A procrastinação não envolve só má administração de tempo, mas também fenômenos comportamentais, afetivos e cognitivos (Thinkstock/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 8 de abril de 2021 às 07h00.
Última atualização em 8 de abril de 2021 às 10h20.
“Um ciclo tenso e sem fim.” É assim que a produtora de conteúdo Ana Flávia Silva, 32, resume a vivência de alguém procrastinador. Lutando contra o hábito, a curitibana reconhece ser comum esticar prazos, deixar de lado o que é mais complicado de resolver e, como consequência, prejudicar outros compromissos pessoais e profissionais. “Não sei explicar por que acontece, é imperceptível e subconsciente”, relata.
Criadora de um site que reúne boas notícias e histórias, Silva admite que o projeto poderia ter resultados bem mais promissores se, desde o começo, tivesse tido mais disciplina com as tarefas diárias. Ela conta que o hábito de deixar tudo para depois funciona como um gatilho para a autossabotagem e que é comum viver com a sensação de que poderia fazer melhor.
Situações como essa são comuns. Mas diferente do que costuma se pensar, a procrastinação, não se apresenta apenas como um componente de uma má administração de tempo. “Ela envolve fatores que também estão relacionados a fenômenos comportamentais, afetivos e cognitivos”, explica a especialista Vivian Rio Stella.
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Isso significa que, para muitas pessoas, existe a compreensão de que uma tarefa pode ser adiada até sua data limite e, mesmo assim, ser bem executada, com resultados positivos. Quando isso acontece, uma nova armadilha se cria, pois a pessoa fica com sensações agradáveis de capacidade de realização e eficácia - e acaba se esquecendo dos problemas causados ao deixar tudo para a última hora.
Stella indica que há quatro variáveis que fundamentam a procrastinação: o estresse, a depressão, o contentamento e o nível de desempenho de cada indivíduo. Por outro lado, também existe uma estrutura multidimensional que define a procrastinação em sua forma ativa. Esses fatores são entendidos como preferência por pressão (PPP), decisão intencional (DI), habilidade em cumprir prazos (HCP) e satisfação com os resultados (SCR).
Mesmo apresentando estímulos atraentes à mente em um primeiro momento, a procrastinação pode ser uma armadilha para quem não tem o mínimo controle de suas ações. Sem autoconhecimento e autogestão de tempo, o procrastinador que adia ou não responde mensagens, não lê e-mails, atrasa entregas ou termina grandes projetos sempre em cima do prazo, pode se perder pelo caminho e não ter a chance de refazer a rota.
O ato de procrastinar não é, por si só, de todo mal. Como todo comportamento, carrega benefícios e malefícios à convivência humana em todas as esferas. Mesmo não sendo um hábito incentivado pelos especialistas, é importante ter em mente que o completo oposto - aquela produção que mais se assemelha à de uma máquina - não é a única alternativa adequada ao mercado de trabalho e à vida.
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Desfrutar de pausas ao longo do dia e dispor de momentos de lazer ou de relaxamento em detrimento de produzir a todo custo e a todo momento têm seu valor e são fundamentais para a manutenção do bem-estar físico e mental, e da qualidade de vida. A busca por um equilíbrio entre os momentos de pausa e de alta performance é um dos elementos tratados no curso Gestão do Tempo e Produtividade, recém-lançado pela Exame Academy.
Os intervalos programados durante o trabalho são importantes para a preservação do ócio criativo e não significam procrastinar. “Busque realizar pausas no dia, testar formas e posições diferentes de trabalhar, e ter momentos para renovar o ar antes de retomar às atividades habituais”, sugere Flávio Ludgero, fundador da Officeless, empresa que presta consultoria para times que queiram se adaptar ao trabalho remoto.
É comum, depois da adesão forçada do home office - até então, impensado por boa parte das empresas brasileiras - escutar reclamações de alguns grupos específicos sobre a dificuldade de se adaptar ao modelo de trabalho remoto.
Em casa, é verdade, se tornou mais difícil desvencilhar a vida pessoal da profissional. Hoje não basta mais abaixar a tela do computador para se desconectar do trabalho e das atribuições; É preciso disciplina redobrada para cumprir as tarefas do escritório, sem abrir mão da qualidade de vida.
Para Ludgero, que é um dos professores no curso Gestão do Tempo e Produtividade, cabe às lideranças o exercício diário de, na responsabilidade de gerir times em home office, cuidar das agendas dos liderados para garantir produtividade e evitar procrastinação. “É preciso conscientizar os gestores a serem guardiões e cuidadores do tempo de seus colaboradores”, recomenda.
Vivendo o trabalho remoto em suas condições mais extremas, esse olhar cuidadoso pode evitar o aumento desmedido da ansiedade que, por sua vez, é capaz de frear danos complexos, como depressão ou síndrome do pânico.
O primeiro passo para vencer a procrastinação é ter clareza do objetivo a ser alcançado e o motivo de querê-lo. Depois, é necessário identificar quais são as dificuldades enfrentadas para chegar até ele. “Geralmente, os motivos envolvem questões relacionadas a planejamento, como organização de tempo, disponibilidade de dinheiro e outros recursos, foco, motivação, dentre outros”, avalia Rodolfo Ribeiro, fundador e CEO da 7Waves, plataforma de gestão de objetivos.
O executivo explica que, conhecendo de perto as razões, fica muito mais fácil criar uma estratégia para vencer e superar a procrastinação.
A consumação de um determinado objetivo, na maior parte das vezes, leva tempo e demanda esforço em cada etapa proposta. Contudo, esse processo rumo às metas não é tão prazeroso quanto a conquista em si, fazendo com que as pessoas se sintam desmotivadas ao longo do caminho.
Tendo consciência sobre as adversidades do processo, é necessário saber a hora de parar, refletir e corrigir a rota. Ribeiro afirma que a capacitação sobre planejamento de objetivos e metas torna o percurso mais acessível e menos complicado.
“Desdobrar um objetivo em pequenas metas é de suma importância para perceber o progresso contínuo e comemorar cada etapa da conquista. Ter uma meta compartilhada com outras pessoas também ajuda no comprometimento, funcionando como um estímulo externo, pois a vergonha de não conquistar algo pode ser maior do que a preguiça de deixar para depois”, reflete.
Colocando alguma dessas estratégias em prática, e com acompanhamento psicológico, Silva tem dado passos largos na corrida contra a procrastinação. O hábito de listar atividades por prioridade e depois riscar da agenda aquelas cumpridas tem feito a diferença nesse sentido.
Ela também atribui à ansiedade a sua procrastinação. Ficar pensando no futuro, querer chegar a um desfecho de uma vez, e esquecer que a jornada é feita passo a passo faz as pessoas se perderem e se desviarem, tornando a trajetória muito mais lenta. “Infelizmente ainda sou procrastinadora, mas vivo uma luta constante para deixar de ser”.