconceito.
Felizmente, conforme avança o debate sobre a importância da diversidade nas organizações, esse cenário começa a mudar. Ainda segundo o mesmo estudo da OutNow, um em cada três gestores homossexuais do Brasil já não sente medo de esconder sua orientação para líderes e pares.
Oferecer um ambiente livre de preconceitos não é importante apenas para os profissionais, mas também para as empresas. A OutNow estima que, com base em produtividade, turnover e processos trabalhistas, a LGBTQIfobia custe R$ 405 milhões de dólares para a economia brasileira.
Por outro lado, um estudo feito pela Wisconsin LGBT Chamber of Commerce e conduzido por pesquisadores da Marquette University, nos Estados Unidos, apontou que companhias com pessoas LGBTQIA+ em cargos de alto escalão têm uma performance 61% maior em comparação a empresas sem profissionais de diferentes orientações sexuais.
A plataforma de inovação Distrito acredita na importância de ampliar os espaços de diversidade em seu próprio negócio. O grupo contratou a mulher trans Isabella de Ávila para assumir o cargo de especialista em Diversidade e Inclusão. Mas Isabella admite que isso ainda é algo raro de acontecer no mercado de trabalho.
“Sou uma exceção à regra da sociedade. Estamos em um país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo e eu sou uma sobrevivente que acredita que podemos transformar a realidade de muitas pessoas como eu”, diz Isabella.
Rayane de Assis Rosa da Silva, de 34 anos, é um exemplo disso. Mulher transexual, a profissional conseguiu o primeiro emprego com carteira assinada em 2021, como operadora de um centro de distribuição do Assaí, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
"Eu enviei currículo para várias empresas. Só que, nas entrevistas, quando olhavam o meu currículo e a minha pessoa, era sempre a mesma coisa: eles falavam que iriam entrar em contato, o que nunca acontecia”, diz Rayane.
Com 23 dias de trabalho na companhia, Rayane foi efetivada e, neste mês, promovida para o cargo de repositora no Assaí.
“Mantive meu foco e comprometimento quando comecei a trabalhar no Assaí, porque eu sabia que estava sendo vista e poderia crescer na empresa. Ser reconhecida e promovida agora é prova disso. No âmbito de logística e operacional, já ganhei gratificações e fui destaque, algo que muitas pessoas falavam que eu não conseguiria", completa.
Líderes LGBTQIA+ nas companhias também ajudam a impulsionar a diversidade nas organizações, contribuindo para sensibilizar o time sobre o tema e avançar em agendas de inclusão. Esse é o caso da Voxus, startup de mídia programática que tem Alexandre Leoncio no comando da área de Parceria e Novos Negócios da empresa.
"Sou um homem gay cisgenero, casado há 8 anos e o primeiro futuro papai na Voxus. Assumi a cadeira de gestão na companhia e, desde o processo seletivo, venho puxando o tema da diversidade para nossas discussões com a necessidade de investir nessa frente dentro da empresa e fomentar a inclusão de LGBTQIA+", diz Alexandre.
Isabella de Ávila acredita que todas essas mudanças precisam representar apenas o primeiro passo. “Temos que identificar nossos vieses inconscientes enraizados e começar uma transformação pessoal, acreditando na resiliência, respeito ao próximo e inclusão de pessoas diversas em nosso cotidiano”, endossa.
“A Voxus é uma empresa que me permite e me estimula a ser quem sou, além de se preocupar com a diversidade e o seu papel social. Em nossas reuniões eu falo claramente sobre minha vida particular, sobre meu marido, sobre nosso sonho em ter filhos, inclusive sobre o processo de adoção", diz Alexandre.
Apesar dos recentes avanços no mercado de trabalho para a comunidade LGBTQIA+, Thiago Veras, diretor de Recursos Humanos no grupo Empiricus, ressalta que ainda é preciso evoluir na ampliação da diversidade e inclusão nas empresas.
"Doze anos depois de me assumir gay, em uma jornada de autoconhecimento profundo, percebo que muitas organizações ainda não criaram as condições necessárias para que as pessoas se sintam seguras – psicologicamente e emocionalmente – em seus espaços de trabalho", comenta Veras.
"Quando decidi tornar pública a minha orientação sexual, incluindo o trabalho, encontrei naquela organização um espaço de muito respeito e acolhimento. E é exatamente esse tipo de ambiente que precisamos construir para as nossas equipes. Respeito às liberdades individuais deveria ser o lema de todas as empresas. É isso que buscamos na Empiricus", diz.
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